O drama de 860 milhões de crianças no mundo,desnutridas,traficadas,exploradas e doentes
A agência Fides, do Vaticano, acaba de publicar um dossier sobre as 860 milhões crianças
“desnutridas, traficadas, exploradas e doentes” no mundo, para quem o futuro não passa
de uma grande incógnita.
Num trabalho intitulado “Herodes: a matança dos inocentes
continua”, a agência do mundo missionário (www.fides.org) deixa vários alertas para
as situações de trabalho forçado, prostituição, fome, Sida, abandono e guerra.
Para
a Fides, estas situações são “o maior escândalo do nosso tempo” e afectam as vítimas
mais indefesas da globalização: 2,2 mil milhões dos habitantes do planeta são crianças
e metade delas vive na pobreza.
Os números apresentados espantam pela sua grandeza:
211 milhões de crianças entre os 5 e os 14 anos são obrigadas a trabalhar, e 120 milhões
fazem-no em “full-time”. Entre estas crianças há situações particularmente chocantes,
como a dos “intocáveis” de Tamil Nadu, na Índia, que trabalham dia e noite num verdadeiro
regime de escravatura.
Igualmente brutal é a situação das 300 mil crianças-soldado,
transformadas em máquinas de guerra treinadas para matar sem piedade, muitas vezes
em frentes de guerra esquecidas que ensanguentam mais de 40 países.
É a fome,
que se assume como a força mais devastadora: 11 milhões de crianças morrem antes de
ter completado cinco anos. A desnutrição afecta 800 milhões de pessoas, mais de metade
das quais são crianças, mas os números não ficam por aqui: uma em cada cinco crianças
não tem água potável e uma em cada sete não tem nenhuma forma de assistência sanitária.
Os
números da Sida assemelham-se, por outro lado, a um balanço de guerra: três milhões
de mortes, meio milhão das quais crianças, e dois milhões e meio de seropositivos
com menos de 14 anos. A cada minuto, uma criança é infectada com o HIV e uma morre
por doenças relacionadas com a doença.
Quanto ao tráfico de seres humanos,
a Fides lembra que, no mínimo, 1,2 milhões de menores de 18 anos estão envolvidos
nessas redes. O tráfico de órgãos também estará na origem de vários desaparecimentos
de menores em países subdesenvolvidos: um rim, o órgão mais requisitado, pode render
de 2 mil a 10 mil Euros, segundo o país.
A situação geral agrava-se quando
analisada no feminino: quatro milhões de meninas são compradas e vendidas para matrimónios
forçados, prostituição e escravatura. O quadro dos horrores não acaba aqui: em cada
ano são praticadas mutilações genitais em dois milhões de crianças, com especial relevo
para a África, onde esta prática chega a atingir 98% das mulheres.