"NA VERDADE, A PAZ": MENSAGEM DE BENTO XVI PARA O 39º DIA MUNDIAL DA PAZ-2006
Cidade do Vaticano, 13 dez (RV) - "Na verdade, a paz": este é o tema da primeira
mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz _ o 39º _ que se celebrará no dia
1º de janeiro próximo. O documento foi apresentado esta manhã na Sala de Imprensa
da Santa Sé.
No texto, o Papa reitera "a firme vontade da Santa Sé de continuar
a servir a causa da paz" e ressalta que o próprio nome _ Bento XVI _ que escolheu
no dia de sua eleição à cátedra de Pedro, indica seu "convicto compromisso em favor
da paz". O nome, de fato, se refere quer a São Bento, padroeiro da Europa, "inspirador
de uma civilização pacificadora dentro do continente, quer ao Papa Bento XV, que condenou
a I Guerra Mundial como "tragédia inútil", e trabalhou, a fim de que todos reconhecessem
as razões superiores da paz".
A verdade leva à paz; a mentira a impede. O pensamento
do Papa se articula baseado nesses dois conceitos. No início da história _ afirma
_ existe o "pai da mentira", ao qual está ligado o drama do pecado com os seus "efeitos
devastadores na vida dos indivíduos e das nações".
"Basta pensar _ escreve
Bento XVI _ no que aconteceu no século passado, quando aberrantes sistemas ideológicos
e políticos mistificaram de modo programático a verdade, e levaram à exploração e
à supressão de um número impressionante de homens e de mulheres, exterminando até
mesmo inteiras famílias e comunidades."
Existem também as "mentiras do nosso
tempo, que são uma espécie de moldura de cenários de morte em muitas regiões do mundo".
"Nos
dias de hoje _ afirma o Pontífice _ a verdade da paz continua sendo comprometida e
negada, de modo dramático, pelo terrorismo, cujos desígnios insensatos são "inspirados
por um niquilismo trágico e arrebatador."
Mas existe também outro niquilismo:
o daqueles que "negam a existência de qualquer verdade". Existe ainda outra mentira
do nosso tempo: o fanatismo religioso, o fundamentalismo que quer impor com a violência,
a própria convicção acerca da verdade. Isso _ lemos no documento _ "significa violar
a dignidade do ser humano e, definitivamente, fazer um ultraje a Deus, de quem ele
é imagem".
O Papa une niquilismo e fundamentalismo, porque devastam a verdade
e são ligados "por um perigoso desprezo pelo homem e por sua vida" e, portanto, "pelo
próprio Deus". De fato, "o niquilismo nega a sua existência e a providente presença
na história; o fundamentalismo desfigura a sua face amorosa e misericordiosa".
Existem
outras mentiras: a "dos governantes que contam com as armas nucleares para garantir
a segurança de seus países": uma "perspectiva _ ressalta o Papa _ que além de ser
funesta, é totalmente falaz. De fato, numa guerra nuclear _ afirma _ não haveria vencedores,
mas somente vítimas".
Bento XVI denuncia com veemência "um aumento preocupante
das despesas militares" e um comércio de armas "sempre próspero", enquanto "estagna
no pântano de uma quase indiferença geral" o processo relativo ao desarmamento. Os
recursos destinados às armas poderiam, ao invés, ser empregados em "projetos de desenvolvimento"
em favor dos países mais pobres.
O Papa fala ainda, de outra mentira: a que
reduz a paz "a simples ausência de conflitos armados". A paz é o resultado de uma
ordem querida por Deus na qual reinam a verdade, a justiça, a liberdade e o amor.
Não
se pode falar de paz "quando vem a faltar a adesão à ordem transcendente das coisas,
bem como o respeito por aquela "gramática" do diálogo que é a lei moral universal,
inscrita no coração do homem, quando são obstruídos e impedidos o desenvolvimento
da pessoa e a tutela de seus direitos fundamentais, quando tantos povos são obrigados
a sofrer injustiças e desigualdades intoleráveis.
Em tais questões _ escreve
o Papa _ nos vemos todos envolvidos: "O problema da verdade e da mentira diz respeito
a todo homem e toda mulher, e é decisivo para um futuro pacífico do nosso Planeta".
Cada
um de nós "deve sentir-se comprometido" a trabalhar "a fim de que não se insinue nenhuma
forma de falsidade que polua as relações". "Todos os homens pertencem a uma única
e mesma família. A exaltação exasperada das próprias diferenças contrasta com essa
verdade de fundo".
"É preciso recuperar a consciência de estarmos unidos num
mesmo destino, em última instância transcendental, para poder valorizar melhor as
próprias diferenças históricas e culturais, sem contrapor-se, mas coordenando-se com
os pertencentes às outras culturas. São essas simples verdades que tornam possível
a paz."
"A verdade da paz _ escreve ainda Bento XVI _ chama todos a cultivar
relações fecundas e sinceras, estimula a buscar e a percorrer as estradas do perdão
e da reconciliação, a ser transparentes nas discussões e fiéis à palavra dada."
O
Papa nota "alguns sinais promissores", como a "queda numérica dos conflitos armados".
Trata-se de passos "ainda muito tímidos... mas já em condições de criar a perspectiva
de um futuro de maior serenidade... para as populações martirizadas da Palestina,
a terra de Jesus... da África e da Ásia". Sem, todavia, cair "num otimismo ingênuo"
porque "infelizmente, prosseguem ainda sangrentos conflitos e guerras devastadoras
que semeiam em vastas zonas da terra lágrimas e morte".
Nessas situações _
reitera depois o Pontífice _ é "dever" de todos respeitar "o direito internacional
humanitário, para limitar ao máximo, sobretudo para as populações, as conseqüências
devastadoras das guerras".
O Papa não esquece "os muitos soldados empenhados
em delicadas operações de composição dos conflitos e de restabelecimento das condições
necessárias à paz".
Nesse sentido, Bento XVI olha com confiança para a ONU,
à qual faz votos de "uma renovação institucional e operacional" que a coloque em condições
"de responder às muitas exigências da época moderna".
Por fim, o Papa lança
um forte apelo aos fiéis em Cristo a fim de que sejam "testemunhas convincentes de
Deus que é inseparavelmente verdade e amor, se colocando a serviço da paz numa ampla
colaboração ecumênica e com as outras religiões, bem como com todos os homens de boa
vontade".
"Diante dos riscos que a humanidade vive nesta nossa época, é tarefa
de todos os católicos intensificar, em todas as partes do mundo, o anúncio e o testemunho
do "Evangelho da paz", proclamando que... Deus é Amor que salva" e que "Jesus é a
verdade que nos dá a paz".
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A coletiva de apresentação
da mensagem de Bento XVI para o 39º Dia Mundial da Paz, na Sala de Imprensa da Santa
Sé, foi bastante concorrida. Foram muitos os jornalistas dos principais jornais internacionais
que dirigiram perguntas ao Cardeal Renato Raffaele Martino, Presidente do Pontifício
Conselho "da Justiça e da Paz", que presidiu a apresentação. (RL)