BISPOS DE ANGOLA QUESTIONAM CREDIBILIDADE DA ASSOCIAÇÃO CÍVICA DE CABINDA
Cabinda, 02 jun (RV) - A Conferência Episcopal de Angola e São Tomé e Príncipe
(CEAST) divulgou um documento, no qual questiona a credibilidade da Associação Cívica
de Cabinda, "Mpalabanda".
Essa associação emitiu um comunicado no qual denunciava
o risco de "ruandização" de Cabinda, devido à proibição da celebração da missa nessa
cidade do norte de Angola, por parte da hierarquia católica.
A Associação Cívica
de Cabinda acusa o Vigário-geral da Diocese, Pe. Milan Zednichek, de ter apelado para
as forças de segurança, para que usassem a força, caso as pessoas insistissem em participar
de uma celebração eucarística na Igreja da Imaculada Conceição.
A nota dos
bispos, por sua vez, declara que é totalmente falsa a acusação contra o sacerdote
e que este teria apenas solicitado às autoridades civis, a preservação da igreja,
contra qualquer agressão, insistindo para que não fizessem uso da força.
A
nota dos bispos acrescenta que a interpretação dos acontecimentos dada pela associação
coloca em discussão sua credibilidade.
O documento dos bispos confirma, todavia,
que "sete sacerdotes da Diocese de Cabinda, por ato grave de desobediência, foram
proibidos pelo Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, Cardeal Crescenzio
Sepe, de celebrar a Eucaristia e de pregar em público, até nova ordem".
Este
foi o primeiro incidente entre a hierarquia católica angolana e a associação "Mpalabanda",
no que diz respeito à situação em Cabinda, onde o novo Bispo diocesano aguarda, há
mais de um ano, as condições favoráveis para tomar posse.
Dom Filomeno Vieira
Dias foi nomeado para o governo pastoral da Diocese de Cabinda por João Paulo II,
em 11 de fevereiro de 2005, em substituição a Dom Paulino Madeca, que atingira o limite
de idade estabelecido pelo Código de Direito Canônico.
Essa nomeação gerou
fortes protestos entre a comunidade católica da Diocese, que rejeita a nomeação de
um bispo que não seja natural de Cabinda, o que inviabilizou, até agora, a posse do
novo responsável pelo governo diocesano.
Nos meses sucessivos à nomeação do
Bispo foram ocorreram vários incidentes com membros da hierarquia da Igreja, que se
deslocaram a Cabinda, para tentar resolver o impasse, culminando, em finais de julho
de 2005, com uma agressão a Dom Eugénio del Corso, então Administrador Apostólico
de Cabinda, que foi impedido de celebrar a missa na Igreja da Imaculada Conceição.
Após
essa agressão, o Núncio Apostólico em Angola decidiu fechar a Igreja da Imaculada
Conceição e suspender alguns membros do clero local. Em resposta, os sacerdotes suspenderam
a celebração de missas na região, situação que se manteve até ao início de dezembro,
quando foi alcançado um acordo que permitiu reabrir as igrejas da Diocese para a celebração
de cerimônias eucarísticas.
Apesar desse acordo, que permitiu uma relativa
normalização da vida religiosa na Diocese, as divergências em relação ao novo Bispo
se mantiveram. Assim, a posse de Dom Filomeno Vieira Dias continua sem data prevista.
O
enclave de Cabinda, de onde provém quase 90% da produção petrolífera de Angola, é
palco, desde 1975, de uma luta armada independentista liderada pela Frente de Libertação
do Enclave de Cabinda (FLEC), que alega que o território ainda é um protetorado português
nos termos do Tratado de Simulambuco. (JK)