2006-01-26 18:36:18

Na Missa de abertura do ano judicial, o Patriarca de Lisboa apelas á busca da verdade na Justiça. Legalidade e moralidade devem coincidir, alerta aos legisladores


O Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, defendeu que “a Justiça tem de assentar na verdade”.

Na homilia da Missa de Abertura do Ano Judicial, celebrada em Lisboa, D. José Policarpo frisou que o sistema judicial precisa de “gente idónea, moralmente credível”, tendo como missão “escutar as pessoas”, “procurar, acima de tudo, a verdade” e “desejar que a aplicação da justiça restabeleça a harmonia entre as pessoas”.

Esta reflexão, dedicada ao tema “A Justiça e a humanização da Cidade”, retoma o fio condutor das últimas intervenções do Patriarca, em que coloca a Igreja e a sociedade lado a lado, sublinhando que “a Igreja não quer dominar a Cidade, mas contribuir para a sua humanização”.

“Ainda no contexto do Congresso Internacional para a Nova Evangelização em que nos propusemos anunciar, sempre de novo, a doutrina de Jesus Cristo, porque acreditamos que dela continua a brotar luz decisiva para a construção harmónica da sociedade, gostaria de relacionar, hoje e aqui, a administração da justiça, com o Evangelho e a sabedoria cristã”, indicou.

Lei e quadros morais

D. José Policarpo criticou as correntes de pensamento para as quais “a fé e a religião nada têm a ver com a solução dos problemas concretos da cidade”. “Reduz-se a fé à sua expressão cúltica, esquecendo que, a par da dimensão celebrativa, a fé cristã tem uma inevitável incidência ética, portadora de um quadro de valores que se tornam cultura, e de que o crente não pode abdicar no exercício das suas funções específicas ao serviço da sociedade. Porque se torna cultura, esta incidência ética do Evangelho pode ter uma repercussão mais vasta do que a própria prática religiosa”, lamenta.

“Nenhum sistema judicial, por mais perfeito que seja, garantirá cabalmente a justiça na sociedade, se esta não assentar, do ponto de vista cultural, na busca da verdade e da justiça. Nem todas as injustiças chegam aos tribunais”, explica o Cardeal lisboeta.

D. José Policarpo lembrou que as leis são “ponto de referência objectivo da aplicação da justiça” e defendeu que “os legisladores deveriam procurar que a legalidade coincidisse sempre com a moralidade”.

Numa alusão a várias propostas legislativas relacionadas com os problemas da vida e da família, o Patriarca de Lisboa precisa que a moralidade não deve ser concebida “necessariamente como moral religiosa, mas como moralidade inspirada no quadro cultural, em cujo caldear também entrou a perspectiva religiosa, que apenas sublinha e plenifica a moral natural”.

“É uma situação culturalmente preocupante, tendência das sociedades contemporâneas, quando a legalidade não respeita a moralidade”, alerta.








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