Bispos de Timor pedem verdade e justiça sobre a ocupação indonésia
O perdão do povo timorense às atrocidades cometidas pela Indonésia em Timor-Leste
só será possível depois de Jacarta apresentar desculpas públicas, defendeu em entrevista
à Agência Lusa o Bispo de Baucau, D. Basílio do Nascimento.
"Tem de haver uma
assunção de responsabilidade. Para haver absolvição na confissão, mesmo que não haja
reparação total - até porque o tipo de reparação será difícil, senão mesmo impossível
-, tem de haver o reconhecimento da culpa e, digamos assim, o arrependimento do facto
cometido", acrescentou.
D. Basílio do Nascimento referia-se ao debate sobre
a decisão da liderança política timorense em não publicitar o relatório da Comissão
de Acolhimento, Verdade e Reconciliação (CAVR). "A quem não se matou ninguém, quem
não perdeu nenhuma vítima por via da violência, olha-se para isto com drama mas sem
ferida, de forma pragmática. Mas quem sofreu, e viu matar familiares à sua frente,
passar assim uma esponja, assim sem mais em menos, eu penso que é um bocado ligeiro",
sustentou.
O Bispo de Baucau defende que a alternativa será a assunção da culpa
pela Indonésia.
"Deve haver pelo menos um reconhecimento, nem que seja diplomático.
Mas que haja um reconhecimento formal, uma declaração. Seria mais fácil", defendeu.
"Havendo
este pequenino gesto, devidamente publicado de modo a sensibilizar a opinião pública
timorense, estou convencido que as pessoas interpretariam este gesto, ou este sinal
de reconhecimento. Penso que mesmo os corações feridos e endurecidos o aceitariam",
frisou.
Por outro lado, o Bispo de Díli, D. Alberto Ricardo, escreveu ao secretário-geral
das Nações Unidas, Kofi Annan, reafirmando a necessidade de ser criado um Tribunal
Internacional que julgue os responsáveis pelas atrocidades cometidas em Timor-Leste,
durante a ocupação indonésia.
A carta, com data de 5 de Dezembro, reitera a
posição dos católicos timorenses quanto "à importância da justiça para o povo de Timor-Leste
e para a nossa jovem e frágil democracia".
"A relutância dos líderes políticos
em divulgar o relatório da Comissão de Acolhimento, Verdade e Reconciliação (CAVR)
ao povo é a prova de que os políticos pretendem esconder a verdade e assegurar que
não haja responsabilização dos culpados das atrocidades cometidas entre 1975 e 1999",
acusou.
Já em Agosto deste ano, os Bispos de Timor Leste pediram “a constante
intervenção das Nações Unidas para que se faça justiça ao povo timorense”. Os prelados
sustentam a proposta da ONU de instituir um tribunal internacional para julgar a violência
que atingiu milhares de pessoas durante a retirada indonésia da ilha em 1999.
Numa
declaração assinada por D. Basílio do Nascimento e D. Alberto Ricardo da Silva, ambos
pediam que “possa ser ouvida a voz dos timorenses que sofreram por causa da impunidade”. Redacção/Lusa