Duplicidade em nome da guerra contra o terrorismo: denuncia de Amnistia Internacional
Os governos dos países mais poderosos - como os Estados Unidos e o Reino Unido - revelaram
no ano passado uma duplicidade de discursos e critérios em nome da guerra contra o
terrorismo. Manipularam instituições internacionais e fecharam os olhos a violações
brutais dos direitos humanos como a tortura.
Esta é uma das principais conclusões
a retirar do relatório 2006 da Amnistia Internacional (AI) sobre a situação dos Direitos
Humanos em 150 países. "Os governos, colectiva e individualmente, paralisaram as instituições
internacionais e sacrificaram princípios" em nome do combate ao terrorismo, afirmou
ontem a secretária-geral daquela ONG, Irene Khan, na apresentação oficial do documento
em Londres.
O relatório de 400 páginas, que analisa o ano de 2005 e o define
como um misto de duplicidade e de esperança, tece duras críticas a Washington e a
Londres. No primeiro caso, por causa da detenção de centenas de pessoas sem acusação
no Iraque e noutras zonas, no segundo, pelas tentativas de delimitar os direitos fundamentais
após os atentados terroristas de 7 de Julho.
Medidas como a extensão do prazo
de detenção sem culpa formada de suspeitos de terrorismo, a assinatura de acordos
de extradição de suspeitos para países como a Jordânia, mas também a permissão do
uso do seu território e espaço aéreo por aviões da CIA (tal como outros Estados europeus),
são alguns dos pontos negros do Reino Unido.
No que diz respeito aos EUA, a
AI tem o encerramento do centro de detenção da base de Guantánamo como um dos seu
principais objectivos para este ano, a par do fim das violações dos direitos humanos
na região de Darfur (Oeste do Sudão), palco de um conflito há três anos.
A
ONG fundada em 1961, que também denuncia neste documento violações em larga escala
noutros países como a Rússia, a China e a Colômbia, reconhece que é em África e no
Médio Oriente que residem os maiores desafios para quem defende aqueles direitos.
A "impunidade" dos militares e dos colonos israelitas implicados nos "homicídios ilegais"
de palestinianos também é realçada.
A responsável da AI julga importante que
muitos Estados tenham sido obrigados a fornecer dados sobre os voos da CIA, que tenha
havido uma redução de conflitos armados em África e, ainda, que a justiça internacional
tenha registado progressos, tais como a emissão dos primeiros mandados de captura
pelo Tribunal Penal Internacional.