Na Missa de abertura do ano judicial, o Patriarca de Lisboa apelas á busca da verdade
na Justiça. Legalidade e moralidade devem coincidir, alerta aos legisladores
O Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, defendeu que “a Justiça tem de assentar
na verdade”.
Na homilia da Missa de Abertura do Ano Judicial, celebrada em
Lisboa, D. José Policarpo frisou que o sistema judicial precisa de “gente idónea,
moralmente credível”, tendo como missão “escutar as pessoas”, “procurar, acima de
tudo, a verdade” e “desejar que a aplicação da justiça restabeleça a harmonia entre
as pessoas”.
Esta reflexão, dedicada ao tema “A Justiça e a humanização da
Cidade”, retoma o fio condutor das últimas intervenções do Patriarca, em que coloca
a Igreja e a sociedade lado a lado, sublinhando que “a Igreja não quer dominar a Cidade,
mas contribuir para a sua humanização”.
“Ainda no contexto do Congresso Internacional
para a Nova Evangelização em que nos propusemos anunciar, sempre de novo, a doutrina
de Jesus Cristo, porque acreditamos que dela continua a brotar luz decisiva para a
construção harmónica da sociedade, gostaria de relacionar, hoje e aqui, a administração
da justiça, com o Evangelho e a sabedoria cristã”, indicou.
Lei e quadros
morais
D. José Policarpo criticou as correntes de pensamento para as quais
“a fé e a religião nada têm a ver com a solução dos problemas concretos da cidade”.
“Reduz-se a fé à sua expressão cúltica, esquecendo que, a par da dimensão celebrativa,
a fé cristã tem uma inevitável incidência ética, portadora de um quadro de valores
que se tornam cultura, e de que o crente não pode abdicar no exercício das suas funções
específicas ao serviço da sociedade. Porque se torna cultura, esta incidência ética
do Evangelho pode ter uma repercussão mais vasta do que a própria prática religiosa”,
lamenta.
“Nenhum sistema judicial, por mais perfeito que seja, garantirá cabalmente
a justiça na sociedade, se esta não assentar, do ponto de vista cultural, na busca
da verdade e da justiça. Nem todas as injustiças chegam aos tribunais”, explica o
Cardeal lisboeta.
D. José Policarpo lembrou que as leis são “ponto de referência
objectivo da aplicação da justiça” e defendeu que “os legisladores deveriam procurar
que a legalidade coincidisse sempre com a moralidade”.
Numa alusão a várias
propostas legislativas relacionadas com os problemas da vida e da família, o Patriarca
de Lisboa precisa que a moralidade não deve ser concebida “necessariamente como moral
religiosa, mas como moralidade inspirada no quadro cultural, em cujo caldear também
entrou a perspectiva religiosa, que apenas sublinha e plenifica a moral natural”.
“É uma situação culturalmente preocupante, tendência das sociedades contemporâneas,
quando a legalidade não respeita a moralidade”, alerta.