O actual clima “de quase guerra civil” em Timor-Leste deve-se mais à “insatisfação
generalizada” e à “frustração das expectativas de mudança” do que à má gestão da crise
militar, defendeu o Bispo de Baucau. “O problema dos militares, quando começou,
era um problema pequeno. Não valia um caracol, se posso usar a expressão. Mas foi
subestimado e assumiu grandes proporções”, disse D. Basílio do Nascimento, que está
em Lisboa para exames médicos, num contacto telefónico com a Agência Lusa. No
entanto, o Bispo de Baucau rejeita que a actual situação se possa explicar apenas
pela crise militar. “Mesmo assim, mesmo tendo em conta alguma falta de experiência
e alguma indiferença (do governo em relação ao problema), isso não justifica que se
chegue a este clima de quase guerra civil”, frisou. Na sua opinião, foram “a insatisfação
generalizada “ da população, devido à “falta de emprego, de dinheiro e de pão para
a boca”, e a “frustração das expectativas de mudança em relação ao Congresso da FRETILIN”
que, “aliadas à tensão”, conduziram à actual situação. O governo timorense, em
especial o Primeiro-ministro, Mari Alkatiri, tem sido acusado de não ter sabido gerir
a crise desencadeada por cerca de 600 militares que em Fevereiro abandonaram os quartéis
em protesto pelas alegadas discriminações pela hierarquia das forças armadas. Estas
acusações voltaram ontem à ordem do dia quando, a propósito de uma manifestação exigindo
a demissão de Alkatiri, o Bispo de Díli afirmou: “É evidente que o povo não gosta
dele (Alkatiri)”. Questionado sobre esta afirmação, o Bispo de Baucau afirmou:
“D. Ricardo da Silva tem uma certa razão. E não é só ele que o diz, são todos os timorenses
e toda a gente de bom senso”. Confessando-se “muito triste, preocupado e apreensivo
com o rumo que as coisas estão a tomar” em Timor-Leste, o Bispo de Baucau considera
que o papel da Igreja Católica neste momento assenta sobretudo em “pequenos gestos”
que entrem na “conjugação de esforços” destinados a permitir que “Timor possa viver
em paz”. O presidente de Timor-Leste, Xanana Gusmão, revelou hoje ter assumido
a "responsabilidade principal" pelas áreas da defesa e segurança, anunciando um conjunto
de "medidas de emergência" para pôr termo à violência no país. Após dois dias
de reunião do Conselho de Estado, Xanana Gusmão admitiu ainda a possibilidade de vir
a decretar o estado de sítio em Timor-Leste.