Ordem Hospitaleira de São João de Deus celebra 400 anos de presença em Portugal
A Ordem Hospitaleira de São João de Deus apresentou o programa celebrativo dos seus
400 anos em Portugal, no qual se incluem Congressos, Colóquios, Concertos, encontros,
peregrinações e uma sessão solene comemorativa. As celebrações prolongam-se até 2007.
A
Ordem tem origem na acção e exemplo de vida de S. João de Deus que, em 1538, em Granada
(Espanha), iniciou a nova maneira de tratar e acolher os pobres, os doentes e os necessitados,
sendo por isso um marco importante na história da medicina.
Em 1606, os Irmãos
de S. João de Deus vêm para Montemor-o-Novo e, na terra natal do seu fundador, iniciam
a expansão da Ordem em Portugal. Difundiu-se pela metrópole e chegou à Índia e ao
Brasil. Nesse período a sua acção não era tão específica como na actualidade. Em Lisboa,
os irmãos dedicaram-se a cuidar de clérigos pobres. No período subsequente à Restauração
da nacionalidade, tomaram conta de vários hospitais, em localidades próximas da fronteira.
O
crescimento numérico da Ordem e as circunstâncias históricas do tempo aconselharam
a que se criasse a Província de S. João de Deus em Portugal. O que veio a acontecer
no ano de 1671, libertando assim os Irmãos portugueses de possíveis tensões de carácter
político com os superiores espanhóis de que dependiam, até essa data.
O segundo
período de permanência em Portugal iniciou-se em 1891 e ainda não terminou. Tudo começou,
quando amainada a sanha contra as congregações religiosas, o Superior Geral da Ordem,
incentivado pelo Papa Pio IX, enviou o P. Bento Menni para Espanha, com a incumbência
de "restaurar a Ordem no seu berço". Foi na sequência dessa arrojada decisão que entraram
de novo em Montemor-o-Novo dois irmãos espanhóis que aí restauraram a ermida de S.
João de Deus. Em seguida, veio a Portugal o próprio P. Bento Menni que, sendo hóspede
do Cardeal Patriarca, em S. Vicente de Fora, colocou três irmãos à frente do hospício
de Santa Marta para cuidar dos "clérigos enfermos", mas por pouco tempo. Bento Menni,
sacerdote plenamente imbuído do carisma de S. João de Deus, desejava ardentemente
que os Irmãos se dedicassem aos mais carenciados e menos protegidos socialmente. Em
Portugal identificou, ao tempo, duas categorias de excluídos sociais que decidiu acarinhar
e proteger: as crianças e os doentes mentais.
Para as crianças, criou em Aldeia
da Ponte, na Diocese da Guarda, um asilo (colégio) para meninos pobres, que apenas
funcionou de 1892 a 1897. Porém, mais tarde, a assistência às crianças viria a ser
retomada tanto no Hospital Infantil de Montemor-o-Novo como noutras instituições criadas
pelas Irmãs Hospitaleiras e que ainda continuam a funcionar.
Para os doentes
mentais, depois de aturadas diligências, adquiriu uma quinta no lugar do Telhal, onde,
em 1893, com anuência verbal do Patriarca de Lisboa, como era praxe da época, por
razões políticas, se estabeleceu o que viria a ser o centro nevrálgico da Ordem em
Portugal. A casa do Telhal, que chegou a ser visitada pelo Doutor Afonso Costa, graças
às diligências do P. Menni e à excepcional humanidade com que aí eram tratados os
doentes mentais, passou incólume a onda republicana que decretou a extinção de todas
as congregações religiosas. Daí irradiou para todo o território português de então
o carisma de S. João de Deus que está na origem das múltiplas instituições da Ordem
Hospitaleira, inclusive a casa das Irmãs Hospitaleiras da Idanha, aberta em 1894.
Em
1928, foi restaurada a Província de S. João de Deus em Portugal da qual, durante muitos
anos, estiveram dependentes todas as casas do actual território português e bem assim
as de África, da Ásia e da Oceânia. Em Portugal, nunca se poderá escrever nem a história
da Igreja nem a história da Psiquiatria sem ter em conta a gesta de amor, de ciência
e de humanidade levada a cabo por esses homens e mulheres que, através de S. João
de Deus, descobriram o rosto de Cristo nos pobres e nos doentes. Actualmente, os Irmãos
de São João de Deus estão presentes em 8 Centros Assistenciais, dos quais 6 se dedicam
à Psiquiatria e Saúde Mental, assim como outras áreas de actuação, como as Dependências,
a Psicogeriatria, a Reabilitação Psicossocial e os Sem-Abrigo representando 40% do
número de camas no Continente e 50% nos Arquipélagos dos Açores e Madeira.