Papa reforça comissão de reconciliação com os seguidores de Mons. Lefebvre
Bento XVI procedeu a mudanças de peso na Comissão Pontifícia «Ecclesia Dei», criada
por João Paulo II em 2 de Julho de 1988, após o gesto cismático das ordenações episcopais
presididas pelo arcebispo Marcel Lefebvre. O Papa nomeou como novos membros três dos
Cardeais criados no últimos consistório: D. William Joseph Levada, prefeito da Congregação
para a Doutrina da Fé; D. Jean-Pierre Ricard, Arcebispo de Bordéus e presidente da
Conferencia Episcopal da França; D. Antonio Cañizares, Arcebispo de Toledo e Primaz
da Espanha.
No passado mês de Março, Bento XVI confirmou, perante os Cardeais
de todo o mundo, a sua preocupação pela reconciliação com os seguidores de Monsenhor
Lefebvre, a Fraternidade São Pio X, fundada pelo Arcebispo francês. O Papa poderia
levantar a excomunhão de João Paulo II, datada de 1988, contra os Bispos da Fraternidade.
No
recente encontro com o Colégio Cardinalício, o Papa deixou votos que, entre os temas
a discutir, estivesse “a questão levantada por Mons. Lefebvre e a reforma litúrgica
desejada pelo Concílio Vaticano II”. O Bispo Bernard Fellay, superior geral da Fraternidade,
foi recebido por Bento XVI no dia 29 de Agosto de 2005, num encontro marcado pelo
“desejo de chegar à perfeita comunhão”, segundo comunicado oficial da Santa Sé.
Fellay
e outros três Bispos foram excomungados a 2 de Julho de 1988, por terem sido ordenados
“ilegitimamente” no seio da Fraternidade, por parte do Arcebispo Lefebvre. A carta
apostólica “Ecclesia Dei”, de João Paulo II, constatou que esta ordenação de Bispos
(a 30 de Junho de 1988) constituiu “um acto cismático”.
Os contactos têm sido
conduzidos pelo Cardeal Darío Castrillón Hoyos, presidente da Comissão Pontifícia
“Ecclesia Dei”. Esta Comissão tem como objectivo “facilitar a plena comunhão eclesial”
dos fiéis ligados à Fraternidade fundada por Monsenhor Lefebvre, “conservando as suas
tradições espirituais e litúrgicas”, em especial o uso do Missal Romano segundo a
edição típica de 1962 - a Missa Tridentina.
O Missal de São Pio V, com a Missa
celebrada em latim segundo a antiga tradição, só é utilizado actualmente com permissão
do Bispo local. A aprovação universal significaria que a Missa do antigo rito passaria
a ser celebrada livremente em todo mundo pelos sacerdotes que assim o desejarem.
Esta
medida não estaria directamente relacionada com o problema do cisma lefebvrista, pois
como teólogo, o Papa sempre expressou o seu interesse em recuperar esta liturgia.
No entanto, este poderia ser um passo importante para resolver o cisma, pois a possibilidade
de celebrar livremente a Missa de São Pio V é um dos pontos de tensão com os lefebvristas.
Na
semana passada, os Bispos da França revelaram, no final da sua assembleia plenária,
que o Papa “deveria dar, nas próximas semanas ou meses, as directivas necessárias
para facilitar o caminho destinado ao regresso possível a uma plena comunhão” com
a Fraternidade de São Pio X.