PREOCUPAÇÃO DO PRESIDENTE DO PONTIFÍCIO CONSELHO "DA JUSTIÇA E DA PAZ" COM CRISE NO
ORIENTE MÉDIO
Cidade do Vaticano, 18 jul (RV) - O Papa e a Santa Sé acompanham com grande
atenção os desdobramentos da situação no Oriente Médio. Após os prementes apelos do
Papa, em favor da paz, no Angelus de 29 de junho e no de domingo passado, dia 16,
seguiu-se a exortação ao diálogo entre as partes, feita pelo Cardeal Secretário de
Estado, Angelo Sodano.
Também o presidente do Pontifício Conselho "da Justiça
e da Paz", Cardeal Renato Raffaele Martino, expressou grande preocupação pela crise
no Oriente Médio.
Cardeal Renato Martini:- "Como ressaltou Sua Santidade
Bento XVI no Angelus de domingo passado, dia 16, o estender-se das ações bélicas no
Oriente Médio suscita muita preocupação, em particular, pela sorte da população civil.
A situação é complexa e difícil de decifrar. Estão em risco a paz e a segurança, não
somente da região, mas do mundo inteiro, como afirmou sexta-feira passada, o Cardeal
Secretário de Estado, Angelo Sodano. Ao mesmo tempo, todavia, em tal cenário de violência
e de obstinada contraposição, devem ser repudiados _ com decisão _ quer os ataques
terroristas de uma parte, quer as represálias militares da outra, uma vez que ambas
constituem uma violação do Direito e dos mais basilares princípios de Justiça."
P.
Cardeal Martino, qual deve ser o papel da comunidade internacional no preocupante
cenário do Oriente Médio?
Cardeal Renato Martini:- "Em tal cenário,
sem mais tardar e antes que o conflito degenere assumindo dimensões ainda mais difíceis
de controlar, a comunidade internacional e as NN.UU, em particular, são chamadas a
promover o diálogo e a paz entre as partes em conflito, e a afirmar um Estado de direito
na área. É desejável que os Estados não cedam à tentação de interpretar em chave política
ou ideológica o conflito em curso, atrasando, assim, ou tornando menos eficazes o
empenho diplomático e o socorro humanitário à população civil."
P. Os líderes
do G-8 afrontaram a questão do conflito no Oriente Médio. O senhor considera que a
questão tenha sido afrontada adequadamente?
Cardeal
Renato Martini:- "Certamente! A declaração dos líderes do G-8 sobre o Oriente
Médio deve ser considerada positivamente. De fato, os líderes se declaram prontos
a colaborar com as NN.UU. para a afirmação da paz no Oriente Médio e, em particular,
para a aplicação das resoluções 1.559 e 1.680, do Conselho de Segurança, relacionadas
ao Líbano, reconhecido como Estado soberano. Declaram-se também prontos a colaborar
em favor da retomada do diálogo e da cooperação entre Israel e Palestina. pela paz
no Oriente Médio. Tais sinais, como a mediação do Premier italiano, Romano Prodi,
são encorajadores. Todavia, as manifestações de vontade deveriam ser seguidas de um
plano de ação equilibrado em nível jurídico e político, que dê especial atenção à
sorte da população civil." P. Cardeal Martino, como o senhor avalia
os riscos do fundamentalismo no cenário do Oriente Médio?
Cardeal Renato
Martini:- -"Um elemento ulterior que deve ser considerado é o envolvimento _ naquilo
que podemos definir como guerra _ de movimentos fundamentalistas islâmicos (refiro-me
ao Hamas e ao Hezbollah, em particular). Esse dado torna a situação particularmente
preocupante, a partir do momento em que Estados como a Síria ou o Irã poderiam tomar
parte do conflito, de modo a exasperar a contraposição ideológica e provocar uma reação
ainda mais grave, por parte de Israel. Por fim, não se pode esquecer o risco do uso
de armas nucleares ou de destruição em massa, que poderia se transformar numa trágica
página para a história da família humana."
P. Cardeal Renato Martino, o
senhor poderia nos deixar uma palavra de esperança?
Cardeal Renato Martini:-
-"Hoje, mais do que nunca, é preciso recuperar o sentido da missão, ou melhor, da
vocação da ONU, nascida para "manter a paz… e a segurança e, com tal finalidade (...)
adotar medidas coletivas efetivas para a prevenção e a remoção das ameaças para a
paz" (Carta das NN.UU.). No mundo contemporâneo, nenhum conflito pode ser considerado
em dimensão local, por suas implicações de origem humana, política e econômica, e
por seus possíveis efeitos sobre a paz e sobre a segurança no mundo. Portanto, é necessária
uma tomada de consciência por parte da comunidade internacional, do próprio destino
comum e da urgência de uma solução pacífica da crise, da afirmação da paz e do Estado
de direito e do socorro humanitário à população civil no Oriente Médio." (RL)