O conflito no Médio Oriente, o maior desafio de segurança actual, salientou o Secretário
Geral da ONU Kofi Annan no seu discurso de despedida na Assembleia Geral.
O secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, lançou ontem um apelo à comunidade
mundial para que ponha fim ao conflito no Médio Oriente, no seu discurso de despedida
na Assembleia Geral das Nações Unidas. Dirigindo-se às delegações dos 192 Estados-membros
na abertura do debate anual da Assembleia, Annan, que abandona o cargo no final de
Dezembro após dez anos à frente da organização mundial, designou o conflito do Médio
Oriente como o maior desafio de segurança actual. "Nenhum outro conflito contém uma
tal carga simbólica e emocional entre pessoas por vezes muito afastadas do campo de
batalha", declarou. "Enquanto os palestinianos viverem sob ocupação, expostos
a frustrações e humilhações quotidianas, e enquanto os israelitas forem destroçados
por bombas em autocarros ou em salões de dança, as paixões permanecerão inflamadas
por todo o lado", acrescentou Annan. Advertiu que, caso o Conselho de Segurança
da ONU não consiga pôr fim a este conflito de perto de 60 anos, isso "coloca em causa
a credibilidade e o respeito" pela ONU e fará com que "seja posta em causa a sua imparcialidade". Recebido
com aplausos mornos, George W. Bush desafiou os líderes mundiais a fazerem mais pela
democracia no Médio Oriente e usou palavras contra o regime iraniano, acusando-o de
apoiar o terrorismo e procurar armas nucleares. O presidente norte-americano defendeu
a sua visão de Médio Oriente liderado pelas forças moderadas e "onde os extremistas
ficarão marginalizados". Essa visão, afirmou, materializar-se-á mediante o apoio da
comunidade internacional aos processos democráticos como os incipientes que vivem
o Afeganistão, Líbano ou Iraque. Aproveitou ainda para enviar uma mensagem de
calma ao mundo muçulmano e assegurou que os EUA, "apesar do que dizem os extremistas",
não se encontra em guerra contra o Islão. "Respeitamos o Islão", insistiu , tentando
antecipar-se, assim, ao discurso que o Presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, se
preparava para fazer no mesmo palco, três horas depois. O tempo suficiente para que
não houvesse qualquer possibilidade de eles se cruzarem nos corredores da Assembleia
Geral, por onde desfilaram também ontem os líderes do Brasil, África do Sul, Paquistão,
Finlândia França e Sudão, num total de 17 chefes de Estado ou de Governo. Incluindo
o primeiro-ministro tailandês, que antecipou o seu discurso, trocando com o representante
de Montenegro, de forma a poder regressar a Banguecoque, que ontem foi abalada por
um golpe de Estado perpetrado pelos militares.