2006-03-22 13:55:33

O primeiro Consistório do Pontificado de Bento XVI deixa entrever uma nova estratégia para a Igreja.


No próximo dia 24 terá lugar no Vaticano, o primeiro Consistório do Pontificado, para a criação de 15 novos Cardeais (três não eleitores), recolocando o número de eleitores num eventual conclave em 120.

A matemática não é, contudo, o principal destaque das escolhas do Papa. Esse lugar cabe à geografia: a partir do próximo Consistório, a Europa passará a contar com 60 Cardeais eleitores; América Latina - 20; América do Norte - 16; Ásia - 13; África - 9; Oceania - 2. O país com mais Cardeais eleitores continuará a ser a Itália (21), seguido dos EUA (13); Espanha e França (6 cada).

O Consistório fica marcado por uma forte atenção à Ásia, deixa adivinhar mudanças na Cúria Romana e permite confirmar as prioridades e o estilo de governo do pontificado do Papa Ratzinger.

Entre os novos Cardeais encontramos espaço para vários percursos de fé e posições teológicas que irão oferecer, sem dúvida, um importante contributo para a vida da Igreja universal, desde a "rectidão doutrinal" de D. William Levada, sucessor de Joseph Ratzinger na Congregação para a Doutrina da Fé, ao contributo do Arcebispo esloveno D. Franc Rodè na reconciliação nos Balcãs.

O Papa, contudo, lança o seu olhar bem para além da Cúria Romana para fazer opções estratégicas claramente definidas, consagrando a "universalidade de proveniências e missões" dos próximos Cardeais.

Moderação e diálogo

Um rápido olhar sobre os números do Colégio Cardinalício mostram a predominância da Europa, que sai reforçada no próximo Consistório: oito dos 15 novos Cardeais são do Velho Continente, a braços com o avanço do laicismo, do relativismo e de governos que optam pelo confronto com a Igreja.

Diálogo e moderação são palavras que assentam a figuras como D. Jean-Pierre Ricard, presidente da Conferência Episcopal Francesa, ou o italiano D. Carlo Caffarra, especialista em Teologia Moral. O Arcebispo de Toledo, D. Antonio Cañizares, mostra a face da firmeza perante a laicização promovida pelo governo socialista de Zapatero, sem cair em posições mais intransigentes.

Também a escolha do Arcebispo de Boston, D. Sean O'Malley, se pode ler a esta luz, perante o seu trabalho de reconciliação após o escândalo de pedofilia que afectou a sua diocese.

Igreja perseguida

As apostas "periféricas" do Papa, contudo, são as que se apresentam carregadas com um maior simbolismo: o Arcebispo de Caracas é nomeado Cardeal poucos meses após ter iniciado a sua missão; o Bispo de Hong Kong vê "recompensado" o seu papel na defesa da Igreja e da liberdade perante o regime da China: o Arcebispo de Manila e o Arcebispo de Seul reforçam a aposta do Papa na Ásia, continente que representa o maior desafio para a acção missionária da Igreja.

D. Jorge Urosa Sabino, na Venezuela, é uma nomeação de risco num momento em que a Igreja e as outras religiões vêm a sua liberdade ameaçada pelas investidas do presidente Hugo Chávez. O futuro Cardeal é, contudo, um homem de combate e o voto de confiança do Papa reforçará o seu esforço perante o autoritarismo de Chávez. Em situação semelhante de se encontra D. Joseph Zen Ze-Kiun, embora a situação da Igreja Católica na China seja bem mais preocupante do que na Venezuela.

Todas estas escolhas devem ser lidas, ainda, tendo em conta as últimas mudanças na diplomacia do Papa: o Núncio no Iraque, D. Fernando Filoni, foi enviado para as Filipinas, maior país católico da Ásia, após ter sido o único diplomata ocidental a permanecer em Bagdad durante a pior fase da guerra; o anterior Núncio nas Filipinas, D. Antonio Franco, viu ser-lhe confiado um cargo de grande confiança, como novo Núncio Apostólico em Israel e no Chipre, para além de desempenhar a missão de delegado apostólico em Jerusalém e na Palestina.

D. Pietro Sambi, que desempenhava estas funções na Terra Santa, segue agora para o local onde poderá, verdadeiramente, defender os interesses dessas comunidades cristãs, ao ser nomeado como Núncio nos EUA - para além de ser o novo observador permanente da Santa Sé junto da Organização dos Estados Americanos.
(ECCLESIA )
 







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