2005-12-26 11:27:58

O "paradoxo do Natal" interpela-nos, convidando a rever a nossa relação com a vida: Bento XVI na sua primeira mensagem "Urbi et Orbi"


“Feliz Natal para todos! O nascimento do Menino Jesus ilumine de alegria e paz vossos lares e nações!”: RealAudioMP3 esta a saudação pronunciada em português, nos votos de boas festas em variadas línguas do mundo inteiro que culminaram, em Roma, as celebrações do primeiro Natal do pontificado de Bento XVI.
Na sua mensagem “Urbi et Orbi”, o Papa fez-se eco do anúncio do Anjo aos pastores, convidando a humanidade a acolher o Salvador e advertindo o homem da era tecnológica de importantes progressos científicos e técnicos para o risco de “atrofia espiritual” e de “vazio do coração” que o ameaça. Bento XVI recordou também “a mensagem de esperança” lançada há quarenta anos pelo Concílio Vaticano II: “o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente”.
De entre as regiões do mundo mais carecidas de justiça e de paz, o Papa mencionou nomeadamente o Darfour, a Terra Santa, o Iraque, Líbano e a península coreana. “O paradoxo do Natal” – o criador omnipotente que se faz menino indefeso – advertiu o pontífice – interpela a nossa liberdade e convida-nos a “rever a nossa relação com a vida e o modo de a conceber”.


Foi a partir de uma frase de Santo Agostinho, seu lema para este Natal 2005 – “Desperta, ó homem! Por ti Deus Se fez homem!” – que Bento XVI convidou o homem do terceiro milénio a despertar:
“No Natal, o Omnipotente faz-Se menino e pede ajuda e protecção; o seu modo de ser Deus põe em crise o nosso modo de ser homens; o seu bater às nossas portas interpela-nos, interpela a nossa liberdade e pede-nos para rever a nossa relação com a vida e o nosso modo de a conceber. Muitas vezes, a Idade Moderna é apresentada como um despertar do sono da razão, como se a humanidade, saindo dum período escuro, chegasse à luz. Mas, sem Cristo, a luz da razão não basta para iluminar o homem e o mundo.”
“Ó homem moderno, adulto e todavia às vezes débil de pensamento e de vontade, deixa o Menino de Belém conduzir-te pela mão; não temas, confia n’Ele! A força vivificante da sua luz dá-te coragem para te empenhares na edificação duma nova ordem mundial, fundada sobre relações éticas e económicas justas. O seu amor guie os povos e ilumine a sua consciência comum de que são uma «família» chamada a construir relações de confiança e de mútuo apoio.”
O Papa observou que é “unida, (que) a humanidade poderá enfrentar os numerosos e preocupantes problemas da actualidade: desde a ameaça terrorista às condições de humilhante pobreza em que vivem milhões de seres humanos, desde a proliferação das armas às pandemias e à degradação ambiental que ameaça o futuro do planeta”.
Uma referência específica reservou-a Bento XVI, nesta sua primeira mensagem natalícia “Urbi et Orbi”, a algumas zonas da África e do Médio Oriente:
“Deus, que Se fez homem por amor do homem, ampare aqueles que trabalham em África a favor da paz e do desenvolvimento integral, opondo-se às lutas fratricidas, para que se consolidem as actuais transições políticas ainda frágeis e sejam salvaguardados os direitos mais elementares de quantos vivem em trágicas situações humanitárias, como no Darfour e noutras regiões da África central. Induza os povos latino-americanos a viverem em paz e concórdia. Infunda coragem nos homens de boa vontade que trabalham na Terra Santa, no Iraque, no Líbano, onde os sinais de esperança, que não faltam, aguardam por ser confirmados através de comportamentos inspirados pela lealdade e sabedoria; favoreça os processos de diálogo na Península Coreana e noutros países asiáticos, para que, superadas perigosas divergências, se chegue, com espírito conciliador, a coerentes desfechos de paz, tão ansiados por aquelas populações.”


Quase a concluir a sua mensagem de Natal 2005, o Santo Padre exortou a reencontrar a esperança a partir do que chamou “o paradoxo do Natal”: “a glória divina escondida na pobreza de um Menino envolvido em faixas e deposto numa manjedoura”, “o Criador do universo, reduzido à impotência de um recém-nascido”:
“Aceitar este paradoxo, o paradoxo do Natal, é descobrir a Verdade que liberta, o Amor que transforma a existência. Na Noite de Belém, o Redentor faz-Se um de nós, para ser nosso companheiro nas estradas insidiosas da história. Acolhamos a mão que Ele nos estende: é uma mão que não nos quer tirar nada, mas apenas dar.”

A rematar a sua primeira mensagem de Natal, Bento XVI evocou o “olhar amoroso de Maria, testemunha silenciosa”, fazendo votos “que Ela nos ajude a viver um bom Natal; nos ensine a guardar no coração o mistério de Deus, que por nós Se fez homem; nos guie ao testemunharmos no mundo a sua verdade, o seu amor, a sua paz”.












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