2006-08-23 17:39:24

LIVRO DESTACA PAPEL DA IGREJA CATÓLICA NA GUERRA CIVIL PERUANA


Lima, 23 ago (RV) - Representantes da Igreja Católica no Peru atuaram de maneira destacada na defesa dos direitos humanos, durante a guerra civil que envolveu o país, de 1980 a 2000. É o que afirma o livro "Ser Iglesia en tiempos de violencia" (Ser Igreja em tempos de violência), apresentado ontem.

O texto narra histórias compiladas nos estados (departamentos) de Puno, Cuzco, Junín, Lima e Pucallpa. Seus autores são intelectuales como Cecilia Tovar, Pilar Coll, Elisabeth Acha, Alvaro Calado, Luis Mujica, Lupe Jara, Ana María Guerrero y Pedro Hughes.

Seus protagonistas são pessoas de escassos recursos que, graças à liderança dos representantes da Igreja Católica, responderam à violência, criando grupos de defesa dos direitos humanos e se organizando contra os grupos terroristas.

A diretora do Instituto Bartolomeu de las Casas, Rosa Alayza, disse à agência de notícias espanhola _ EFE _ que a obra tem como objetivo "divulgar as experiências positivas, nas regiões onde a violência terrorista foi intensa, e onde, à chegada da repressão estatal, se viu a vontade da Igreja de ajudar, o que, em alguns casos, impediu a penetração senderista" (Sendero Luminoso n.d.r.).

Rosa Alayza afirmou que a intenção do livro não é apontar o dedo contra "os bons e os maus da história", ainda que _ sublinhou _ "embora o livro indique claramente que, na Igreja, haja diversas visões em temas de direitos humanos, isso não significa, necessariamente, viver um confronto contínuo".

No texto, se afirma que houve setores da Igreja Católica que "se opuseram à defesa dos direitos humanos... tolerando as violações de tais direitos e avalizando (ou não questionando) os governos e as autoridades que as perpetraram".

O livro sublinha que "a evangelização e a promoção humana estão intimamente ligadas e que, portanto, a Igreja não pode se omitir no que concerne àqueles que atentam contra as vidas das pessoas, em situações concretas de violência".

Justamente por esse motivo, o livro deixa de lado as experiências negativas que, segundo a Comissão de Verdade e Reconciliação, ocorreram nos estados de Huancavelica, Apurímac e Ayacucho, onde alguns membros da hierarquia católica foram acusados de não terem cumprido com seu "compromisso pastoral".

O então bispo de Ayacucho e hoje cardeal-arcebispo de Lima, Juan Luis Cipriani Thorne, é um dos principais críticos do trabalho desempenhado pela Comissão de Verdade e Reconciliação.

No livro se afirma que "nos piores momentos da violência, os sacerdotes se colocaram do lado dos setores mais pobres da sociedade e sua presença foi um escudo contra os maiores abusos perpetrados contra a população".

Além disso, os organismos patrocinados pela Igreja deram seguimento aos casos de desaparecimentos e de torturas, angariando assim, para a instituição, uma situação de permanente conflito com o Estado, que protegia as forças armadas, as quais também colaboraram para deter a penetração da guerrilha nas áreas rurais.

Na guerra civil desencadeada pelo Sendero Luminoso e pelo Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA), as forças armadas peruanas perpetraram numerosas violações dos direitos humanos, segundo o relatório conclusivo da Comissão de Verdade e Reconciliação, que fala de 69 mil vítimas.

Diversamente do que ocorreu em outros conflitos internos na América Latina, a Comissão de Verdade e Reconciliação aponta o Sendero Luminoso como o principal responsável pela maior parte dos crimes cometidos durante a luta armada. (AF)







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