2006-05-29 15:24:09

Bento XVI na Polónia: de 25 a 28 de Maio: uma viagem ao coração da Europa, com quatro linhas de força


A viagem de Bento XVI à Polónia, de 25 a 28 de Maio, foi um dos momentos mais significativos do pontificado iniciado há pouco mais de um ano. Nesta viagem à terra natal de João Paulo II, o Papa fez bem mais do que percorrer os passos do seu predecessor.
Quatro grandes linhas de força estiveram presentes nesta visita.
No bastião do catolicismo na Europa, Bento XVI quis, obviamente, homenagear João Paulo II, mas não esqueceu a luta contra o secularismo e o relativismo (por isso pediu aos polacos que “evitem ser influenciados pelos valores seculares modernos, mantendo a vossa fidelidade aos ensinamentos de Jesus Cristo”). Além destas duas ideias, o Papa quis promover a reconciliação entre o povo alemão e o polaco, estendendo ainda a mão ao povo judaico – com uma referência muito explícita ao drama vivido na II Guerra Mundial.
O Papa conquistou a Polónia –apesar das dúvidas surgidas inicialmente, em Varsóvia - e afirmou-se, de alguma forma, perante toda a Europa como uma referência moral para tempos difíceis. A visita ao campo de Nazi de Auschwitz foi um momento fundamental, com os olhos do mundo atentos aos gestos e às palavras de um Papa alemão neste local de morte.
Esta foi uma das ocasiões em que Bento XVI preveniu contra a tentação de “nos fazermos juizes de Deus e da História”. Apesar deste alerta, particularmente relevante quando referido ao “mea culpa” de João Paulo II, no Jubileu de 2000, o Papa deixou passar a emoção que os vários momentos da viagem lhe provocaram.
Em Auschwitz-Birkenau, confessou ser difícil "a um cristão e a um Papa alemão" falar sobre crimes "sem equivalência na História" perpetrados pelo regime nazi. No seu discurso em italiano, descreveu o campo como "lugar de memória que é também o lugar da Shoah (Holocausto)". Neste sentido, lançou "um apelo a Deus para que não permita que tais coisas se repitam", numa altura em que "parecem emergir de novo do coração dos homens todas as forças obscuras".
"De um lado - disse - abusa-se do nome de Deus para justificar uma violência cega contra inocentes e, do outro, exibe-se um cinismo que não conhece Deus e ridiculariza a fé".
Simbolicamente, no final deste momento, o Papa falou pela única vez na sua língua natal, para recitar uma oração na qual pedia ao “Deus da Paz”: “Faz que todos os vivem na harmonia permaneçam em paz e os que estão divididos se reconciliem novamente”.
Na Missa de ontem, em Cracóvia, quase dois milhões de pessoas estiveram junto do Papa, apesar da chuva que caiu na noite anterior, e Bento XVI afirmou que considerava a cidade em que viveu João Paulo II como a “sua” Cracóvia.
Como nos dias anteriores, o Papa convidou os presentes a serem “fortes na fé”, em especial porque “hoje mais do que nunca é necessária essa força”.
Beatificação
O entusiasmo dos polacos foi particularmente visível em Wadowice, terra natal de João Paulo II. Junto da multidão que o acolheu na praça central da cidade que viu nascer João Paulo II, Bento XVI disse que "quis vir aqui a Wadowice, aos lugares onde a sua fé nasceu e cresceu, para rezar convosco, pedindo que seja rapidamente elevado à glória dos altares”.
Aos polacos, Bento XVI pediu que o acompanhem na oração como fizeram com João Paulo II. “No espírito desta devoção, diante desta imagem, quero dar graças a Deus pelo Pontificado de João Paulo II e, tal como ele, pedir a Nossa Senhora para tomar conta da Igreja, cuja condução, por vontade de Deus, me é confiada”.
João Paulo II foi, de resto, muito lembrado. Para justificar a visita à pátria do seu antecessor, Bento XVI citou o poeta alemão Goethe: "Quem quer compreender um poeta deve visitar a sua terra natal".
Bento XVI voltou a manifestar o desejo de ver concretizada, o mais rapidamente possível, a beatificação de João Paulo II. “Espero que a Providência conceda, rapidamente, a beatificação e a canonização do nosso amado João Paulo II”, disse no Santuário de Kalwaria.
Face à sequência frenética de interpretações destas palavras, Joaquín Navarro-Valls, director da sala de imprensa da Santa Sé, explicou que Bento XVI manifestou “um desejo e, ao mesmo tempo, uma oração”, mas nada mais do que isso – pelo que o processo de beatificação não será acelerado por vontade do Papa. Navarro-Valls lembrou ainda que a dimensão do trabalho de leitura que espera o postulador da causa é de tal ordem que não se podem esperar avanços imediatos num futuro próximo.
Ecclesia








All the contents on this site are copyrighted ©.