BENTO XVI AO CORPO DIPLOMÁTICO: APELO EM FAVOR DA PAZ MUNDIAL
Cidade do Vaticano, 09 jan (RV) - O mundo atual é um mundo marcado por conflitos
"abertos ou latentes", mas também é um mundo no qual se registra um esforço corajoso
em direção da paz. Esses foram os temas afrontados por Bento XVI, em sua mensagem
para o recente Dia Mundial da Paz, e que retornaram com intensidade, na audiência
que o Papa concedeu, esta manhã, aos membros do corpo diplomático acreditado junto
à Santa Sé.
Bento XVI fez votos, entre outras coisas, de que possam coexistir
pacificamente na Terra Santa, palestinos e israelenses, condenou o terrorismo e invocou
a reconciliação para as áreas de conflito no globo, tais como o Golfo Pérsico, o Líbano,
e a região de Darfur, no Sudão, pedindo aos Estados que reduzam as despesas com armamentos,
destinando os recursos à solução das emergências humanitárias da Terra.
"O
sangue derramado não grita vingança, mas invoca respeito pela vida e pela paz": esse
foi um dos muitos apelos que os embaixadores junto à Santa Sé ouviram dos lábios de
Bento XVI, no tradicional discurso de votos de feliz ano novo aos diplomatas.
Após
a saudação do decano do corpo diplomático _ o embaixador da República de San Marino,
Giovanni Galassi _ o discurso do Pontífice desenvolveu-se no sentido de pedir a paz:
uma paz baseada na "verdade".
"O compromisso pela vida é a alma da justiça",
afirmou Bento XVI, estigmatizando aqueles "sistemas políticos" que, no passado, basearam
sua política na "mentira" e na "lei do mais forte".
A propósito da Terra Santa,
o Santo Padre ressaltou que "nela, o Estado de Israel deve poder subsistir pacificamente,
de conformidade com as normas do Direito Internacional; nela, igualmente, o povo palestino
deve poder desenvolver serenamente suas instituições democráticas para um futuro livre
e próspero".
Acerca do terrorismo, Bento XVI reconheceu que "suas causas são
numerosas e complexas; as causas ideológicas e políticas não são as últimas, misturadas
a concepções religiosas aberrantes", que têm como vítimas inteiras populações inocentes.
"Nenhuma circunstância pode justificar tal atividade criminosa, que cobre de infâmia
quem a cumpre, e que é ainda mais condenável quando usa uma religião como escudo,
reduzindo, desse modo, a pura verdade de Deus à medida da própria cegueira e perversão
moral" _ refletiu.
As diversidades entre os povos não deve ser um problema
para a coexistência. E para que o intercâmbio cultural reforce a tolerância, o Papa
pediu, dentre outras coisas com clareza, que sejam eliminados os obstáculos para o
acesso "à informação por meio da imprensa e dos modernos meios informáticos". Pediu
também que seja intensificado o intercâmbio de docentes e estudantes universitários
no campo das disciplinas humanísticas de várias culturas.
"O compromisso com
a verdade _ disse o Santo Padre _ dá fundamento e vigor ao direito de liberdade.
Somente com a primeira se torna possível o segundo, em todos os âmbitos pessoais e
sociais da existência."
"Infelizmente em alguns Estados, até mesmo entre aqueles
que gozam de tradições culturais multisseculares, a liberdade de religião, longe de
ser garantida, é, aliás, gravemente violada, em particular em relação às minorias.
A esse respeito gostaria somente de recordar quanto estabelecido com grande clareza
na Declaração Universal dos Direitos do Homem. Os direitos fundamentais do homem são
os mesmos em todas as latitudes; e, entre eles, um lugar de primeiro plano deve ser
reconhecido ao direito à liberdade de religião, porque diz respeito à relação humana
mais importante, a relação com Deus. A todos os responsáveis pela vida das nações
gostaria de dizer: se vocês não temem a verdade, não podem temer a liberdade!"
O
pensamento do Papa se deteve no Líbano, no Iraque e na África, de modo particular
na região dos Grandes Lagos e na região de Darfur, no Sudão.
Por fim, Bento
XVI falou da "esperança" nascida do compromisso pela paz; esperança à qual a diplomacia
pode oferecer e já oferece uma grande contribuição. Esperança que, para o Pontífice,
deve ser traduzida em solidariedade para com as pessoas que sofrem a fome, a miséria,
a necessidade de transformar-se em emigrantes, ou pior ainda, em mercadoria humana,
como se dá _ asseverou o Papa _ com "a chaga do tráfico de pessoas, que continua sendo
uma vergonha deste nosso tempo".
Atualmente, 174 Estados mantêm relações diplomáticas
com a Santa Sé. A estes se acrescentam a União Européia e a Soberana Ordem Militar
dos Cavaleiros de Malta, além de duas Missões de caráter especial: a Missão da Federação
Russa, conduzida por um embaixador; e o Escritório da Organização para a Libertação
da Palestina (OLP), conduzido por um diretor. (RL)