Rezar para que se torne possível a viagem do Papa a Moscovo: sugere Mons. Lajolo depois
da sua visita à capital russa, afirmando que não há obstáculos que possam resistir
ao sopro do Espirito.
Uma visita do Papa á Rússia seria certamente um grande encorajamento para os católicos,
os quais o esperam e acolheriam com grande entusiasmo. Mas não se pode verificar senão
num contexto ecuménico. De facto deveria levar a uma nova, mais positiva fase nas
relações entre a Santa Sé e o Patriarcado de Moscovo. Esta a convicção do arcebispo
Giovanni Lajolo, secretário Vaticano para as relações com os estados numa entrevista
á Rádio Vaticano após a sua viagem recente a Moscovo, sublinhando que com a Federação
Russa não existem grandes problemas e que as relações são profíquas.
Havia grande expectativa em relação a esta sua viagem a Moscovo, até
para verificar o clima que se respira na Rússia depois da eleição de Bento XVI. Que
balanço faz da visita?
“A visita teve lugar a convite do Ministro dos Negócios Estrangeiros,
Lavrov, e isto indica já o clima amistoso que caracterizou o nosso encontro, a 28
de Outubro. Cordiais e profícuos foram também os encontros do dia anterior e dos dias
seguintes, com outras personalidades políticas, com os quatro bispos católicos (na
sede da Nunciatura Apostólica) e com o Metropolita Kyrill, presidente da Comissão
para as relações religiosas externas – do Patriarcado Ortodoxo de Moscovo (na sua
sede). A imprensa, a televisão e a rádio deram a notícia com interesse e em sentido
positivo.”
Teve também ocasião de se encontrar com a comunidade católica russa,
a começar pelo arcebispo Kondrusiewicz. Qual é hoje a situação dos católicos na Federação
Russa?
“A comunidade católica na Rússia é reduzida: 600 mil fiéis, dispersos por um território
imenso, no meio de uma população de cerca de 144 milhões de habitantes, em grande
parte ortodoxos. É uma comunidade pequena em número, mas de profunda fé, convicta,
dinâmica. Mas vive confrontada com problemas objectivamente difíceis como a falta
de sacerdotes. As relações com os ortodoxos são por vezes complicadas, dadas as diferenças
do percurso histórico de cada uma das duas comunidades, e das suas diversas sensibilidades
em relação a alguns problemas pastorais concretos. Mas seria também errado esquecer
que muitas vezes há também relações positivas. A pequena Igreja católica na Rússia
tem necessidade de simpatia, de apoio moral, de socorro e de contactos fraternos frequentes
da parte das grandes comunidades católicas de outros países.”
Passemos aos momentos mais significativos da visita. Antes de mais
o encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros, com o qual assinou um comunicado
conjunto. Quais os pontos de convergência com o Kremlim, relativamente à política
mundial?
"Não foi difícil defini-los: o empenho a favor da paz, onde esta
se encontra em perigo; a acção concertada, a nível internacional, contra os flagelos
da pobreza, da fome, das pandemias; o incremento de uma atenção recíproca, no seio
das grandes organizações internacionais como a ONU, o Conselho da Europa e a OCSE."
Acha que há razões para esperar uma ulterior melhoria das relações
diplomáticas entre Moscovo e a Santa Sé, chegando finalmente ao estabelecimento de
relações ao mais alto nível?
"Actualmente as relações são asseguradas pela presença em Moscovo
e em Roma de duas Missões de carácter especial, encabeçadas respectivamente por um
Núncio Apostólico e por um Embaixador, que desenvolvem já uma excelente actividade,
pelo que na prática a Santa Sé e o governo russo mantêm relações fluídas e profícuas.
A actual forma de relações provoca apenas um certo embaraço do ponto de vista protocolar,
porque este “carácter especial” parece quase exprimir a presença de reservas recíprocas,
o que não é verdade. Creio que seria lógico avançar para uma solução de plena normalidade,
mas, por diversas razões, não é ainda possível fixar um calendário para tal. "
Um dos momentos fortes desta viagem, de particular alcance ecuménico,
foi o encontro com o Metropolita Kyrill. À luz deste colóquio, como julga o estado
actual das relações com o Patriarcado ortodoxo de Moscovo?
"Tenho a convicção, antes de mais, de que o Patriarcado – tal como Santa Sé, deseja
que as relações sejam cada vez mais fraternas, abertas, confiantes. Há dificuldades
recíprocas objectivas, que requerem um estudo mais aprofundado. A Comissão Mista constituída
há tempos para analisar as divergências, deveria ser periodicamente utilizada, com
regularidade, e com constância, sem nos deixarmos desanimar por dificuldades ocasionais,
aliás inevitáveis. Esta Comissão constitui um instrumento de diálogo que não deixará
de dar os seus frutos."
Entrevistado pela agência de notícias russa “Blgovest-Info”, o senhor arcebispo
afirmou que uma viagem apostólica do Papa à Rússia “constituiria um acontecimento
ecuménico muito significativo e importante”, acrescentando que “deveria representar
um motivo de alegria e de esperança, não só para os católicos, mas para toda a Rússia”.
Pensa que Bento XVI poderá vir a realizar aquilo que foi, para o seu predecessor,
um grande desejo nunca satisfeito?
- "Os católicos russos aguardam o Papa. A sua visita seria para eles de grande encorajamento
e enchê-los-ia de entusiasmo. É óbvio que a visita só pode ter lugar no contexto ecuménico.
O encontro do Santo Padre deve ser um testemunho de fraternidade cristã perante o
mundo inteiro. É importante que seja marcado por uma profunda alegria e que abra as
portas a uma colaboração mais intensa em todos os campos possíveis. Poderá realizar-se?
Rezemos. Não há obstáculos que possam resistir ao sopro do Espírito".