Eleições na Republica Democrática do Congo, um país a braços com o fenomeno da violência,com
a fome e o sofrimento, e onde falta vontade politica,nacional e internacional para
acabar com o calvário da população
Dezenas de mesas de voto foram reabertas nesta segunda feira, estendendo uma votação
que só deveria ter tido lugar ontem, na República Democrática do Congo. Em causa estiveram
as mesas de voto de uma zona controlada por um político congolês que ontem impôs um
boicote na cidade mineira de diamantes de Mbuji-Mayi. Os eleitores tiveram assim
nova oportunidade de votar, depois de ontem não terem sido autorizados a fazê-lo devido
à violência que rodeou a zona. Ontem foi um dia histórico na República Democrática
do Congo, onde pela primeira vez em mais de 40 anos se realizou a votação para eleger
o parlamento e o Presidente, manchado apenas por incidentes em Mweka, no sul do país,
onde todas as mesas de voto foram destruídas e os observadores internacionais foram
alvo de provocações. Em Mbuji-Mayi, no centro, onde um “cocktail Molotov” foi lançado
numa mesa de voto, fazendo três feridos.
Na origem destes actos estão
partidos políticos que se opõem às eleições e que acusam a comissão eleitoral independente
do país de "irregularidades", nomeadamente da existência de boletins de voto a mais
e do desaparecimento de eleitores de listas dos respectivos cadernos eleitorais.
Os
manifestantes acusaram ainda a comunidade internacional, nomeadamente a União Europeia,
de beneficiar o actual Presidente e candidato Joseph Cabila, que é Presidente desde
2001.
Hoje, com segurança reforçada, as autoridades reabriram 172 mesas
de voto em Mbuji-Mayi, onde os manifestantes, alegadamente apoiantes do político veterano
Etienne Tshisekedi, incendiaram as mesas e material usado no escrutínio, segundo um
responsáveis eleitorais, Hubert Tisuaka.
Etienne Tshisekedi desencorajou
o recenseamento eleitoral dos seus apoiantes e ontem, segundo os resultados em dez
mesas de voto, apenas cerca de 15 por cento dos eleitores foi votar.
No
país, depois do encerramento das urnas, começou imediatamente a contagem dos votos,
que vai decorrer nas próximas semanas.
Primeiro vão ser contados os votos
para as presidenciais, às quais concorreram 33 candidatos, seguindo - se a contagem
para as legislativas, com 9707 candidatos a disputarem os 500 lugares do parlamento
do país.
Os resultados oficiais devem ser divulgados dentro de três semanas.
Mais
de 25,6 milhões de pessoas estavam recenseadas para as eleições de hoje na República
Democrática do Congo, país com uma área equivalente à da Europa Ocidental, liderado
durante 32 anos pelo ditador Mobuto Sese Seko.
As novas instituições
vão substituir o actual Governo de transição, criado após os acordos de paz e formado
por todas as facções que participaram no conflito que terminou em 2003 e que provocou
a morte a mais de três milhões de pessoas. -E num país onde continuam a morrer
1200 pessoas a cada dia que passa, as agências humanitárias alertam para o perigo
de milhares de deslocados virem a morrer à fome. A continuação da instabilidade
e da violência que assola o leste do país provoca dezenas de milhar de refugiados.
O Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas fez um apelo urgente aos doadores internacionais
para assistir a estas pessoas que vivem numa situação dramática, com as reservas de
alimentos a esgotarem-se e a subnutrição a fazer vítimas, principalmente entre as
crianças. A República Democrática do Congo é hoje um dos países com a mais alta
taxa de mortalidade infantil no mundo: morrem mais crianças com menos de cinco anos
no Congo do que na China, que tem uma população 33 vezes superior. Por dia morrem
cerca de 600 crianças em resultado directo ou indirecto dos conflitos entre milícias
e exército. Num país onde a larga maioria da população é cristã (95%), os representantes
católicos têm vindo a denunciar a violência, a corrupção e a falta de vontade política,
nacional e internacional, para acabar com o calvário da população. Há um ano,
em entrevista à Ajuda à Igreja que Sofre, o presidente da Comissão Episcopal Justiça
e Paz, Monsenhor Theophile Kaboy, alertava para a necessidade de reabilitar os congoleses
após décadas de sofrimento. "Após 40 anos, de ditadura em ditadura, a população sente-se
ignorada, humilhada e frustrada. A Conferência Episcopal considera fundamental devolver
a esperança a este povo e, sobretudo, devolver-lhe os seus direitos", referiu o prelado.
Neste sentido, a Igreja Católica promoveu acções de formação cívica básica junto
da população para mobilizar e preparar a população congolesa, procurando que as eleições
se realizassem de forma livre e fossem justas.