Os dramas de 860 milhões de crianças num dossier da agência Fides
Por ocasião do Dia Internacional da Criança, a 1 de Junho a Agência Fides, do Vaticano,
publicou um dossier sobre as 860 milhões crianças “desnutridas, traficadas, exploradas
e doentes” no mundo, para quem o futuro não passa de uma grande incógnita. Num
trabalho intitulado “Herodes: a matança dos inocentes continua”, a agência do mundo
missionário deixa vários alertas para as situações de trabalho forçado, prostituição,
fome, Sida, abandono e guerra. Para a Fides, estas situações são “o maior escândalo
do nosso tempo” e afectam as vítimas mais indefesas da globalização: 2,2 mil milhões
dos habitantes do planeta são crianças e metade delas vive na pobreza. Os números
apresentados espantam pela sua grandeza: 211 milhões de crianças entre os 5 e os 14
anos são obrigadas a trabalhar, e 120 milhões fazem-no em “full-time”. Entre estas
crianças há situações particularmente chocantes, como a dos “intocáveis” de Tamil
Nadu, na Índia, que trabalham dia e noite num verdadeiro regime de escravatura. Igualmente
brutal é a situação das 300 mil crianças-soldado, transformadas em máquinas de guerra
treinadas para matar sem piedade, muitas vezes em frentes de guerra esquecidas que
ensanguentam mais de 40 países. Mas é a fome, que se assume como a força mais
devastadora: 11 milhões de crianças morrem antes de ter completado cinco anos. A desnutrição
afecta 800 milhões de pessoas, mais de metade das quais são crianças, mas os números
não ficam por aqui: uma em cada cinco crianças não tem água potável e uma em cada
sete não tem nenhuma forma de assistência sanitária. Os números da Sida assemelham-se,
por outro lado, a um balanço de guerra: três milhões de mortes, meio milhão das quais
crianças, e dois milhões e meio de seropositivos com menos de 14 anos. A cada minuto,
uma criança é infectada com o HIV e uma morre por doenças relacionadas com a doença.
Quanto ao tráfico de seres humanos, a Fides lembra que, no mínimo, 1,2 milhões
de menores de 18 anos estão envolvidos nessas redes. O tráfico de órgãos também estará
na origem de vários desaparecimentos de menores em países subdesenvolvidos: um rim,
o órgão mais requisitado, pode render de 2 mil a 10 mil Euros, segundo o país. A
situação geral agrava-se quando analisada no feminino: quatro milhões de meninas são
compradas e vendidas para matrimónios forçados, prostituição e escravatura. O quadro
dos horrores não acaba aqui: em cada ano são praticadas mutilações genitais em dois
milhões de crianças, com especial relevo para a África, onde esta prática chega a
atingir 98% das mulheres.