2006-06-30 09:31:52

Reforçar a fé em face da cruz e de todas as contradições do mundo - esta a tarefa de Pedro: Bento XVI na homilia da Missa de S. Pedro e S. Paulo


Presente uma delegação do patriarcado ortodoxo de Constantinopla. A 27 novos arcebispos, o Papa impôs a respectiva insígnia, o palio, símbolo da responsabilidade que lhes toca de, em união com o Bispo de Roma, presidir a uma província eclesiástica constituída por um conjunto de dioceses.
Agradecendo, na conclusão da homilia, o Patriarca Bartolomeu I e o Santo Sínodo do patriarcado de Constantinopla pelo envio de uma representação a esta solenidade da Igreja de Roma, Bento XVI observou que “este sinal de fraternidade… torna manifesto o desejo e o empenho de progredir de modo cada vez mais expedito no caminho da plena unidade que Cristo invocou para todos os seus discípulos. Partilhamos também nós o ardente desejo expresso um dia pelo patriarca Atenágoras e pelo Papa Paulo VI, de beber conjuntamente do mesmo Cálice e de comer conjuntamente o Pão que é o próprio Senhor. Novamente imploramos, nesta ocasião, que nos seja concedido em breve tal dom.”
A homilia constituiu um comentário das três passagens evangélicas em que o Senhor, em cada caso de um modo particular, transmite a Pedro a tarefa que lhe será própria. Antes de mais o episódio referido por Mateus no capítulo XVI e que constitui o Evangelho desta Missa. A tarefa confiada a Pedro é expressa mediante “três imagens que a Igreja ao longo dos séculos explicou de modo sempre novo”: a imagem da rocha que se torna pedra de alicerce ou pedra angular, a das chaves e a imagem de ligar e desligar. A promessa do primado de Pedro – sublinhou desta vez Bento XVI – tem lugar “junto à nascente do Jordão, na fronteira da terra judaica, no limiar do mundo pagão”. Por outro lado, “o momento da promessa assinala uma viragem decisiva no caminho de Jesus, que empreende o caminho para Jerusalém… o caminho para a Cruz”, como ele próprio adverte os seus discípulos: o Filho do Homem deve ir a Jerusalém, sofrer muito… ser morto e ressuscitar ao terceiro dia”.
Estas circunstâncias de tempo e de lugar – sublinhou o Papa – vão de pari passu e “determinam o lugar interior do Primado, mais ainda, da Igreja em geral”:
“O Senhor encontra-se continuamente caminhando em direcção à Cruz, para o abaixamento do servo de Deus sofredor e morto, e ao mesmo tempo está sempre a caminho da vastidão do mundo, na qual Ele nos precede como Ressuscitado, para que no mundo resplenda a luz da sua palavra e a presença do seu amor. Encontra-se a caminho para que através d’Ele, Cristo crucificado e ressuscitado, chegue ao mundo o próprio Deus”.
É neste sentido que, na sua primeira Epístola, Pedro se apresenta como “testemunha dos sofrimentos de Cristo e participante da glória que se deve manifestar”. “Para a Igreja, a Sexta-Feira Santa e o Domingo de Páscoa existem sempre conjuntamente”.
“Também hoje a Igreja – e nela Cristo – sofre. Na Igreja, Cristo continua a ser insultado e ferido sempre de novo. Sempre d enovo se procura atirá-lo para fora do mundo. Sempre de novo a pequena barca da Igreja é abalada pelo vento das ideologias que nela penetram com as suas águas, parecendo condená-la a afundar-se. E, contudo, é precisamente na Igreja sofredora que Cristo é vitorioso. Apesar de tudo, sempre de novo se reforça a fé n’Ele”.
Passando depois ao episódio do Evangelho de Lucas (cap.22), em que Jesus anuncia a Pedro que Satanás pediu para joeirar os discípulos (como se peneira o trigo) acrescentando porém que rezará por ele, por Pedro, para que a sua fé nunca venha a vacilar, observou o Papa: “O diabo – o caluniador de Deus e dos homens – quer provar que não há uma verdadeira religiosidade, mas que no homem tudo visa sempre e apenas a utilidade… Deus concede a Satanás a liberdade solicitada, precisamente para poder assim defender a sua criatura, o homem e a si próprio… Muitas vezes parece-nos que Deus deixe demasiada liberdade a Satanás. Que lhe conceda a faculdade de nos joeirar de modo demasiado aterrador. Parece-nos que isso supera as nossas forças e nos oprime demais. Sempre de novo gritaremos a Deus… ‘Protege-nos!’ Na verdade Jesus (afirmou, seguidamente, nesta mesma passagem do Evangelho): ‘Eu rezei, para que não vacile a tua fé”. “A oração de Jesus é o limite imposto ao poder do maligno. O rezar de Jesus é a protecção da Igreja. Podermos refugiar-nos sob esta protecção, agarrar-nos a ela, com a certeza de que não faltará… Jesus reza especialmente por Pedro. Esta oração de Jesus é ao mesmo tempo promessa e tarefa. A oração de Jesus tutela a fé de Pedro, aquela fé que confessou … ‘Tu és Cristo, o Filho do Deus vivo. Esta e á tarefa de Pedro: nunca deixar que esta fé se torne muda, reforçá-la sempre de novo, precisamente perante a cruz e todas as contradições do mundo”.


Finalmente, a terceira passagem evangélica que contém uma referência ao Primado, o capítulo 21 do Evangelho de João. “Também aqui – observou o Papa – se compenetram reciprocamente a Cruz e a Ressurreição. Jesus prediz a Pedro que o seu caminho conduzirá à cruz. Nesta basílica construída sobre o túmulo de Pedro – um túmulo de pobres – vemos que é sempre assim, precisamente através da cruz, que o Senhor vence.


“O seu poder não é um poder segundo a modalidade deste mundo. É o poder do bem – da verdade e do amor, que é mais forte do que a morte. Sim, é verdadeira a sua promessa – e nós o vemos : os poderes da morte, as portas dos infernos não prevalecerão contra a Igreja Ele edificou sobre Pedro e que ele, precisamente deste modo, continua a edificar pessoalmente”.


No final da celebração, Bento XVI desceu a venerar o túmulo de São Pedro, na cripta da basílica, acompanhado de sua Eminência Joannis Zizioulas, Metropolita de Pergamo, que conduzia a delegação do patriarcado de Constantinopla







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