Pressão sobre Cartum, devido á degradação da situação humanitária e de segurança em
Darfur
A pressão sobre o regime de Cartum para que aceite o envio de 'capacetes azuis' para
a região sudanesa de Darfur, com o fim de render a missão da União Africana (UA),
cujo mandato termina no final deste mês, está a crescer, e já não se circunscreve
às potências e cidadãos ocidentais, mas também a países africanos e islâmicos e, inclusivamente,
a vozes dentro do próprio regime. Porque o tempo urge, e amanhã haverá uma reunião
da UA para decidir da sua continuação, ou não, no terreno. O vice-presidente sudanês,
Salva Kiir, demarcou-se ontem claramente da posição do chefe de Estado, Omar el-Béchir,
que recusa qualquer contingente da ONU no território de Darfur, decidido pelo Conselho
de Segurança da ONU, através da resolução 1706, a 31 de Agosto "A degradação da situação
humanitária e de segurança em Darfur precisa de uma intervenção de forças internacionais
capazes de proteger os civis das atrocidades das milícias árabes janjaweed (pró-governamentais)
enquanto o Governo não for capaz, ele próprio, de o garantir", disse o antigo líder
do grupo rebelde do sul, o movimento Popular de Libertação do Sudão.A perspectiva
é perfilhada por vários países, organizações e cidadãos por todo o Mundo, que ontem
assistiu a manifestações em quase meia centena de cidades com activistas a pressionarem
Cartum, repetindo apelos de Washington, Paris, Londres e Bruxelas, entre outros centros
de poder.No entanto, o regime sudanês desvalorizou os apelos, afirmando que os participantes
tinham sido enganados pelos media ocidentais que têm denunciado as atrocidades no
terreno que já mataram, segundo a ONU, cerca de 300 mil pessoas e provocaram 2,5 milhões
de deslocados. Cartum recusa a resolução 1706 que prevê a passagem dos efectivos da
Missão da ONU no Sudão (Minus) de 12273 homens, actualmente no sul do país, para 17300
soldados e 3300 polícias em substituição dos 7000 efectivos da UA. Para Cartum, seria
uma violação da soberania.Mas, para observadores, o regime teme que a missão da ONU
seja uma frente para derrubar o Governo de orientação islâmica . O líder da al-Qaeda,
Bin Laden, que tem aliados nas elites sudanesas, já considerou Darfur, aliás, um campo
de batalha.