BENTO XVI EM AUSCHWITZ-BIRKENAU: "LUGAR DE TERROR E MORTE, MAS TAMBÉM SÍMBOLO DA DECADÊNCIA
DA CIVILIZAÇÃO E DA CULTURA EUROPÉIA CONTEMPORÂNEAS"
Cracóvia- Auschwitz-Birkenau, 28 mai (RV) - Último dia da viagem apostólica
de Bento XVI à Polônia: esta manhã, o Santo Padre deixou a sede do Arcebispado de
Cracóvia, onde se encontrava hospedado, com destino ao Parque Błonie, a 2 km de distância,
para a solene celebração eucarística da Ascensão do Senhor.
Nesse mesmo parque
_ uma extensa esplanada situada às portas de Cracóvia, capaz de conter até dois milhões
de pessoas _ o Papa Ratzinger encontrou-se, ontem à noite, com os jovens poloneses
e de outros países vizinhos, inclusive da Rússia.
No Parque Błonie, João Paulo
II presidia a grandes celebrações: a derradeira foi há quatro anos, quando de sua
última visita à sua terra natal.
Cerca de um milhão e meio de pessoas lotavam
a Praça Błonie, para a celebração eucarística desta manhã, presidida por Bento XVI.
Entre os presentes, destacamos as autoridades civis e religiosas da Polônia _ o Presidente,
o Primeiro-ministro e o Presidente do Parlamento _ reitores de universidades, representantes
do Estado e da região de Cracóvia, cerca de 200 bispos provenientes de mais de 30
nações, e dois mil sacerdotes.
Estava presente também, um representante do
Patriarcado Ortodoxo de Moscou.
Muitos dos fiéis percorreram até 70 km para
participar da missa do Papa.
Durante a oração dos fiéis, foram feitas intenções
pelas vítimas do terremoto na Indonésia e também para que o servo de Deus, João Paulo
II, possa ser logo elevado à honra dos altares.
Na homilia que proferiu, o
Santo Padre tomou como ponto de partida, para sua reflexão, a liturgia da Ascensão
do Senhor ao céu: "Homens da Galiléia, por que vocês estão olhando para o céu?". "Uma
questão _ disse o Papa _ que se refere a duas realidades da vida do homem: a terrena
e a celeste."
"Somos chamados a olhar para o céu, embora estejamos na terra,
a orientar a nossa atenção, nosso pensamento e nosso coração para o inefável mistério
de Deus. Somos chamados a olhar para a realidade divina, rumo à qual o homem é orientado,
desde a sua criação. Lá se encontra o sentido definitivo da nossa vida" _ ilustrou
Bento XVI.
Emocionado, o Pontífice recordou seu predecessor: "Queridos irmãos
e irmãs: com profunda comoção celebro hoje a Eucaristia, na esplanada de Błonie, em
Cracóvia, lugar onde, várias vezes, João Paulo II celebrou, durante suas inesquecíveis
peregrinações apostólicas à sua terra natal. Aqui, ele dirigia seu pensamento ao coração
das suas raízes, às fontes da sua fé e do seu serviço à Igreja. Daqui dirigia sua
palavra à sua Cracóvia e à sua Polônia."
"Cracóvia, a cidade de Karol Wojtyla
e de João Paulo II, é também a minha cidade _ disse o Papa. É uma cidade querida para
um sem número de cristãos do mundo inteiro, que sabem que daqui, João Paulo II saiu
para ser sucessor de Pedro, em Roma."
O Papa concluiu sua homilia exortando
os fiéis poloneses a permanecerem firmes em sua fé. "A exortação contida nestas palavras
_ sublinhou _ é dirigida a todos os que compõem a comunidade dos discípulos de Cristo
e, portanto, a todos nós. Ter fé quer dizer abandonar-se a Deus, confiar nosso destino
a Ele. Esta terra se tornou lugar de testemunho de fé em Cristo. Não deixem faltar
este seu testemunho ao mundo!"
"Peço-lhes, enfim, que compartilhem com os outros
povos da Europa e do mundo, o tesouro de sua fé, sobretudo, em consideração à memória
do seu grande conterrâneo, que o fez em primeira pessoa, com extraordinária força
e eficácia. Recordem-se também de mim, em suas orações e sacrifícios, para que eu
possa cumprir a missão que me foi confiada por Cristo."
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No
mesmo Parque Błonie, após a celebração eucarística, Bento XVI recitou, juntamente
com os fiéis presentes, a oração mariana do Regina Coeli.
Antes, porém, proferiu
uma breve reflexão, pedindo a proteção materna de Maria, Rainha da Polônia, para todos
os filhos daquela terra.
Depois, recordando o encontro de ontem à noite, com
a juventude polonesa, o Pontífice se referiu ao livro de declarações que os jovens
lhe deram de presente, intitulado: "Não uso droga. Estou livre dela!" Nesse contexto,
dirigindo-se aos jovens, disse: "Peço-lhes como pai: sejam fiéis a esta promessa,
pois se trata da vida e da liberdade de vocês. Não se deixem arrastar pelas ilusões
deste mundo!"
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Depois da missa da solenidade da Ascensão
do Senhor ao céu e da oração mariana do Regina Coeli, Bento XVI deixou o Parque Błonie
e voltou, de carro, para o Arcebispado de Cracóvia, onde almoçou e descansou.
À
tarde, deixou o Arcebispado, após ter-se despedido dos funcionários, dirigindo-se
para Auschwitz, a 60 km de distância, para o último compromisso oficial de sua primeira
visita à Polônia.
Os campos de concentração de Auschwitz e Birkenau se encontram
no território de Biełko-Zywiec, Diocese sufragânea de Cracóvia, sob o governo pastoral
de Dom Tadeusz Rakoczy.
Por volta das 17h (hora local) a comitiva papal chegou
ao campo de concentração de Auschwitz. O Papa entrou a pé no local, e percorreu todo
o itinerário até chegar ao pátio do Muro da Morte.
Esse lugar de sofrimento
e martírio foi palco do extermínio de mais de um milhão de judeus europeus, no âmbito
de um genocídio programado, que ficou conhecido em todo o mundo, com o nome de holocausto.
Lugar de terror e morte, mas também símbolo da decadência da civilização e da cultura
européia contemporânea.
João Paulo II visitou o campo de concentração de Auschwitz,
em Oswiecim, durante sua primeira viagem apostólica à Polônia, em 7 de junho de 1979,
quando rezou na cela onde morreu São Maximiliano Kolbe.
Recordamos que as tropas
nazistas invadiram a Polônia em setembro de 1939, dividindo o país com as tropas soviéticas.
Assim, Oswiecim recebeu o nome alemão de Auschwitz. O campo de concentração permaneceu
em plenas atividades, de junho de 1940 a janeiro de 1945.
Ali, foram assassinados,
além dos mais de um milhão de judeus, 150 mil poloneses, 23 mil ciganos, 15 mil prisioneiros
de guerra soviéticos e dezenas de milhares de cidadãos de outras nacionalidades. Entre
os mártires de Auschwitz destacamos São Maximiliano Kolbe, e a monja de origem judaica,
Santa Teresa Benedita da Cruz, conhecida como Edith Stein.
Hoje, o campo de
concentração de Auschwitz-Birkenau é um museu nacional, que ocupa uma área de 191
hectares. O museu é considerado patrimônio histórico da humanidade.
Bento XVI
assinou o Livro de Ouro dos visitantes do museu e visou _ ele também _ a cela de São
Maximiliano Kolbe. A seguir, o Bispo de Roma dirigiu-se ao Centro de Diálogo e de
Oração de Auschwitz, a cerca de 1 km de distância. O centro nasceu por iniciativa
do Cardeal Franciszek Macharski, então Arcebispo de Cracóvia, em 1992, com a colaboração
de Cardeais da França e da Bélgica, e de várias organizações judaicas.
Dois
sacerdotes _ um polonês e outro alemão _ acolhem os visitantes. O centro quer ser
um memorial das vítimas do nazismo e um sinal de mútuo respeito, de reconciliação
e de paz no mundo.
Ali, o Pontífice foi acolhido pelo Diretor do Centro e por
representantes das 12 religiosas carmelitas de clausura, que ali vivem.
Mais
tarde, o Papa se deslocou para a vizinha localidade de Birkenau, a cerca de 3 km,
onde se encontra o Monumento Internacional às Vítimas do Holocausto, erigido ao lado
do forno crematório nº 2. No monumento estão 22 lápides, em várias línguas, que recordam
todas as vítimas dos campos de concentração de Auschwitz-Birkenau.
Naquele
local, o Pontífice se encontrou com representantes de outras religiões, com um grupo
de ex-prisioneiros e de sobreviventes de outras nacionalidades e com representantes
da comunidade judaica internacional. Com eles, o Papa rezou pelas vítimas do genocídio
e da guerra, e pela paz no mundo.
"Tomar a palavra, neste lugar de horror,
de acúmulo de crimes contra Deus e contra o homem, que não tem comparação na história,
é quase impossível. Isso é particularmente difícil e oprimente para um cristão, para
um Papa que provém da Alemanha. Num lugar como este, faltam as palavras e predomina
o silêncio. Um silêncio que se torna um grito interior ao Senhor: "Por que vos calastes?
Por que tolerastes tudo isso?" _ disse o Papa.
Hoje, como Bispo de Roma, o
Papa Ratzinger disse estar naquele local de terror, para implorar a graça da reconciliação,
antes de tudo a Deus, que abre e purifica os corações, mas também dos homens que ali
sofreram e morreram. E para pedir a graça da reconciliação para todos aqueles que,
de forma diferente, ainda sofrem por causa do ódio e da violência.
Nesse sentido,
o Santo Padre renovou seu "não" convicto àqueles que abusam do nome de Deus para justificar
a violência cega contra pessoas inocentes. "Tais pessoas se esquecem que a violência
só gera violência e não a paz que todo desejamos" _ sublinhou.
A propósito
das lápides colocadas no Monumento Internacional às Vítimas do Holocausto, o Papa
disse: "Os nazistas queriam eliminar os judeus da face da terra. No fundo _ disse
_ aqueles criminosos violentos queriam matar a comunidade judaica e, nela, matar Deus,
para poderem dominar o mundo, sozinhos. Queriam eliminar a raiz na qual se baseia
a fé cristã, substituindo-a com o domínio humano e com a lei do mais forte."
"Graças
a Deus, com a purificação da memória, aumentam as múltiplas iniciativas, que pretendem
limitar a força do mal com o bem... Assim, esperamos que, aqui neste lugar de horror,
possa desabrochar uma reflexão construtiva, e tal recordação nos ajude a fazer triunfar
o amor e a resistir ao mal."
O Papa deixou o campo de concentração de Birkenau,
dirigindo-se diretamente para o aeroporto de Cracóvia, onde teve lugar a cerimônia
de despedida da Polônia.
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Ontem à noite, na Praça Błonie,
de Cracóvia, o Papa se encontrou com cerca de um milhão de jovens, de toda a Polônia
e países vizinhos, inclusive da Rússia.
Partindo da narração do Evangelho de
São Mateus, capítulo 7, versículos 24, o Papa convidou os milhares de jovens presentes
a construírem uma casa que jamais desabará, por ser edificada sobre a rocha.
E
como construir essa casa?
"Queridos amigos _ respondeu o Papa _ meditando
as palavras de Cristo sobre a rocha, como alicerce adequado para a construção da casa,
não podemos deixar de recordar que sua última palavra é palavra de esperança. Amigos,
o medo do insucesso pode, às vezes, até mesmo deter os sonhos mais lindos, um projeto
de vida. Quem acredita em Cristo não pode permanecer confuso. Sejam testemunhas da
esperança, daquela esperança que se chama Jesus!" (MT)