Uma reacção destemperada: sublinhou D. Carlos Azevedo, secretário da conferencia episcopal
portuguesa em relação á polémica sobre o discurso de Bento XVI.
Muitos líderes islâmicos reagiram mal a alguns trechos do discurso de Bento XVI na
Universidade de Regensburg, no qual abordou a questão da fé, razão e violência e
exigem um pedido de desculpas. Depois de ler o discurso na íntegra, D. Carlos Azevedo,
Secretário da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), disse à Agência ECCLESIA que
a informação “é selectiva e muitas vezes fora do contexto”. Bento XVI usou - para
desenvolver o seu raciocínio - uma edição de Theodore Khoury do diálogo entre o imperador
bizantino – Manuel II Paleológo, do século XIV – e um persa culto que tinha conhecimentos
do cristianismo e o islão. “Neste diálogo vem a tal afirmação que é a base de toda
a polémica” – sublinhou. No sétimo colóquio do conjunto de diálogos - trata da
Jihad (Guerra Santa) – o imperador afirma: «Mostre-me o que Maomé trouxe de novo,
e lá encontrará apenas coisas más e desumanas, como a sua orientação de espalhar pela
espada a fé que ele pregava». Ao fazer esta referência, Bento XVI previne - antes
de citar o imperador – que tal afirmação foi feita “com uma rispidez surpreendente”.
Depois de utilizar esta citação, Bento XVI explica “minuciosamente as razões porque
a difusão da fé através da violência é irracional” – disse o secretário da CEP. Para
cativar os ouvintes, o Papa pede para que “a fé nunca seja sustentáculo para a violência”
– disse D. Carlos Azevedo. Apesar das relações entre o Ocidente e o mundo islâmico
serem tensas, para D. Carlos Azevedo o tema reflectido - «Fé, razão e a Universidade.
Memórias e reflexões» “não é surpreendente” porque “recentemente a Faculdade de Teologia
da UCP também abordou a mesma temática da relação entre religião e violência”. E acrescenta:
“a fé tem que ser capaz de encontrar uma relação com a razão”. Alguns pensadores salientam
mesmo que o “Islão não passou pelo crivo de um pensamento” – referiu D. Carlos Azevedo.
O diálogo que o islão é chamado a ter com o pensamento contemporâneo “é fundamental
para ele encontrar a sua própria medida”. Quem divulgou a comunicação passou-a
“um pouco deturpada” mas “isso é próprio da comunicação social que não pode dar o
discurso na sua totalidade” – frisou o secretário da CEP. E completa: “a reacção criada
é destemperada”. Durante a sua estadia na Alemanha, Bento XVI realçou também em várias
intervenções que a “Europa estava esquecida da questão de Deus” enquanto que no Oriente
havia uma “maior consciência do sagrado e de Deus”.