Reforçar a fé em face da cruz e de todas as contradições do mundo - esta a tarefa
de Pedro: Bento XVI na homilia da Missa de S. Pedro e S. Paulo
Presente uma delegação do patriarcado ortodoxo de Constantinopla. A 27 novos arcebispos,
o Papa impôs a respectiva insígnia, o palio, símbolo da responsabilidade que lhes
toca de, em união com o Bispo de Roma, presidir a uma província eclesiástica constituída
por um conjunto de dioceses. Agradecendo, na conclusão da homilia, o Patriarca
Bartolomeu I e o Santo Sínodo do patriarcado de Constantinopla pelo envio de uma representação
a esta solenidade da Igreja de Roma, Bento XVI observou que “este sinal de fraternidade…
torna manifesto o desejo e o empenho de progredir de modo cada vez mais expedito no
caminho da plena unidade que Cristo invocou para todos os seus discípulos. Partilhamos
também nós o ardente desejo expresso um dia pelo patriarca Atenágoras e pelo Papa
Paulo VI, de beber conjuntamente do mesmo Cálice e de comer conjuntamente o Pão que
é o próprio Senhor. Novamente imploramos, nesta ocasião, que nos seja concedido em
breve tal dom.” A homilia constituiu um comentário das três passagens evangélicas
em que o Senhor, em cada caso de um modo particular, transmite a Pedro a tarefa que
lhe será própria. Antes de mais o episódio referido por Mateus no capítulo XVI e
que constitui o Evangelho desta Missa. A tarefa confiada a Pedro é expressa mediante
“três imagens que a Igreja ao longo dos séculos explicou de modo sempre novo”: a imagem
da rocha que se torna pedra de alicerce ou pedra angular, a das chaves e a imagem
de ligar e desligar. A promessa do primado de Pedro – sublinhou desta vez Bento XVI
– tem lugar “junto à nascente do Jordão, na fronteira da terra judaica, no limiar
do mundo pagão”. Por outro lado, “o momento da promessa assinala uma viragem decisiva
no caminho de Jesus, que empreende o caminho para Jerusalém… o caminho para a Cruz”,
como ele próprio adverte os seus discípulos: o Filho do Homem deve ir a Jerusalém,
sofrer muito… ser morto e ressuscitar ao terceiro dia”. Estas circunstâncias de
tempo e de lugar – sublinhou o Papa – vão de pari passu e “determinam o lugar interior
do Primado, mais ainda, da Igreja em geral”: “O Senhor encontra-se continuamente
caminhando em direcção à Cruz, para o abaixamento do servo de Deus sofredor e morto,
e ao mesmo tempo está sempre a caminho da vastidão do mundo, na qual Ele nos precede
como Ressuscitado, para que no mundo resplenda a luz da sua palavra e a presença do
seu amor. Encontra-se a caminho para que através d’Ele, Cristo crucificado e ressuscitado,
chegue ao mundo o próprio Deus”. É neste sentido que, na sua primeira Epístola,
Pedro se apresenta como “testemunha dos sofrimentos de Cristo e participante da glória
que se deve manifestar”. “Para a Igreja, a Sexta-Feira Santa e o Domingo de Páscoa
existem sempre conjuntamente”. “Também hoje a Igreja – e nela Cristo – sofre.
Na Igreja, Cristo continua a ser insultado e ferido sempre de novo. Sempre d enovo
se procura atirá-lo para fora do mundo. Sempre de novo a pequena barca da Igreja é
abalada pelo vento das ideologias que nela penetram com as suas águas, parecendo condená-la
a afundar-se. E, contudo, é precisamente na Igreja sofredora que Cristo é vitorioso.
Apesar de tudo, sempre de novo se reforça a fé n’Ele”. Passando depois ao episódio
do Evangelho de Lucas (cap.22), em que Jesus anuncia a Pedro que Satanás pediu para
joeirar os discípulos (como se peneira o trigo) acrescentando porém que rezará por
ele, por Pedro, para que a sua fé nunca venha a vacilar, observou o Papa: “O diabo
– o caluniador de Deus e dos homens – quer provar que não há uma verdadeira religiosidade,
mas que no homem tudo visa sempre e apenas a utilidade… Deus concede a Satanás a liberdade
solicitada, precisamente para poder assim defender a sua criatura, o homem e a si
próprio… Muitas vezes parece-nos que Deus deixe demasiada liberdade a Satanás. Que
lhe conceda a faculdade de nos joeirar de modo demasiado aterrador. Parece-nos que
isso supera as nossas forças e nos oprime demais. Sempre de novo gritaremos a Deus…
‘Protege-nos!’ Na verdade Jesus (afirmou, seguidamente, nesta mesma passagem do Evangelho):
‘Eu rezei, para que não vacile a tua fé”. “A oração de Jesus é o limite imposto ao
poder do maligno. O rezar de Jesus é a protecção da Igreja. Podermos refugiar-nos
sob esta protecção, agarrar-nos a ela, com a certeza de que não faltará… Jesus reza
especialmente por Pedro. Esta oração de Jesus é ao mesmo tempo promessa e tarefa.
A oração de Jesus tutela a fé de Pedro, aquela fé que confessou … ‘Tu és Cristo, o
Filho do Deus vivo. Esta e á tarefa de Pedro: nunca deixar que esta fé se torne muda,
reforçá-la sempre de novo, precisamente perante a cruz e todas as contradições do
mundo”.
Finalmente, a terceira passagem evangélica que contém uma referência
ao Primado, o capítulo 21 do Evangelho de João. “Também aqui – observou o Papa – se
compenetram reciprocamente a Cruz e a Ressurreição. Jesus prediz a Pedro que o seu
caminho conduzirá à cruz. Nesta basílica construída sobre o túmulo de Pedro – um túmulo
de pobres – vemos que é sempre assim, precisamente através da cruz, que o Senhor vence.
“O seu poder não é um poder segundo a modalidade deste mundo. É o poder
do bem – da verdade e do amor, que é mais forte do que a morte. Sim, é verdadeira
a sua promessa – e nós o vemos : os poderes da morte, as portas dos infernos não prevalecerão
contra a Igreja Ele edificou sobre Pedro e que ele, precisamente deste modo, continua
a edificar pessoalmente”.
No final da celebração, Bento XVI desceu a venerar
o túmulo de São Pedro, na cripta da basílica, acompanhado de sua Eminência Joannis
Zizioulas, Metropolita de Pergamo, que conduzia a delegação do patriarcado de Constantinopla