O Bispo da diocese de Cabinda defendeu que o Memorando de Entendimento que será assinado
terça-feira entre o governo angolano e o Fórum Cabindês para o Diálogo (FCD) deverá
ser "um acordo forte e alicerçado na justiça". "Concretamente sobre este acordo
que vai ser assinado a 1 de Agosto, no Namibe, só fazemos um voto que seja uma esperança
e ao mesmo tempo um desejo que seja um acordo forte, alicerçado sobre a justiça, no
respeito das liberdades individuais, do princípio da democracia participativa, no
qual a população se reveja e encontre resposta para as suas ansiedades", salientou
D. Filomeno Viera Dias. Em declarações aos jornalistas na cidade de Cabinda, o
bispo acrescentou que o acordo "pode ser o princípio de um grande caminho. Este é
o nosso voto, é o nosso convite e trabalho nessa direcção". D. Filomeno Vieira
Dias clarificou o papel da igreja Católica na construção da paz afirmando que ela
se demarca de posicionamentos políticos, mas manifesta-se favorável à paz entre os
homens. "Sobre a questão da construção da paz dos povos na sociedade humana o posicionamento
da igreja é unânime. A igreja é ela que anuncia e promove a paz e todo o esforço que
venha a ser feito nesse sentido, merece o seu aplauso", frisou. Questionado sobre
a não participação nas negociações de paz para o enclave de Cabinda, já que a Igreja
integra o FCD, o bispo rejeitou que tenha havido exclusão no processo, reafirmando
tratar-se de uma questão que compete aos políticos. Segundo o bispo, "não é missão
da igreja participar em negociações e iniciativas políticas a título próprio, senão
a de anunciar o evangelho e através dele iluminar a vida dos homens na sua relação
com Deus e inspirar as relações dos homens entre si". "Por isso nós não nos sentimos
neste sentido excluídos ou marginalizados, essa missão cabe às estruturas e organizações
da sociedade civil, partidos, forças políticas e as correntes de pensamento como campo
por excelência dos leigos e não dos padres, nem dos bispos", disse D. Filomeno Vieira
Dias. O bispo admitiu no entanto que se a Igreja for convidada a "ajudar a facilitar
dentro das suas competências o fará, mas sempre conservando a sua identidade, natureza
e missão". O Memorando de Entendimento para a Paz e reconciliação na província
de Cabinda é o resultado das conversações, que culminou com a assinatura entre as
chefias militares do Governo e do FCD, a 18 de Julho, na localidade de Chicamba, município
de Massabi, província de Cabinda, de um acordo de cessar-fogo para esta parcela do
território angolano. O documento prevê a atribuição de um estatuto especial a Cabinda,
com respeito à Lei Constitucional e demais legislação em vigor na República de Angola,
Nação una e indivisível. Redacção/Lusa