Belém, 09 dez (RV) - Os dois acusados de terem assassinado a missionária norte-americana
naturalizada brasileira, Dorothy Stang, serão levados hoje ao Tribunal do Júri de
Belém. A missionária, que pertencia à Congregação de Notre Dame de Namur, foi morta
em 12 de fevereiro, em Anapu, no Estado do Pará.
Este será o primeiro julgamento
dos 18 casos de assassinatos ocorridos neste ano no Pará em decorrência de conflitos
agrários. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), nos dezoito casos, existe a
suspeita de atuação de pistoleiros contratados por fazendeiros, madeireiros ou grileiros.
O julgamento está previsto para durar 24 horas e são esperadas cerca de 3 mil pessoas.
A sentença poderá ser proferida no sábado, Dia internacional dos Direitos Humanos.
Segundo
a Comissão Pastoral da Terra, de 1971 a novembro deste ano, 587 pessoas foram mortas
por envolvimento em disputas agrárias no sul e no sudeste do Pará. Apenas três destes
casos foram a julgamento.
Na coletiva de imprensa realizada ontem na sede da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Belém, os dois irmãos de Dorothy,
Marguerithe Stang Holm e David Stang, disseram acreditar na Justiça brasileira, mas
manifestam preocupação com os casos de impunidade e de ameaças. Eles vieram dos Estados
Unidos para acompanhar o julgamento.
O processo que investigou a morte da missionária
quase foi federalizado a pedido do Ministério Público Federal e da Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB). O pedido de transferência da competência da Justiça Estadual para
a Federal foi baseado no argumento de que o crime havia sido uma violação dos direitos
humanos.
Segundo a acusação, a morte de Dorothy foi encomendada porque o Projeto
de Desenvolvimento Sustentável Esperança, iniciativa de assentamento idealizada por
ela, contrariava os interesses dos fazendeiros. (JK)