OS APELOS DOS PAPAS PELA PAZ NO MUNDO: DE BENTO XV ATÉ HOJE, UM SÉCULO MARCADO PELAS
GUERRAS
Cidade do Vaticano, 10 ago (RV) - Substituir as armas, dando lugar à boa vontade,
à confiança e ao respeito aos acordos: ontem, na tradicional Audiência Geral das quartas-feiras,
Bento XVI fez um novo e premente apelo em favor da paz no Oriente Médio. O Papa citou
dois de seus predecessores _ Paulo VI e João Paulo II _ que elevaram suas vozes em
defesa dos povos inocentes, arrastados pelas guerras. Como eles, todos os pontífices
do último século foram promotores de paz e de diálogo.
Onde quer que uma guerra
tenha ceifado vidas humanas, mortificado esperanças, os papas deram voz a quem não
a tinha. No século XX, que conheceu as guerras mais sangrentas da história do homem,
e neste início de terceiro milênio tão dramaticamente marcado pela violência, os pontífices
foram testemunhas de paz e promotores de diálogo entre os povos e as religiões.
No
alvorecer do século passado, a Europa foi abalada pelo fragor dos canhões. No verão
de 1914, justamente quando as armas faziam as primeiras vítimas, o Cardeal Giaccomo
Della Chiesa foi eleito Papa, com o nome de Bento XV. Era uma hora dramática para
a humanidade.
Bento XV redigiu, imediatamente, uma exortação apostólica "a
todos os católicos do mundo". "Encheu-nos o ânimo de horror e de amargura" _ escreveu
ele na "Ubi Primum" _ constatar "grande parte da Europa devastada pelo ferro e pelo
fogo, vermelha pelo sangue dos cristãos".
Rezemos e "supliquemos vivamente
_ acrescentou Bento XV, em sua exortação apostólica _ àqueles que regem as sortes
dos povos, para que deixem de lado seus dissídios, no interesse da sociedade humana".
Três
anos depois, ar armas ainda não haviam se calado. Bento XV não renunciou a seu propósito
e, no dia 1º de agosto de 1917, enviou aos chefes dos Estados beligerantes, a exortação
apostólica "Dès le début", na qual indicava soluções voltadas a fazer cessar o que
ele definia como a "inútil tragédia".
Como Papa, também Pacelli _ Pio XII _
teve que afrontar a imane tragédia de um conflito em escala mundial, até mesmo mais
sangrento do que o concluído em 1918. Pio XII fez uso da Rádio Vaticano, instituída
8 anos antes por Pio XI, para fazer chegar a todos os povos, seu veemente apelo. Era
o dia 24 de agosto de 1939: "Uma hora grave pesa novamente sobre a grande família
humana, hora de temíveis deliberações (…) O perigo é iminente, mas ainda é tempo.
Nada se perde com a paz. Com a guerra tudo se pode perder."
O
nome de João XXIII está inseparavelmente ligado à paz. Com a encíclica "Pacem in terris",
colocou um marco no caminho da convivência pacífica entre os povos.
O Papa
Bom, João XXIII, dirigiu-se _ pela primeira vez _ não somente aos católicos, mas a
"todos os homens de boa vontade". Desde a primeira página da encíclica de sua encíclica,
o Pontífice indica os quatro pilares da paz entre os povos: verdade, justiça, amor
e liberdade.
Publicada poucos meses após a crise de Cuba, que levou a humanidade
à beira da III Guerra Mundial, a "acem in terris" pede, com vigor, que "se proíbam
todas as armas nucleares; e se chegue finalmente ao desarmamento integrado por controles
eficazes".
E acrescenta: "É quase impossível pensar que, na era atômica, a
guerra possa ser utilizada como instrumento de justiça."
Dois anos mais tarde,
no dia 4 de outubro de 1965, ecoam com intensidade as palavras de Paulo VI, na sede
das NN.UU., em Nova York, quase um hino à paz: "Nunca mais a guerra, nunca mais
a guerra! A paz deve guiar as sortes dos povos e de toda a humanidade."
Naquele
histórico discurso na sede da ONU, diante dos governantes das nações, o Papa Montini
ressalta que, para construir a paz, é preciso empenhar-se sobretudo pelo desarmamento.
"Se quiserem ser irmãos _ foi a exortação de Paulo VI _ deixem cair as armas de suas
mãos."
João Paulo II foi um incansável apóstolo da paz. Ao longo de seu pontificado,
fez-se próximo aos povos que sofrem por causa das guerras. O Papa polonês, que viveu
em primeira pessoa o horror da II Guerra Mundial, consagrou à paz os dias de oração
realizados em Assis.
Foram comoventes e inesquecíveis os seus apelos pela paz
na Terra Santa e nos Bálcãs. E pela paz em tantos países africanos, atormentados por
guerras esquecidas. Sua mensagem "Urbi et orbi" do Natal de 1990, às vésperas da primeira
guerra do Golfo Pérsico, tornou-se profética: "Com apreensão, esperamos o desfazer-se
da ameaça das armas no Golfo. Os responsáveis se convençam de que a guerra é aventura
sem retorno! Com a razão, com a paciência e com o diálogo, e no respeito pelos direitos
inalienáveis dos povos, é possível identificar e percorrer as estradas do entendimento
e da paz."
Assim
como seu amado predecessor, também Bento XVI, desde os primeiros passos de seu pontificado,
indica o diálogo entre as nações como um compromisso irrenunciável rumo à paz.
"Na
verdade, a paz" _ escreve em sua primeira mensagem para o Dia Mundial da Paz, instituído
por Paulo VI. Reiteradas vezes, faz apelos em favor dos fim da violência no Iraque
e, nos nossos dias, pelo cessar-fogo imediato no Líbano.
Na Audiência Geral
do dia 2 do corrente, Bento XVI resumiu deste modo, seu pensamento sobre a desumanidade
da guerra:"Desejo repetir que nada pode justificar o derramamento de
sangue inocente, de onde quer que venha! Com o coração cheio de aflição, renovo mais
uma vez um premente apelo pela imediata cessação de todas as hostilidades e de todas
as violências!" (RL)