Hoje, 11 de Julho, é dia de S. Bento aquele que Paulo VI chamou "de missionário da
Paz, formador da unidade, mestre da cultura e, principalmente, grande promotor da
vida cristã e organizador da vida monástica ocidental. Não foi sem razão que Pio XII
lhe chamou Pai da Europa. Portanto, consultada a Sagrada Congregação dos Ritos declaramos
e constituímos in perpetuum, perante o Deus do Céu, S. Bento como Padroeiro
Principal da Europa, com todas as honras e privilégios litúrgicos que pelo Direito
competem aos padroeiros principais dos lugares". . Em 1957, um grupo de nações
europeias ratificava o Tratado de Roma, constitutivo da Comunidade Europeia, que veio
dar origem à Comunidade Económica Euro-peia (CEE). Em 1964, na sagração da Basílica
do Mosteiro de Monte Cassino, destruído em 1948, aquando da II Guerra Mundial, o Papa
Paulo VI declarou S. Bento como padroeiro da Europa.
Que terá, contudo, a
ver com a Europa de hoje um santo do século VI (480-547)? Para o Pe. Geraldo Coelho
Dias, beneditino, este santo que escreveu a regra Monástica - com o seu nome - deu
origem à Ordem dos Monges Beneditinos, a única na Europa Ocidental anterior ao ano
mil e que "chegou activa e viçosa aos tempos modernos". Os beneditinos têm uma trajectória
histórica que atravessa os tempos e acompanha, "de forma decisiva, a formação da Europa
Ocidental e Cristã". É, sem dúvida, através "da acção dos monges que S. Bento merece
aquele título de Padroeiro da Europa".
Os seguidores de S. Bento foram os
obreiros das linhas de rumo daquilo que hoje chamamos Europa Ocidental e Cristã. Os
seus instrumentos de acção foram a Cruz do Evangelho - que pregaram e sob a qual viveram
-, o Livro da Cultura - que conservaram e transmitiram a partir dos seus scriptoria
e bibliotecas - e o arado com que arrotearam e lavraram as terras e ensinaram a cultivar.
Apesar da vida comunitária no mosteiro, os beneditinos não deixaram de ser apóstolos
do Cristianismo e foram, de facto, por missão da igreja, os primeiros evangelizadores
e missionários da Europa: S. Vilfrido e S. Bento Biscop na Inglaterra; S. Bonifácio
na Alemanha; S. Vilibrordo nos Países Baixos; S. Pirmino nos Alamanos e S. Anscário
nos Países Escandinavos.
Era esta a vida segundo a Regra de S. Bento, estabelecida
no século VI por Bento de Núrsia, o italiano fundador da Ordem dos Beneditinos e canonizado
mais tarde. S. Bento prescrevia para os monges uma vida de pobreza, castidade e obediência,
sob a orientação monástica de um abade, cuja palavra era lei. Luís, o Piedoso, imperador
carolíngio entre 814 e 840, encorajou os monges a adoptarem a Regra de S. Bento.
A
Regra de S. Bento foi formulada quando este era abade de Monte Cassino (no Sul de
Itália), abadia fundada em 529 e que continua a ser um dos grandes mosteiros do Mundo.
Bento foi o seu primeiro abade e foi ele quem estabeleceu o modelo de auto-suficiência
advogado pelas primitivas regras monásticas - dependência total dos próprios campos
e oficinas - que orientou durante séculos os mosteiros da cristandade ocidental. Em
todos os antigos mosteiros beneditinos, a vida era totalmente comunitária. A rotina
diária centrava-se naquilo a que S. Bento chamava "trabalho de Deus" - demorados ofícios
de complexidade crescente. Tudo o resto era secundário. O trabalho manual que a regra
estipulava existia não só para fornecer aos frades alimentação e vestuário e satisfazer-lhes
outras necessidades, como também para evitar a sua ociosidade e lhes alimentar a alma
mediante a disciplina do corpo.
Posteriormente, quando as abadias enriqueceram,
sobretudo através de doações de fiéis devotos, os dormitórios comunitários foram substituídos
por celas individuais e foram contratados trabalhadores para cuidarem dos campos,
o que permitiu a muitos monges dedicarem-se a outras actividades, nomeadamente o estudo,
graças ao qual a Ordem de S. Bento viria a ser tão justamente célebre.
Nos
seus jardins murados, os monges cultivavam ervas medicinais; num dado momento, ocorreu-lhes
a ideia de adicionar algumas ervas à aguardente, inventando assim o licor beneditino.
Pode parecer estranha esta associação da vida monástica com o luxo das bebidas alcoólicas,
mas o vinho foi sempre uma bebida permitida aos Beneditinos. Ligava bem com as suas
refeições simples, constituídas essencialmente por pão, ovos, queijo e peixe. Embora
a carne fosse proibida nos primeiros séculos, posteriormente algumas abadias adicionaram
aos alimentos consumidos aves de capoeira e de caça.