Timor Leste e a viagem à Polónia: na audiência geral desta quarta-feira. Vigorosas
palavras sobre Auschwitz que não deve ser esquecida.
A situação em Timor Leste preocupa o Santo Padre, que no final da audiência geral
desta quarta-feira lançou um apelo a rezar e agir a favor da pacificação dos espíritos
que permita um retorno à normalidade. A poucos dias do regresso da Polónia, foi
naturalmente à sua viagem pastoral à pátria do seu predecessor que Bento XVI dedicou
a sua alocução, nesta audiência, na Praça de São Pedro, em que participaram uns 35
mil peregrinos, provenientes de 23 diferentes países, entre os quais Portugal e Brasil.
Ouçamos a saudação que o Papa lhes dirigiu na nossa língua.
Queridos amigos
de língua portuguesa, Domingo passado conclui-se minha Viagem Pastoral a Polônia,
terra do amado Papa João Paulo II. Dou continuamente graças a Deus por me ter permitido
realizar este encontro com o povo polaco, juntamente com os seus Pastores e suas comunidades
locais. Peço a todos, mormente ao numeroso grupo de brasileiros aqui presentes e a
alguns visitantes vindos de Portugal, para que se unam às minhas preces pelos frutos
dessa Viagem apostólica, que de bom grado desejo colocar nas mãos de Nossa Senhora,
na festa da Visitação a Santa Isabel.
Na sua alocução mais desenvolvida,
em italiano, Bento XVI evocou as diversas etapas da sua peregrinação aos lugares da
memória de João Paulo II. Começando por Varsóvia, onde celebrou uma Eucaristia muito
concorrida, teve um encontro com os sacerdotes e se deslocou à igreja luterana da
Santíssima Trindade. Aí, declarou o Papa, “tive ocasião de reafirmar o meu firme propósito
de considerar como uma prioridade do meu ministério a reconstituição da plena e visível
unidade entre os cristãos”. A peregrinação polaca incluiu naturalmente, recordou
Bento XVI, uma visita aos santuários que marcaram a vida do padre e bispo Karol Wojtyla.
Nomeadamente o de Jasna Gora, em Czestochowa. “Não poderei esquecer a passagem
pelo célebre santuário mariano de Jasna Gora. Naquele Claro Monte, coração da nação
polaca, come num ideal cenáculo, congregaram-se à volta do Sucessor de Pedro numerosíssimos
fiéis, e especialmente religiosos, religiosas, seminaristas e representantes dos movimentos
eclesiais, para se colocarem à escuta de Maria. Partindo da estupenda meditação mariana
que João Paulo II deu à Igreja na Encíclica Redemptoris Mater, quis voltar a propor
a fé como atitude fundamental do espírito, que envolve toda a pessoa: pensamentos,
intenções, relações, corporeidade, actividade, trabalho quotidiano”.
Para
além dos outros santuários de Kalvaria e da Divina Misericórdia, Bento XVI referiu-se
depois com afecto à terra natal de Karol Woytyla, Wadovie, como um outro simbólico
santuário: “Visitar Wadovice ofereceu-me a oportunidade de dar graças ao Senhor
pelo dom deste incansável servidosr do Evangelho. Nesta cidadezinha onde recebeu a
primeira educação e formação encontram-se as raízes da sua robusta fé, da sua humanidade
tão sensível e aberta, do seu amor à beleza e à verdade, da sua devoção a Nossa Senhora,
do seu amor pela Igreja e sobretudo da sua vocação à santidade”.
A celebração
eucarística de domingo, dia conclusivo, em Cracóvia, com “extraordinária participação
de fiéis” mereceu também uma referência especial da parte do Papa, pela ocasião que
lhe ofereceu – disse – para “renovar… o estupendo anúncio da verdade cristã sobre
o homem, criado e redimido em Cristo”: “Aquela verdade que tantas vezes João Paulo
II proclamou com vigor para estimular todos a serem fortes na fé, na esperança e no
amor. Permanecei firmes na fé! Foi esta a indicação que deixei aos filhos da amada
Polónia, encorajando-os a perseverarem na fidelidade a Cristo e à Igreja, para que
não falte à Europa e ao mundo o seu testemunho evangélico”.
Trata-se de
um testemunho que todos os cristãos se devem sentir empenhados em dar, – sublinhou
Bento XVI – para “evitar que a humanidade do terceiro milénio possa conhecer horrores
semelhantes aos que são tragicamente evocados pelo campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau”.
Última etapa da viagem, antes do regresso a Roma. O Papa fez questão de recordar expressamente
que “no campo de Auschwitz-Birkenau, como noutros campos semelhantes, Hitler fez exterminar
mais de seis milhões de hebreus”. “Em Auschwitz–Birkenau (precisou ainda) morreram
também cerca de 150 mil polacos e dezenas de milhares de homens e mulheres de outras
nacionalidades. “Diante do horror de Auschwitz, não há outra resposta senão a Cruz
de Cristo: o Amor que desceu ao fundo do abismo do mal, para salvar o homem na raiz,
onde a sua liberdade se pode rebelar contra Deus. Não esqueça a humanidade de hoje
Auschwitz e as outras ‘fábricas de morte’ em que o regime nazista tentou eliminar
Deus para tomar o seu lugar! Não ceda à tentação do ódio racial, que está na origem
das piores formas de anti-semitismo! Tornem os homens a reconhecer que Deus é Pai
de todos e que todos chama, em Cristo, a construir juntos um mundo de justiça, de
verdade e de paz”. Foi no final da audiência que Bento XVI se referiu com apreensão
“à cara nação de Timor Leste, nestes dias a braços com tensões e violências, que têm
provocado vítimas e destruições”… “Ao mesmo tempo que encorajo a Igreja local e
as organizações católicas a continuarem, juntamente com outras organizações internacionais,
empenhadas na assistência aos desalojados, convido-vos a rezar para à Santa Virgem
para que apoie com a sua materna protecção os esforços de todos os que estão a contribuir
para a pacificação dos espíritos e ao regresso à normalidade”.