RECRUDESCIMENTO DO CLIMA DE ATRITO ENTRE IGREJA E ESTADO NA ARGENTINA
Buenos Aires, 18 nov (RV) - O tema dos direitos humanos e da justiça para as
vítimas da ditadura _ prioridade absoluta para o Presidente Nestor Kirchner _ volta
a ser motivo de contrastes entre o governo e a Igreja Católica que, num documento
pastoral, denuncia o "risco de parcialidade" na análise sobre as violências perpetradas
na década de 70.
A resposta de Kirchner não se fez esperar. Alguns dias depois,
falando a jornalistas, o Presidente afirmou que sobre a pobreza e as violências de
30 anos atrás, "os bispos se enganam". O episódio conquistou as primeiras páginas
de todos os jornais argentinos.
Divulgado no último sábado, após uma semana
de reuniões, o texto episcopal examina vários aspectos da sociedade argentina, entre
os quais o escandaloso aumento das desigualdades na distribuição de rendas, que pode
gerar protestos violentos dos setores excluídos do mundo do trabalho.
Em sua
reflexão, os bispos não hesitaram em destacar a inesperada questão das violências
da década de 70, aludindo a certa parcialidade na interpretação dos fatos da época,
segundo a qual, grande parte das violações dos direitos humanos foram cometidas pelos
generais golpistas, e muito menos pela guerrilha.
O chefe de Estado, que assumiu
a causa dos 30 mil desaparecidos durante a ditadura militar, replicou que "as afirmações
da Igreja assemelham-se às de um partido político ligado ao poder temporal". (CM)