O "paradoxo do Natal" interpela-nos, convidando a rever a nossa relação com a vida:
Bento XVI na sua primeira mensagem "Urbi et Orbi"
“Feliz Natal para todos! O nascimento do Menino Jesus ilumine de alegria e paz vossos
lares e nações!”: esta a saudação pronunciada
em português, nos votos de boas festas em variadas línguas do mundo inteiro que culminaram,
em Roma, as celebrações do primeiro Natal do pontificado de Bento XVI. Na sua
mensagem “Urbi et Orbi”, o Papa fez-se eco do anúncio do Anjo aos pastores, convidando
a humanidade a acolher o Salvador e advertindo o homem da era tecnológica de importantes
progressos científicos e técnicos para o risco de “atrofia espiritual” e de “vazio
do coração” que o ameaça. Bento XVI recordou também “a mensagem de esperança” lançada
há quarenta anos pelo Concílio Vaticano II: “o mistério do homem só no mistério do
Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente”. De entre as regiões do mundo mais
carecidas de justiça e de paz, o Papa mencionou nomeadamente o Darfour, a Terra Santa,
o Iraque, Líbano e a península coreana. “O paradoxo do Natal” – o criador omnipotente
que se faz menino indefeso – advertiu o pontífice – interpela a nossa liberdade e
convida-nos a “rever a nossa relação com a vida e o modo de a conceber”.
Foi
a partir de uma frase de Santo Agostinho, seu lema para este Natal 2005 – “Desperta,
ó homem! Por ti Deus Se fez homem!” – que Bento XVI convidou o homem do terceiro milénio
a despertar: “No Natal, o Omnipotente faz-Se menino e pede ajuda e protecção;
o seu modo de ser Deus põe em crise o nosso modo de ser homens; o seu bater às nossas
portas interpela-nos, interpela a nossa liberdade e pede-nos para rever a nossa relação
com a vida e o nosso modo de a conceber. Muitas vezes, a Idade Moderna é apresentada
como um despertar do sono da razão, como se a humanidade, saindo dum período escuro,
chegasse à luz. Mas, sem Cristo, a luz da razão não basta para iluminar o homem e
o mundo.” “Ó homem moderno, adulto e todavia às vezes débil de pensamento e de
vontade, deixa o Menino de Belém conduzir-te pela mão; não temas, confia n’Ele! A
força vivificante da sua luz dá-te coragem para te empenhares na edificação duma nova
ordem mundial, fundada sobre relações éticas e económicas justas. O seu amor guie
os povos e ilumine a sua consciência comum de que são uma «família» chamada a construir
relações de confiança e de mútuo apoio.” O Papa observou que é “unida, (que) a
humanidade poderá enfrentar os numerosos e preocupantes problemas da actualidade:
desde a ameaça terrorista às condições de humilhante pobreza em que vivem milhões
de seres humanos, desde a proliferação das armas às pandemias e à degradação ambiental
que ameaça o futuro do planeta”. Uma referência específica reservou-a Bento XVI,
nesta sua primeira mensagem natalícia “Urbi et Orbi”, a algumas zonas da África e
do Médio Oriente: “Deus, que Se fez homem por amor do homem, ampare aqueles que
trabalham em África a favor da paz e do desenvolvimento integral, opondo-se
às lutas fratricidas, para que se consolidem as actuais transições políticas ainda
frágeis e sejam salvaguardados os direitos mais elementares de quantos vivem em trágicas
situações humanitárias, como no Darfour e noutras regiões da África central.
Induza os povos latino-americanos a viverem em paz e concórdia. Infunda coragem nos
homens de boa vontade que trabalham na Terra Santa, no Iraque, no Líbano,
onde os sinais de esperança, que não faltam, aguardam por ser confirmados através
de comportamentos inspirados pela lealdade e sabedoria; favoreça os processos de diálogo
na Península Coreana e noutros países asiáticos, para que, superadas
perigosas divergências, se chegue, com espírito conciliador, a coerentes desfechos
de paz, tão ansiados por aquelas populações.”
Quase a concluir a sua mensagem
de Natal 2005, o Santo Padre exortou a reencontrar a esperança a partir do que chamou
“o paradoxo do Natal”: “a glória divina escondida na pobreza de um Menino envolvido
em faixas e deposto numa manjedoura”, “o Criador do universo, reduzido à impotência
de um recém-nascido”: “Aceitar este paradoxo, o paradoxo do Natal, é descobrir
a Verdade que liberta, o Amor que transforma a existência. Na Noite de Belém, o Redentor
faz-Se um de nós, para ser nosso companheiro nas estradas insidiosas da história.
Acolhamos a mão que Ele nos estende: é uma mão que não nos quer tirar nada, mas apenas
dar.”
A rematar a sua primeira mensagem de Natal, Bento XVI evocou o “olhar
amoroso de Maria, testemunha silenciosa”, fazendo votos “que Ela nos ajude a viver
um bom Natal; nos ensine a guardar no coração o mistério de Deus, que por nós Se fez
homem; nos guie ao testemunharmos no mundo a sua verdade, o seu amor, a sua paz”.