Assembleia plenária da Conferência Episcopal Portuguesa em Fátima: bispos condenam
atentados contra a vida
A assembleia plenária da Conferência Episcopal, que decorreu esta semana em Fátima,
ficou marcada pelas posições dos Bispos portugueses em defesa da vida, denunciando
“a manipulação e destruição de vidas humanas e salvaguardando o valor permanente do
sentido da vida desde a concepção até à morte”.
Logo na abertura dos trabalhos,
no contexto da Carta Encíclica “Deus Caritas Est”, do Papa Bento XVI, D. Jorge Ortiga
salientou “o dever da acção social da Igreja assumir concretamente a peculiaridade
de serviço atento e dedicado aos mais pobres, apelou para a defesa da vida acolhendo
as possibilidades que a ciência abre sem perder os valores éticos”.
Os Bispos
tomaram ainda conhecimento da organização de movimentos cívicos pró-vida, congratulando-se
com “a coerência e firmeza de todos quantos lutam pela defesa e promoção da vida”.
No
mesmo sentido, diante de "propostas legislativas atentatórias da dignidade do embrião
humano", os Bispos manifestaram, mais uma vez, “o seu mais veemente desacordo”, como
refere o comunicado final hoje apresentado.
“A nossa defesa da vida é uma vida
desde a concepção até à morte, toda ela. Quando falamos mais da questão do aborto
e depois da eutanásia, é porque são os assuntos mais pendentes”, explicou aos jornalistas
o presidente da CEP.
Em conferência de imprensa, D. Jorge Ortiga negou qualquer
desacordo no seio da CEP relativamente à campanha promovida por movimentos cívicos
em favor de um referendo sobre a Procriação Medicamente Assistida (PMA). “A vida não
pode ser sujeita a referendo, em qualquer situação”, disse o presidente da CEP, não
escondendo que, em caso de consulta popular, a Igreja "continuará a dizer que há situações
que não são se podem defender".
"A vida é sempre um dom de Deus, inviolável,
que merece muito respeito, estima e consideração", prosseguiu, referindo-se a uma
série de "atentados à vida" como os seuicídios, os homicídios e as mortes nas estradas
portuguesas.
Realidade social
A "cultura da vida" defendida pela
CEP tem "um sentido abrangente", pelo que a realidade sócio-económica do país também
esteve em destaque, mormente aquando da análise das Semanas Sociais Portuguesas, cuja
edição de 2006 decorreu em Braga, de 9 a 12 de Março, sob o tema “Uma sociedade criadora
de emprego”.
D. Jorge Ortiga anunciou que as actas deste evento irão ser publicadas
“oportunamente”, referindo ainda que os Bispos fazem um balanço “muito positivo” da
iniciativa, quer em número de participantes, quer em termos de conteúdo.
“Esta
avaliação significa o nosso compromisso nesta área, dentro daquilo que nos é possível
para criar a consciência de que o trabalho é um direito para todos”, disse aos jornalistas.
Quanto
à realização das Semanas Sociais, o prelado assegurou que as mesmas são “para continuar”.
D.
Jorge Ortiga lamentou que, no nosso país, muitas pessoas vivam "indignamente".
Iniciação
cristã
A CEP aprovou o documento “Educação Moral e Religiosa Católica.
Um valioso contributo para a formação da personalidade”, mais um na linha do programa
da CEP para o triénio (2005-2008), sob o tema genérico da transmissão da fé.
A
Comissão Episcopal para a Educação Cristã irá, agora, reformular os manuais e, também,
definir um “perfil” de professor. “Evidentemente – disse o Arcebispo de Braga – também
teremos de definir critérios para aqueles ou aquelas que são professores de EMRC”.
Do
trabalho nesta área, D. Jorge Ortiga referiu-se ainda à revisão dos catecismos para
os 10 anos de catequese. “Estamos num trabalho de reformular pedagogicamente e estruturalmente
os catecismos”, explicou.
O presidente da CEP convidou as comunidades cristãs
a desenvolver formas autênticas e actuais de iniciação cristã e a prestar particular
cuidado à oferta de formas de aprofundamento da fé aos já baptizados.
A Assembleia
prosseguiu a reflexão sobre a transmissão da fé, desta vez partindo de um documento
de trabalho intitulado “Iniciação cristã: caminhos a percorrer”. “Reconhecendo a pedagogia
catecumenal como privilegiada no processo da transmissão da fé, mesmo para os já baptizados
que regressam à Igreja com desejo de formação cristã, a Assembleia considerou urgente
incentivar itinerários concretos de iniciação cristã, até de nível vicarial/arciprestal”,
refere o comunicado final.
Quanto ao catecumenado propriamente dito, para não
baptizados, a CEP defende que “importa distinguir entre catecúmenos em idade de infância
e adolescência e adultos, mediante a criação de metodologias e subsídios adaptados”.
Neste sentido, foi lançada a ideia de um Serviço Nacional de Catecumenado,
com articulação entre Comissão Episcopal de Liturgia e Comissão Episcopal de Educação
Cristã.
Um outro assunto em debate foram as conclusões pastorais da vinda a
Portugal das relíquias de Santa Teresa do Menino Jesus. “A partir da figura e da espiritualidade
de Santa Teresa do Menino Jesus, o documento refere a vivência simples do quotidiano,
a sensibilidade para a adoração e a contemplação, a dimensão missionária e a interpelação
vocacional como elementos de uma pedagogia da santidade, a propor aos crentes e às
comunidades cristãs”, pode ler-se no comunicado final.
“A piedade popular constitui
um ponto de partida para uma espiritualidade pastoral”, lembram os Bispos.
A
Assembleia reflectiu sobre a situação do Diaconado Permanente em Portugal e pediu
à Comissão Episcopal de Vocações e Ministérios uma revisão das normas existentes,
datadas de 1981, tendo em conta os documentos entretanto emanados da Santa Sé, a experiência
das dioceses e a realidade pastoral.
Moral Sexual
As recentes
declarações dos Cardeais Carlo Maria Martini, Arcebispo Emérito de Milão, e Javier
Lozano Barragán, presidente Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde (CPPS), sobre
a questão da Sida e do uso do repservativo foram comentadas pelo vice-presidente da
CEP, D. António Montes, que pediu aos jornalistas para não fazerem análises "truncadas"
do que foi referido por ambos.
“A sexualidade tem os seus princípios e a vivência
da sexualidade de uma forma anárquica pode ter como consequência que o preservativo
seja visto como panaceia universal”, alertou.
Por isso, explicou, “a primeira
missão da Igreja é explicar o sentido da sexualidade”. “O exercício da sexualidade
só tem uma verdadeira dimensão humana e cristã se for um veículo de amor. Numa perspectiva
cristã, essa realização de amor só se realiza num matrimónio heterossexual e monogâmico”,
precisou o Bispo de Bragança-Miranda.
Quanto à utilização do preservativo como
forma de evitar a propagação da Sida, no contexto do matrimónio, o prelado disse estarmos
na presença “de um caso do chamado mal menor”, mas advertiu que só se irá pronunciar
sobre o tema quando a Santa Sé decidir publicar o estudo que está a ser levado a cabo
pelo CPPS.
Media são aposta
As próximas Jornadas Pastorais do
Episcopado, a realizar de 19 a 22 de Junho, terão como tema «Deus na “rede”: formas
do religioso na era da Internet».
D. Jorge Ortiga, presidente da CEP, reconhece
que a maneira de apresentar a fé exige mudanças, dado que “em alguns aspectos, a nossa
linguagem talvez seja um pouco hermética”. Segundo este responsável, os Bispos entendem
que a Internet “é um caminho evangelizador”.
Os trabalhos partirão “daquilo
que existe” relativamente à presença da Igreja em Portugal na Internet e noutros meios
de comunicação social. O presidente da CEP sublinhou a “presença significativa” no
mundo dos jornais, particularmente em termos de semanários.
Efemérides
O
presidente da CEP lembrou, na conferência de imprensa, o nascimento de “dois grandes
Bispos”, D. Sebastião Soares de Resende, primeiro Bispo da Beira, e D. António Ferreira
Gomes, Bispo do Porto.
Quanto ao primeiro, as celebrações terão lugar na Diocese
do Porto, no dia 17 de Junho, em Santa Maria Feira. O centenário de D. António Ferreira
Gomes, por outro lado, tem sido assinalado com um conjunto de iniciativas, destacando-se
o Congresso Internacional sobre "Ser cristão na sociedade aqui e no futuro", de 8
a 10 de Maio, que se realizará no Seminário do Vilar (Porto).
Os Bispos assinalaram
ainda o centenário da fundação do escutismo, que se celebra ao longo do próximo ano,
com uma série de iniciativas que tiveram início, precisamente, em Fátima. D. Jorge
Ortiga sublinhou o valor da “pedagogia específica” do escutismo, que merecem por parte
da CEP, “consideração e estima”. A cronica do correspondente da Radio Vaticano