Condoleeza Rice de novo no Médio Oriente: relançar a negociação para um cessar fogo
e negociar as base de um plano de paz.
O Presidente americano, George W. Bush, e o primeiro-ministro britânico, Tony Blair,
anunciaram esta sexta feira na Casa Branca, em Washington, o relançamento da negociação
para um cessar-fogo na guerra entre Israel e o Hezbollah. Condoleezza Rice chega hoje
ao Médio Oriente para negociar com Israel e com o Líbano as bases de um plano de paz,
que deverá ser submetido ao Conselho de Segurança na próxima semana. Bush e Blair
anunciaram ainda a intenção de organizar rapidamente uma força internacional que permitirá
aos israelitas sair do Sul do Líbano. Não fizeram apelo ao "cessar-fogo imediato".
Esta
força deverá prestar assistência humanitária, pôr termo à violência, ajudar o regresso
dos refugiados e a reconstrução.
Rice irá a Jerusalém e Beirute analisar
com os respectivos Governos as condições dum cessar-fogo. A secretária de Estado já
esteve nos dois países no início da semana. O Governo libanês rejeitou então o plano
americano e o primeiro-ministro, Fouad Siniora, elaborou depois um plano de sete pontos,
que apresentou em Roma na quarta-feira e cujas linhas gerais têm a concordância da
União Europeia.
O argumento que Blair invocou antes de partir para
Washington é o risco de o prolongamento da guerra "incendiar" a opinião árabe e alienar
os Estados da região que condenaram o Hezbollah. No dia da Conferência de Roma, o
rei Abdullah da Arábia Saudita advertiu Israel e, indirectamente, os EUA para o risco
de uma catástrofe regional. Mouin Rabbani, analista do International Crisis Group
em Amã, explicou ao New York Times que o fascínio pelo Hezebollah cresce exponencialmente
à medida em que ele mostra uma surpreendente capacidade de resistir à ofensiva e continua
a disparar rockets sobre Israel, sublinhando a fraqueza dos Estados árabes, dotados
de poderosos exércitos. O seu líder, Hassan Nasrallah, é o novo herói, o homem que
se propõe acabar "com o mito da invencibilidade de Israel".
No Líbano,
a inicial indignação pela provocação do Hezbollah foi substituída por uma onda de
apoio à "resistência". A continuação dos bombardeamentos legitima a força armada dos
fundamentalistas. Uma sondagem da Universidade Americana de Beirute indica que 89
por cento dos sunitas e 80 por cento dos cristãos se colocam ao lado da "resistência",
enquanto 89 manifestam desconfiança na América. É uma viragem radical em relação a
há um ano.
Depois de um paciente trabalho na montagem de uma coligação
para travar o programa nuclear iraniano e cercar a Coreia do Norte,CondolezzaRice
está agora em apuros. No espaço de uma hora em Roma, na quarta-feira, Rice pode ter
estragado tudo, anota Helena Cooper no "New York Times". A imagem que passou é a de
que, ao recusar o "cessar-fogo imediato", os EUA são corresponsáveis pela morte de
civis no Líbano.
A secretária de Estado esteve ontem no fórum da ASEAN, em
Kuala Lumpur, Malásia, destinado a forçar o regresso de Pyongyang à mesa das conversações,
mas o tema obsessivo foi o Médio Oriente. Confrontada com numerosos críticos, Rice
teve de garantir que iria voltar ao Médio Oriente e espera "ver um rápido fim da violência".
O relançamento da iniciativa de cessar-fogo não se traduzirá no abrandamento
da guerra, sendo mais provável a intensificação das hostilidades.
Em
Israel, domina a convicção de que o exército precisa ainda algum tempo para prosseguir
a "limpeza" do Sul do Líbano e fazer baixar os ataques dos Katyushas. Setenta e um
por cento dos israelitas defendem a continuação das operações militares.
O
mesmo pensa o Hezbollah. " A diplomacia só funcionará com pesadas pressões. E a Síria
terá uma palavra a dizer.