O escândalo da pobreza, o ataque á familia, o sentido da Cruz no exemplo de varios
Santos, fio condutor das meditações da Via Sacra no Coliseu de Roma.
O drama da divisão do mundo em “vilas e barracas, a agressão diabólica á familia,
o sentido da Cruz no exemplo de vários santos entre os quais Francisco de Assis, Madre
Teresa de Calcutá e também João Paulo II. Estes são alguns dos temas e das referencias
fundamentais que foram tocados nas meditações da Via Sacra desta Sexta Feira Santa,
presidida pela primeira vez por Bento XVI- e escritas este ano pelo arcebispo Ângelo
Comastri, vigário do Papa para a Cidade do Vaticano e presidente da Fábrica de São
Pedro. O tema do pecado, ou melhor do retorno do pecado através da indiferença
em relação a ele, com grande difusão na cultura contemporânea foi o fio condutor das
reflexões e orações ao longo das 14 estações da Via Sacra. Na meditação para a terceira
estação afirma-se de facto: perdemos o sentido do pecado! Hoje vai-se difundindo,
com insidiosa propaganda, uma insensata apologia do mal, um absurdo culto de Satanás
um louco desejo de transgressão, uma liberdade enganadora e inconsistente que exalta
o capricho, o vício e o egoísmo apresentando-os como conquistas de civilização.”
As meditações e as orações foram depois acompanhadas por um discurso conclusivo de
Bento XVI, proferido no final do rito da Via Sacra. “Certamente é dolorosa paixão
de Deus a agressão contra a família. Hoje parece estar em acto uma espécie de anti-Génesis,
um anti-desígnio, um orgulho diabólico que pensa em cancelar a família.” Esta é
sem dúvida uma das passagens mais fortes das meditações nas quais são frequentes as
referencias á actualidade, ás grandes questões éticas, sociais e culturais do nosso
tempo. O forte apelo á defesa da família está contido nas meditações para a sétima
estação, quando Jesus cai pela segunda vez. No mesmo trecho encontra-se uma forte
denuncia das tentativas de manipulação da vida. “O homem quereria reinventar a
humanidade modificando a própria gramática da vida tal como Deus a pensou e quis. Mas,
substituir-se a Deus sem ser Deus é a mais louca arrogância ,é a aventura mais perigosa.” De
forte impacto também a questão da divisão do mundo entre riqueza e pobreza, entre
abundância e desperdício e indigência absoluta. A divisão do mundo em zonas de
bem-estar e em zonas de miséria… é, hoje, a agonia de Cristo”, lê-se na meditação
da nona estação, em que Jesus cai pela terceira vez. E ainda: o mundo é formado por
dois compartimentos: num compartimento desperdiça-se no outro definha-se ;num morre-se
de abundância e no outro morre-se de indigência; num teme-se a obesidade e no outro
invoca-se a caridade. Segue-se depois uma série de interrogações retóricas que
acentuam a indiferença dos ricos em relação ao problema da pobreza:” Porque é que
não abrimos uma porta? Porquê não formamos uma única mesa? Porquê não entendemos que
os pobres são a cura dos ricos? Porquê? Porquê? Porque somos tão cegos?”. Na oração
sucessiva afirma-se que um só é o Proprietário do mundo: Deus.” acumular é roubar
se o acumulado inútil impede a outros de viverem.
Senhor Jesus, faz com que
acabe o escândalo que divide o mundo em palácios e barracas. Senhor, ensina-nos de
novo a fraternidade! A meditação para a quinta estação é pelo contrário uma admoestação
contra o egoísmo do nosso tempo e da nossa sociedade que não nos deixa ver os débeis,
os marginais e as figuras sociais frágeis e expostas á prepotência e á solidão. Referindo-se
ao Cireneu, isto é, aquele que carregou sobre os seus ombros a cruz de Cristo e o
ajudou a suportar todo o peso e a dor, afirma-se:” Tu nos recordas que Cristo nos
espera na estrada, no vão das escadas, no hospital, na prisão…nas periferias das nossas
cidades. Cristo espera-nos…! Será que O reconhecemos? Iremos socorrê-Lo? Ou morreremos
no nosso egoísmo?” E ainda na oração que se segue, lê-se: “Senhor Jesus, o bem-estar
vai-nos desumanizando, a diversão tornou-se uma alienação, uma droga: e a monótona
publicidade desta sociedade é um convite a morrer no egoísmo. A 12ª estação é caracterizada
pela procura do significado da Cruz e do sacrifício de Cristo através do exemplo de
algumas grandes figuras de santidade da historia da Igreja entre as quais, e não é
um caso, se encontra João Paulo II. “O homem pensou insensatamente: Deus morreu!
– lê-se na meditação, mas depois observa-se que da cruz nasce a vida nova de Saulo,
a conversão de Agostinho, a pobreza feliz de Francisco de Assis, a bondade irradiante
de Vicente de Paulo ; o heroísmo de Maximiliano Kolbe, a maravilhosa caridade de
Madre Teresa de Calcutá, a coragem de João Paulo II. Portanto, “ da cruz nasce
a revolução do amor: por isso a cruz não é a morte de Deus, mas é o nascimento do
seu Amor no mundo.”