A Cruz de Cristo é de certo modo o novo e verdadeiro arco-íris de Deus, que liga o
céu e a terra: Bento XVI na Missa de Ramos, com milhares de jovens, na Praça de São
Pedro
Especial solenidade assumiu, em Roma, o início da Semana Santa de 2006, com a celebração
de Ramos presidida por Bento XVI. O Papa centrou a sua homilia sobre a figura de Jesus
entrando em Jerusalém montado num jumentinho, cumprindo assim a profecia do Profeta
Zacarias, com as três características por este anunciadas : pobreza, paz e universalidade.,
Antes de mais, a pobreza. O Profeta anunciava que o messias seria “um rei dos
pobres, um pobre entre os pobres e para os pobres”. Esta “pobreza – observou – entende-se
no sentido dos anawim de Israel, daquelas almas crentes e humildes que encontramos
à volta de Jesus – na perspectiva da primeira bem-aventurança do Sermão da Montanha”.
Ora, advertiu Bento XVI, “uma pessoa pode ser materialmente pobre, mas ter o coração
cheio de avidez da riqueza e do poder que deriva da riqueza. Precisamente o facto
de viver na inveja e na cupidez, demonstra que uma pessoa pertence, no coração, ao
número dos ricos… No sentido de Jesus – no sentido dos profetas – a pobreza pressupõe
sobretudo a liberdade interior....pressuposto para superar a corrupção e a avidez
que devastam o mundo. Tal liberdade só se pode encontrar se Deus se tornar a nossa
riqueza; só se pode encontrar na paciência das renúncias quotidianas… “ Mas o Profeta
(Zacarias) mostra também que o Messias será um rei de paz, que fará desaparecer os
carros de guerra e os cavalos de batalha, que despedaçará os arcos e anunciará a paz.
“Na figura de Jesus isto concretiza-se mediante o sinal da Cruz. Esta é o arco quebrado,
de um certo modo é o verdadeiro arco-íris de Deus, que une o céu e a terra e lança
uma ponte sobre os abismos que separam os continentes. A nova arma, que Jesus nos
coloca nas mãos, é a cruz – sinal de reconciliação, sinal do amor mais forte do que
a morte." Finalmente - terceira afirmação do Profeta, o preanúncio da universalidade:
“O espaço do rei messiânico – recordou o Papa - já não é um determinado país que se
separaria dos outros, tomando inevitavelmente posição contra outros países. O seu
país é a terra, o mundo inteiro. Superando toda e qualquer delimitação, Ele cria unidade,
na multiplicidade das culturas… Por toda a parte, Ele é o mesmo, o Único, e assim
todos os fiéis congregados, na comunhão com Ele, estão também unidos entre si num
único corpo. Cristo domina fazendo-se Ele próprio nosso pão e dando-se a nós. É assim
que Ele constrói o seu Reino. “As três características anunciadas pelo Profeta
– pobreza, paz, universalidade – resumem-se no sinal da Cruz. É por isso que, justamente,
a Cruz se tornou o centro das Jornadas Mundiais da Juventude…”. “De Colónia a
Sidney – um caminho através dos continentes e das culturas, um caminho que atravessa
um mundo dilacerado e atormentado pela violência! Simbolicamente, é como o caminho
de um mar a outro mar, do rio até aos confins da terra. É o caminho d’Aquele que,
no sinal da Cruz, nos dá a paz e nos torna portadores da sua paz. Agradeço os jovens
que agora levarão pelas estradas do mundo esta Cruz, na qual como que podemos tocar
o mistério de Jesus. Rezemos-Lhe para que, ao mesmo tempo, Ele nos toque e abra os
nossos corações, para que seguindo a sua Cruz nos tornemos mensageiros do seu amor
e da sua paz.
No final da Eucaristia, por volta do meio-dia, o Papa dirigiu
saudações, em diversas línguas, aos vários grupos de peregrinos presentes. Estas as
palavras pronunciadas em português: “Saúdo com grande afecto os jovens de língua
portuguesa aqui presentes. Convido a todos a aclamar a Cristo, luz e vida dos homens,
e a escutar com viva admiração suas palavras de paz e de reconciliação: ‘Tende confiança,
eu venci o mundo’. Até Sidney, se Deus quiser!”