A FÉ E A ÉTICA CRISTÃS NÃO QUEREM SUFOCAR O AMOR, MAS TORNÁ-LO SADIO, FORTE E REALMENTE
LIVRE
Cidade do Vaticano, 06 jun (RV) - A fé e a ética cristãs não querem sufocar
o amor, mas torná-lo sadio, forte e realmente livre: foi a incisiva afirmação do Papa
Ratzinger, ao inaugurar, na noite desta segunda-feira, na Basílica de São João de
Latrão _ catedral do Papa _ o simpósio eclesial da Diocese de Roma, sobre o tema "A
alegria da fé e a educação das novas gerações".
Sacerdotes, religiosas e fiéis
leigos estão engajados em três dias de reflexão, em vista da elaboração do programa
pastoral para o próximo ano.
Na esteira tecida 10 anos atrás pela missão cidadã,
promovida por João Paulo II, Bento XVI dirigiu-se aos jovens, com um apelo em favor
da missionariedade, da necessidade de "reavivar, despertar ou suscitar" a fé em todas
as pessoas e nas "famílias desta grande cidade, onde a fé foi pregada e a Igreja foi
implantada já desde a primeira geração cristã, em particular pelos apóstolos Pedro
e Paulo".
Falando da atenção que sua Diocese reservou à família, nos últimos
anos, para consolidar com a verdade do Evangelho, Bento XVI destacou a necessidade
de continuar a tutelar essa realidade humana fundamental, "hoje, infelizmente, tão
duramente insidiada e ameaçada", ajudando-a "a realizar a sua missão insubstituível
na Igreja e na sociedade".
Colocando em primeiro plano a educação das novas
gerações à fé _ precisou o Papa _ não abandonamos o compromisso com a família, antes,
vamos ao encontro das preocupações de tantas famílias de fé que, no contexto social
e cultural de hoje, têm medo de não conseguir transmitir a preciosa herança da fé
a seus filhos.
Nesse contexto, o Papa falou da beleza e da alegria da fé: "Descobrir
a beleza e a alegria da fé é um caminho que toda nova geração deve percorrer pessoalmente,
porque na fé se coloca em jogo o que temos de mais nosso e de mais íntimo _ o nosso
coração, a nossa inteligência e a nossa liberdade _ numa relação profundamente pessoal
com o Senhor, que opera dentro de nós. Mas a fé é, do mesmo modo, radicalmente, ato
e atitude comunitária, é o "nós cremos" da Igreja."
A alegria da fé _ prosseguiu
Bento XVI _ é, portanto, uma alegria que deve ser compartilhada, "para que a nossa
alegria seja perfeita". Mas não é fácil transmitir a fé às novas gerações no atual
contexto social.
É possível identificar duas linhas de fundo da cultura atual
secularizada , claramente interdependentes, que remam em direção contrária ao anúncio
cristão e não podem deixar de incidir naqueles que estão maturando suas orientações
e opções de vida.
Uma delas é o agnosticismo que brota da redução da inteligência
humana a simples razão calculadora e funcional e que tende a sufocar o sentido religioso
inscrito no profundo da nossa natureza. A outra é aquele processo de relativização
e de desenraizamento que corrói os laços mais sagrados e os afetos mais dignos do
homem, com o resultado de tornar frágeis as pessoas, e precárias e instáveis as nossas
relações.
"Precisamente nessa situação _ continuou Bento XVI _ todos nós, especialmente
as nossas crianças, adolescentes e jovens, precisam viver a fé como alegria, experimentar
aquela serenidade profunda que nasce do encontro com o Senhor, do saber-se amado por
Ele, do observar seus mandamentos, que não escravizam, mas libertam o homem, libertam
o amor. Aquele que sabe que é amado, por sua vez é solicitado a amar, amar a Deus
e os homens por Ele amados."
A seguir, o Papa-teólogo acrescentou: "Especialmente
os adolescentes e os jovens, que sentem prepotentemente dentro de si, o apelo do amor,
precisam ser libertados do preconceito difundido de que o Cristianismo, com seus mandamentos
e suas proibições, põe obstáculos demais à alegria do amor, e impede, em particular,
de saborear plenamente aquela felicidade que o homem e a mulher encontram no seu amor
recíproco. Ao contrário, a fé e a ética cristãs não querem sufocar, mas tornar sadio,
forte e realmente livre o amor: é exatamente esse o sentido dos dez mandamentos, que
não são uma série de "não", mas um grande "sim" ao amor e à vida."
Nesse sentido,
Bento XVI lembrou que o amor humano precisa ser purificado, precisa amadurecer e ir
além de si mesmo, para poder tornar-se verdadeiramente humano, para ser princípio
de uma alegria verdadeira e duradoura, para responder, por fim, àquela demanda de
eternidade que porta dentro de si e à qual não pode renunciar, sem trair-se a si mesmo.
É este o motivo substancial pelo qual o amor entre o homem e a mulher só se realiza
plenamente no matrimônio _ ponderou o Papa Ratzinger.
É central _ como o Santo
Padre evangelicamente ressaltou _ o amor a Deus e ao próximo. "O cristão _ disse _
não se contenta de palavras, de ideologias enganosas, nem de esporádicas boas ações,
mas vai ao encontro das necessidades do irmão. Daí a necessidade de propor aos jovens
experiências práticas de serviço ao próximo mais necessitado, como parte de uma plena
e autêntica educação à fé."
"Juntamente com a necessidade de amar, o desejo
da verdade pertence à própria natureza do homem. Por isto _ salientou Bento XVI _
na educação das novas gerações, a questão da verdade não pode certamente ser evitada:
ao contrário, deve ocupar um espaço central."
Com efeito, prosseguiu o Papa,
colocando a pergunta sobre a verdade, alargamos o horizonte da nossa racionalidade,
começamos a libertar a razão daqueles limites demasiadamente estreitos quando se considera
racional apenas o que pode ser objeto de experimentação e de cálculo.
Nesse
sentido, o Papa falou do encontro da razão com a fé: "Na educação das novas gerações
não devemos ter nenhum temor de colocar a verdade da fé em confronto com as conquistas
autênticas do conhecimento humano. Os progressos da ciência são, hoje, muito rápidos
e não raramente são apresentados como contrapostos às afirmações da fé, provocando
confusão e tornando mais difícil o acolhimento da verdade cristã. Mas Jesus Cristo
é e continua sendo o Senhor de toda a Criação e de toda a história. Portanto, o diálogo
entre fé e razão, se conduzido com sinceridade e rigor, oferece a possibilidade de
perceber, de modo mais eficaz e convincente, a razoabilidade da fé em Deus _ não em
um "deus" qualquer, mas naquele Deus que se revelou em Jesus Cristo _ e de mostrar
também que, no mesmo Jesus Cristo se encontra a realização plena de toda autêntica
aspiração humana." (PL)