Genebra, 17 ago (RV) - Hans Küng, teólogo suíço que sofreu a imposição do silêncio
obsequioso, durante o pontificado de João Paulo II, lança seu olhar crítico sobre
Freud e suas concepções sobre a religião. Lançado pela Verus Editora, o livro "Freud
e a questão da religião" propõe um diálogo saudável e necessário entre a psicanálise
e a religião.
Cento e cinqüenta anos após seu nascimento, Freud continua alimentando
filmes, livros e discussões sobre repressão, inconsciente, convívio social e familiar.
O médico, filho de pais judeus, inovou, escolhendo como foco de sua pesquisa uma área,
até então, inexplorada da mente humana, o inconsciente.
Muitos foram os campos
estudados pelo Dr. Sigmund Freud, sempre tentando entender o inconsciente humano.
Mas e a questão da religião? Qual o posicionamento do cientista em relação ao fenômeno
que é capaz de mover milhões de pessoas em todo o mundo? Qual a lição de Freud _ um
ateu, apesar de ter sido criado dentro das leis judaicas _ a respeito da questão religiosa?
Küng
esclarece essas indagações e estabelece um fio condutor de colaboração mútua entre
a psicanálise e a religião. No livro, o autor aponta o posicionamento de Freud em
relação à religião e também compara as teorias do pai da psicanálise com as de outros
teóricos, como Jung e Adler.
O teólogo destrincha os argumentos que Freud utiliza
contra a religião, mostrando que eles são teologicamente infundados. Discute, por
exemplo, que o ateísmo é uma forma de repressão e a fé em Deus, na qual Freud fora
criado e que negava possuir, não havia desaparecido e sim havia sido substituída por
outro tipo de fé: a fé na ciência.
Hans Küng, nascido na Suíça em 1928, é sacerdote
católico romano desde 1954. Foi professor na Universidade de Tübingen (1960-1996),
onde também dirigiu o Instituto de Pesquisa Ecumênica. Desempenhou um papel central
na redação do documento final do Concílio Vaticano II (1962-1965), do qual foi consultor
teológico. Marcou presença na Igreja, questionando doutrinas tradicionais e a infalibilidade
papal.
Proibido, desde 1979, pela Santa Sé, de atuar como teólogo católico,
foi alvo de debate internacional. Nunca, porém, deixou de se dedicar à união dos povos,
das raças e das religiões.
Atualmente, mantém boas relações com a Igreja, tendo
celebrado, em 10 de outubro de 2004, o 50º aniversário de sua ordenação sacerdotal.
Hans Küng _ um dos maiores teólogos cristãos do nosso tempo _ é também autor de numerosas
obras. (MZ)