Mulheres e crianças principais vitimas do tráfico de seres humanos, segundo o relatorio
do Gabinete das Nações Unidas contra a droga e o crime.
As mulheres e as crianças são as primeiras vítimas do tráfico de seres humanos no
mundo, segundo um relatório publicado esta segunda feira pelo Gabinete das Nações
Unidas contra a droga e o crime, ONUDC. "Na prática, nenhum país está livre
do crime de tráfico de seres humanos para fins de exploração sexual ou de trabalho
forçado", nota a ONUDC neste seu primeiro estudo destinado a dimensionar a amplitude
do fenómeno.
Cento e vinte e sete estados foram identificados como países de
origem de pessoas vítimas de tráfico, nomeadamente na Ásia e na Europa de leste, e
137 como países de destino, nomeadamente na União europeia, América do Norte e Golfo,
Israel, Turquia, China e Japão. As mulheres surgem em 77 por cento dos "dossiers"
de tráfico, as crianças em 33 por cento e os homens em 9 por cento, segundo a ONUDC.
A exploração sexual é mencionada em 87 por cento dos casos, contra 28 por cento para
as outras formas de trabalho forçado.
Baseando-se exclusivamente em fontes
públicas, designadamente governamentais, a ONUCD reconhece, por este facto, o carácter
"empírico e parcelar" dos dados à sua disposição, em vista, por exemplo, das reticências
expressas por alguns estados.
"Os esforços para combater o tráfico esbarram
numa falta de dados precisos que reflecte a recusa de alguns países de reconhecerem
que são atingidos por este fenómeno", lamenta o Gabinete.
O director da ONUDC,
António Maria Costa, descreve como "um verdadeiro problema" a ausência de uma "notificação
sistemática" por parte das autoridades e explica que a luta foi, "até agora, não coordenada
e ineficaz".
Por esta mesma razão entende António Costa ser "extremamente difícil
estabelecer quantas vítimas de tráfico há no mundo". "Mas trata-se, seguramente, de
milhões", contabiliza.
"O facto de esta forma de escravatura existir ainda,
em pleno século XXI, é uma vergonha para todos nós", considera.
A ONUDC defende
uma cooperação internacional reforçada para combater os traficantes e para reduzir
a procura de bens e de serviços produzidos pelas vítimas do tráfico, bem como para
assegurar a estas últimas uma melhor protecção.