2005-12-22 14:36:37

Encontro de Bento XVI com a Cúria Romana para a troca de Bons votos de Natal: o Papa traça um balanço de 2005 assinalando como factos de relevo a morte de João Paulo II, as jornadas de Colónia, o Ano da Eucaristia e os 40 anos do Concilio. O Papa salienta que a liberdade religiosa não pode significar triunfo do relativismo e aponta razão e fé como fromteira da nova evangelização


Na manhã desta quinta feira teve lugar na Sala Clementina no Vaticano o encontro de Bento XVI com a Cúria Romana para a troca de bons votos de Natal. Nesta ocasião o Papa apresentou um balanço do ano de 2005, assinalando como factos de relevo a morte de João Paulo II, as Jornadas de Colónia o Ano da Eucaristia, e os 40 anos do encerramento do Concilio Vaticano II.
Do seu predecessor de venerada memoria o Papa recordou em particular a lição que deu não só com os numerosos textos e actos, mas sobretudo com o próprio sofrimento, daquela cátedra do sofrimento que caracterizou os seus últimos dias. Recordou também a reflexão de João Paulo II sobre o mal, que não é invencível mas foi vencido por Cristo. “Nenhum Papa nos deixou uma quantidade de textos como a que ele (João Paulo II) nos deixou; nenhum Papa precedente pôde visitar, como ele, todo o mundo e falar de forma directa com os homens de todos os continentes, mas, no fim, tocou-lhe um caminho de sofrimento e de silêncio”, sublinhou.

Bento XVI classificou como “inesquecíveis”, em particular, as imagens do Domingo de Ramos, da Sexta-feira Santa e do Domingo de Páscoa, “no qual, através de toda a dor, vemos refulgir a promessa da ressurreição e da vida eterna”. Um breve capitulo do discurso foi dedicado ao contributo dado á Igreja pelas jornadas mundial da juventude ideadas por João Paulo II. O Papa referiu-se, ao primeiro grande encontro do seu pontificado com os jovens, as Jornadas Mundiais de Colónia, em Agosto. “As Jornadas Mundiais da Juventude permanecem na memória de todos os que estavam presentes como um grande dom”, assinalou.

Lembrando os cerca de 1 milhão de jovens que se juntaram para “rezar, ouvir a Palavra de Deus, receber os sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia, cantar e festejar em conjunto”, Bento XVI frisou que, durante aqueles dias, “reinava, simplesmente, a alegria”.

“Para todos aqueles que lá estavam presentes é inesquecível o silêncio daquele milhão de jovens, um silêncio que unia todos, quando o Senhor era posto no Sacramento sobre o altar”, apontou.

Para o Papa, tanto as JMJ como o recente Sínodo dos Bispos “mostraram que antes de qualquer actividade e de qualquer transformação do mundo, deve fazer-se a adoração”.

Na sequência desta reflexão, o Papa abordou a experiência do Sínodo dos Bispos, no Vaticano, durante o qual “se viu a riqueza da vida eucarística da Igreja de hoje e se manifestou a infindável riqueza da sua fé eucarística”.

“É comovente, para mim, ver como em toda a Igreja está a ressurgir a alegria da adoração eucarística e se manifestam os seus frutos”, apontou.
Partindo depois das recentes celebrações para os 40 anos da conclusão do Concilio o Papa contrapôs a ermeneutica da descontinuidade e da ruptura á ermeneutica da reforma. As duas interpretações do Concilio, disse, encontraram-se numa posição de confronto e brigaram entre si; uma causou confusão, a outra, silenciosamente, mas cada vez mais visivelmente, deu frutos. A primeira interpretação, segundo o Papa, não poucas vezes pode servir-se da simpatia dos mass-media e também de parte da teologia moderna, mas corre o perigo de terminar numa ruptura entre a Igreja preconciliar e a Igreja conciliar.
Bento XVI salientou depois os perigos ínsitos no facto de pensar que fidelidade ao Concilio deva ser sobretudo ao seu espírito mais do que aos textos, dando desta maneira espaço a todo o tipo de capricho. Não se deve considerar o Concilio como uma espécie de Constituinte, que elimina uma Constituição velha e cria uma outra nova, mas a Constituinte preciso de um mandante e depois de uma confirmação da parte do mandante, isto é do povo ao qual a Constituição deve servir; os padres conciliares não tinham tal mandato e ninguém o tinha dado; aliás minguem o podia dar visto que a constituição essencial da Igreja vem do Senhor.
Á ermeneutica da descontinuidade opõe-se a ermeneutica da reforma, observou o Papa, sublinhando logo o facto que esta ultima foi apresentada tanto por João XXIII como por Paulo VI.
Quarenta anos depois—este o pensamento do Papa – podemos relevar que o positivo é maior e mais vivo do que aquilo que podia aparecer na agitação dos anos á volta de 1968; hoje vemos que a boa semente, embora desenvolvendo-se lentamente, contudo cresce, e cresce também a nossa profunda gratidão pela obra desenvolvida pelo Concilio.
Uma ampla secção do discurso de Bento XVI aos cardeais, bispos e família pontifícia foi dedicada os problemas surgidas no post- concilio na relação entre deposito da fé e a sua enunciação em relação aos tempos modernos. Um ulterior parágrafo é sobre a relação entre a Igreja e as ciências modernas, desde Galileu até hoje, e entendendo também as ciências históricas, e sobre a relação entre a Igreja e o estado moderno. A verdadeira natureza da reforma conciliar, para o Papa, é no conjunto de continuidade e descontinuidade a níveis diferentes. E as decisões da Igreja acerca das coisas contingentes necessariamente deviam ser elas próprias contingentes. Entre tais formas contingentes, o Papa enumerou certas formas concretas de liberalismo ou de interpretação liberal da Bíblia. Há depois uma critica, considerando a liberdade de religião como expressão da incapacidade do homem de encontrar a verdade, porque deste modo se chega á canonização do relativismo, e de necessidade social e histórica é elevada de maneira imprópria a nível metafísico e é assim privada do seu verdadeiro sentido.
Uma igreja missionária que esteja empenhada no anuncio da sua mensagem a todos os povos, deve empenhar-se a favor da liberdade da fé. Ela deseja transmitir o dom da verdade que existe para todos e assegura ao mesmo tempo os povos e os seus governos que não quer destruir com isto a sua identidade e as suas culturas, mas pelo contrario traz-lhes uma resposta que no seu intimo esperam….uma resposta com a qual a multiplicidade das culturas não se perde, mas pelo contrario cresce a unidade entre os homens e assim também a paz entre os povos.
Bento XVI esclareceu depois o conceito de abertura ao mundo moderno enunciado pelo Concilio para salientar que não era intenção do mesmo abolir as contradições do Evangelho em relação aos perigos e erros do homem, mas que pelo contrario era sua intenção pôr de lado contradições erradas ou supérfluas, para apresentar a este nosso mundo a exigência do Evangelho em toda a sua grandeza e pureza.
A concluir o seu discurso á Cúria Romana Bento XVI formulou os seus bons votos recordando que o Senhor, ás ameaças da historia não se opôs com o poder exterior e que a sua arma é a bondade.








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