2006-06-07 16:43:29

A FÉ E A ÉTICA CRISTÃS NÃO QUEREM SUFOCAR O AMOR, MAS TORNÁ-LO SADIO, FORTE E REALMENTE LIVRE


Cidade do Vaticano, 06 jun (RV) - A fé e a ética cristãs não querem sufocar o amor, mas torná-lo sadio, forte e realmente livre: foi a incisiva afirmação do Papa Ratzinger, ao inaugurar, na noite desta segunda-feira, na Basílica de São João de Latrão _ catedral do Papa _ o simpósio eclesial da Diocese de Roma, sobre o tema "A alegria da fé e a educação das novas gerações".

Sacerdotes, religiosas e fiéis leigos estão engajados em três dias de reflexão, em vista da elaboração do programa pastoral para o próximo ano.

Na esteira tecida 10 anos atrás pela missão cidadã, promovida por João Paulo II, Bento XVI dirigiu-se aos jovens, com um apelo em favor da missionariedade, da necessidade de "reavivar, despertar ou suscitar" a fé em todas as pessoas e nas "famílias desta grande cidade, onde a fé foi pregada e a Igreja foi implantada já desde a primeira geração cristã, em particular pelos apóstolos Pedro e Paulo".

Falando da atenção que sua Diocese reservou à família, nos últimos anos, para consolidar com a verdade do Evangelho, Bento XVI destacou a necessidade de continuar a tutelar essa realidade humana fundamental, "hoje, infelizmente, tão duramente insidiada e ameaçada", ajudando-a "a realizar a sua missão insubstituível na Igreja e na sociedade".

Colocando em primeiro plano a educação das novas gerações à fé _ precisou o Papa _ não abandonamos o compromisso com a família, antes, vamos ao encontro das preocupações de tantas famílias de fé que, no contexto social e cultural de hoje, têm medo de não conseguir transmitir a preciosa herança da fé a seus filhos.

Nesse contexto, o Papa falou da beleza e da alegria da fé: "Descobrir a beleza e a alegria da fé é um caminho que toda nova geração deve percorrer pessoalmente, porque na fé se coloca em jogo o que temos de mais nosso e de mais íntimo _ o nosso coração, a nossa inteligência e a nossa liberdade _ numa relação profundamente pessoal com o Senhor, que opera dentro de nós. Mas a fé é, do mesmo modo, radicalmente, ato e atitude comunitária, é o "nós cremos" da Igreja."

A alegria da fé _ prosseguiu Bento XVI _ é, portanto, uma alegria que deve ser compartilhada, "para que a nossa alegria seja perfeita". Mas não é fácil transmitir a fé às novas gerações no atual contexto social.

É possível identificar duas linhas de fundo da cultura atual secularizada , claramente interdependentes, que remam em direção contrária ao anúncio cristão e não podem deixar de incidir naqueles que estão maturando suas orientações e opções de vida.

Uma delas é o agnosticismo que brota da redução da inteligência humana a simples razão calculadora e funcional e que tende a sufocar o sentido religioso inscrito no profundo da nossa natureza. A outra é aquele processo de relativização e de desenraizamento que corrói os laços mais sagrados e os afetos mais dignos do homem, com o resultado de tornar frágeis as pessoas, e precárias e instáveis as nossas relações.

"Precisamente nessa situação _ continuou Bento XVI _ todos nós, especialmente as nossas crianças, adolescentes e jovens, precisam viver a fé como alegria, experimentar aquela serenidade profunda que nasce do encontro com o Senhor, do saber-se amado por Ele, do observar seus mandamentos, que não escravizam, mas libertam o homem, libertam o amor. Aquele que sabe que é amado, por sua vez é solicitado a amar, amar a Deus e os homens por Ele amados."

A seguir, o Papa-teólogo acrescentou: "Especialmente os adolescentes e os jovens, que sentem prepotentemente dentro de si, o apelo do amor, precisam ser libertados do preconceito difundido de que o Cristianismo, com seus mandamentos e suas proibições, põe obstáculos demais à alegria do amor, e impede, em particular, de saborear plenamente aquela felicidade que o homem e a mulher encontram no seu amor recíproco. Ao contrário, a fé e a ética cristãs não querem sufocar, mas tornar sadio, forte e realmente livre o amor: é exatamente esse o sentido dos dez mandamentos, que não são uma série de "não", mas um grande "sim" ao amor e à vida."

Nesse sentido, Bento XVI lembrou que o amor humano precisa ser purificado, precisa amadurecer e ir além de si mesmo, para poder tornar-se verdadeiramente humano, para ser princípio de uma alegria verdadeira e duradoura, para responder, por fim, àquela demanda de eternidade que porta dentro de si e à qual não pode renunciar, sem trair-se a si mesmo. É este o motivo substancial pelo qual o amor entre o homem e a mulher só se realiza plenamente no matrimônio _ ponderou o Papa Ratzinger.

É central _ como o Santo Padre evangelicamente ressaltou _ o amor a Deus e ao próximo. "O cristão _ disse _ não se contenta de palavras, de ideologias enganosas, nem de esporádicas boas ações, mas vai ao encontro das necessidades do irmão. Daí a necessidade de propor aos jovens experiências práticas de serviço ao próximo mais necessitado, como parte de uma plena e autêntica educação à fé."

"Juntamente com a necessidade de amar, o desejo da verdade pertence à própria natureza do homem. Por isto _ salientou Bento XVI _ na educação das novas gerações, a questão da verdade não pode certamente ser evitada: ao contrário, deve ocupar um espaço central."

Com efeito, prosseguiu o Papa, colocando a pergunta sobre a verdade, alargamos o horizonte da nossa racionalidade, começamos a libertar a razão daqueles limites demasiadamente estreitos quando se considera racional apenas o que pode ser objeto de experimentação e de cálculo.

Nesse sentido, o Papa falou do encontro da razão com a fé: "Na educação das novas gerações não devemos ter nenhum temor de colocar a verdade da fé em confronto com as conquistas autênticas do conhecimento humano. Os progressos da ciência são, hoje, muito rápidos e não raramente são apresentados como contrapostos às afirmações da fé, provocando confusão e tornando mais difícil o acolhimento da verdade cristã. Mas Jesus Cristo é e continua sendo o Senhor de toda a Criação e de toda a história. Portanto, o diálogo entre fé e razão, se conduzido com sinceridade e rigor, oferece a possibilidade de perceber, de modo mais eficaz e convincente, a razoabilidade da fé em Deus _ não em um "deus" qualquer, mas naquele Deus que se revelou em Jesus Cristo _ e de mostrar também que, no mesmo Jesus Cristo se encontra a realização plena de toda autêntica aspiração humana." (PL)







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