"Irmãos caríssimos e predilectos, por causa dos Patriarcas": Bento XVI ao Rabino Chefe
de Roma, recebido em audiência.
Irmãos caríssimos e predilectos”, “nós vos amamos e não podemos não amar-vos” e isso
“por causa dos pais [patriarcas]”: palavras calorosas, mais que cordiais, dirigidas
por Bento XVI ao rabino chefe da comunidade judaica de Roma, Riccardo Segni, recebido
em audiência nesta segunda de manhã. Num discurso argumentado com múltiplas referências
bíblicas o Papa evocou “a responsabilidade de cooperar a bem de todos os povos, na
justiça e na paz”, e transmitir às novas gerações “a chama [o facho] do Decálogo e
da esperança”. Evocando o cântico de Moisés, que exalta a acção salvadora do
“Eterno” no êxodo do Egipto e na passagem do Mar Vermelho, Bento XVI exprimiu o desejo
de “renovar” este cântico de gratidão juntamente com o actual responsável da “comunidade
hebraica presente em Roma desde há mais de dois mil anos”: “o povo de Israel (observou)
foi libertado diversas vezes das mãos dos inimigos, e nos séculos de anti-semitismo,
nos momentos dramáticos da Shoà [Holocausto], sustentou-o e guiou-o a mão do Omnipotente”,
“dando-lhe forças para suportar as provações”. O Papa fez questão de exprimir
a “vizinhança e amizade” da Igreja Católica em relação à bimilenária comunidade judaica
de Roma: “Sim, nós vos amamos e não podemos não vos amar, em razão dos patriarcas:
devido a eles, vós sois para nós irmãos caríssimos e predilectos. Depois do Concílio
Vaticano II, tem vindo a crescer esta estima e confiança recíproca, com contactos
cada vez mais fraternos e cordiais, intensificados ao longo do pontificado do meu
venerado predecessor João Paulo II”. “Em Cristo, nós participamos da mesma herança
dos patriarcas, para servir o Omnipotente ‘sob um mesmo jugo’, enxertados no único
tronco santo do Povo de Deus. Isto torna-nos a nós, cristãos, conscientes de termos,
juntamente convosco, a responsabilidade de cooperar para o bem de todos os povos,
na justiça e na paz, na verdade e na liberdade, na santidade e no amor”. “À luz desta
missão comum”, (cristãos e hebreus) não podem deixar de “denunciar e combater com
decisão o ódio e as incompreensões, injustiças e violências”. Daqui a “amargura e
preocupação” do Papa pelas “renovadas manifestações de anti-semitismo que por vezes
se registam”. As “emergências e desafios” que se apresentam, em Roma e não só
(observou Bento XVI a concluir) constituem um convite a “unir as nossas mãos e os
nossos corações em iniciativas concretas de solidariedade, de justiça e de caridade”.
“Conjuntamente podemos colaborar para transmitir às gerações jovens o facho com a
chama do Decálogo e da esperança”. O Rabino Di Segni lembrou, por seu lado, que
no próximo mês de Abril serão comemorados os 20 anos da histórica visita de João Paulo
II à Sinagoga de Roma, revelando ter convidado o actual Papa para um acto semelhante.
“A visita de João Paulo II foi um acontecimento único, mas nada impede que seja repetido
pelo novo Papa, que é sempre bem-vindo”, disse.