Conferência episcopal portuguesa abordou a retirada de crucifixos das escolas, minimizando
a decisão do governo
Sobre a possível retirada dos crucifixos das escolas públicas por ordem do Governo,
a Conferência Episcopal Portuguesa minimiza, dizendo que é mais uma questão de cultura
do que de religião. A conferência defende que ter ou não ter o símbolo deve caber
à instituição.
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) minimizou a importância
da retirada dos crucifixos das escolas públicas, considerando-os mais sinais culturais
do que símbolos religiosos. No final de uma reunião do Conselho Permanente, o porta-voz
da CEP, D. Carlos Azevedo, admitiu mesmo a presença de símbolos de outras religiões
nas escolas, no quadro de um Estado laico que deve permanecer “neutro” perante as
várias crenças. Naquela que foi a primeira tomada de posição da CEP sobre a polémica,
o seu porta-voz declarou ontem: “A Igreja Católica não pode exigir que eles [os crucifixos]
se mantenham nas escolas”, pelo que se trata de uma “questão de bom senso e de respeito
pela tradição cultural portuguesa”.
Nesse sentido, a CEP defende a autonomia
das comunidades educativas na decisão de retirar ou não os crucifixos, já que qualquer
decisão política não deve ir “contra o sentimento das populações”. “Se uma escola
tem várias sensibilidades religiosas pode haver até a convivência de símbolos religiosos.
Porque não a coexistência de vários símbolos religiosos numa escola, numa educação
para o ecumenismo?”, questionou o prelado. O porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa
recordou ainda que “não foi a Igreja que pediu que os crucifixos estivessem nas escolas,
foi em determinado momento da sociedade portuguesa que lá foram postos”. Trata-se,
alertou o responsável, de uma “questão de respeito para com um sinal que para os cristãos
é fundamental”, mas que também faz parte da cultura portuguesa.
Vidas crucificadas
Para
os cristãos, mais importante que os crucifixos nas paredes das escolas públicas “são
as vidas crucificadas de tanta gente que dá o corpo para que as pessoas pobres tenham
outra vida”. Os crucifixos fazem parte de outros sinais que “transportam a expressão
cultural da importância de um símbolo da cultura portuguesa e da vida de tanta gente
em Portugal”, considerou. Na sua opinião, o que importa é que “haja debate sem nenhum
exagero ou polémicas de questões religiosas que estão fora de tempo” e que a Igreja
“não quer levantar”. Para a Igreja, esta não é uma questão religiosa, mas uma matéria
de “sensibilidade e de bom senso e de respeito cultural”, explicou D. Carlos Azevedo,
que desafiou os governantes a assumirem as suas posições pessoais perante a Igreja
e a religião.