Carlos de Foucauld, o testemunho da oração e da amizade
Neste domingo, 13 de Novembro, foibeatificado na basílica de São Pedro o Irmão Carlos
de Foucauld, padre diocesano, morto em 1916. A Rádio Vaticano entrevistou a esse propósito
o Irmão Gianluca Bono, dos Irmãozinhos do Evangelho (instituto que se inspira na espiritualidade
de Carlos de Foucauld), membro da Fraternidade de Spello, na Úmbria (Itália).
- Em poucas palavras, um perfil biográfico de Carlos de Foucauld?
- “Carlos de Foucauld nasceu em França, de uma família nobre, em 1858. Viveu a maior
parte da sua juventude na indiferença religiosa, procurando, como ele próprio diz,
“sufocar o tédio numa vida de festas”. Primeiro como oficial francês na Argélia, e
depois como explorador em Marrocos, entrou em contacto com muitos muçulmanos sinceros
e devotos, e começou a colocar-se algumas questões de fundo. O testemunho e o afecto
de uma sua prima, católica fervorosa, e do Padre Huvelin, que se tornará o seu director
espiritual, ajudá-lo-ão a abrir-se à chamada de Deus: volta de facto à fé e decide
tornar-se religioso. Precisará de vários anos para encontrar a sua vocação definitiva:
procurará conformar-se com Jesus, humilde artesão em Nazareth (na Terra Santa). Depois
de passar diversos anos como monje trapista e depois como eremita em Nazareth, decide
viver um testemunho de oração e de amizade entre as populações pobres do Sahará, ganhando
a estima e o afecto de muitos, para além das diferenças de língua, cultura e religião.
Morre a 1 de Dezembro de 1916, sozinho, morto por um bando de salteadores. Os seus
amigos Tuaregues choraram-no como um dos seus. Anos depois da sua morte, começa a
surgir uma numerosa família espiritual que nele se inspira.”
- Em que ambiente viveu e actuou Carlos de Foucauld ?
- “O Irmão Carlos viveu a maior parte da sua vida, antes de depois da conversão, em
países de língua árabe de maioria muçulmana. Conheceu a Síria e a Palestina. Amou
intensamente o Marrocos, mas viveu sobretudo no Sahará argelino. Nestes países, os
cristãos encontram-se em minoria, e Carlos de Foucauld deu início a um estilo de testemunho
evangélico assente na amizade, na partilha de vida e no respeito recíproco. Foi muito
importante a sua actividade de estudo da língua e da cultura dos Tuaregues, para conhecer
a fundo o povo com o qual partilhava a vida. Num certo sentido pode-se dizer que foi
um precursor da inculturação, anticipando uma visão missionária que só depois do Concílio
Vaticano II se tornou comum.”
- Qual a característica peculiar da sua espiritualidade?
- “Carlos de Foucauld viveu profundamente a experiência da misericórdia de Deus: sentiu-se
acolhido e amado depois de uma vida de ociosidade e indiferença. A sua resposta ao
amor gratuito e acolhedor do Pai foi uma grande paixão por Jesus Cristo e pelo Seu
Reino. Carlos era um verdadeiro enamorado de Jesus, e sentia-se atraído sobretudo
pelo mistério de Nazareth, daqueles trinta anos que Jesus viveu como modesto carpinteiro,
imerso no meio da massa das pessoas simples, com uma vida feita de oração, de trabalho
humilde, de amizade. De Foucauld foi um homem de grande silêncio e oração, profundamente
ligado ao Mistério eucarístico, e ao mesmo tempo apaixonado pela humanidade, pela
justiça, preocupado com que se reconhecesse aos pobres e aos escravos a sua dignidade
de filhos de Deus. Soube estabelecer uma grande unidade na sua vida, sempre à busca
do rosto de Cristo – reconhecido ao mesmo tempo, e (poder-se-ia dizer) com o mesmo
realismo – tanto no Pão eucarístico como no pobre que bate à porta.”
- Qual a mensagem de C. de Foucauld para o homem de hoje?
- “As pessoas de hoje, tão tentadas pela dispersão e pelo materialismo, podem descobrir
a dimensão contemplativa da sua existência. Não se trata de fugir para o deserto,
mas de descobrir o quotidiano como lugar concreto da santidade. Cada um de nós é chamado
a descobrir Cristo como o verdadeiro amigo, n’Ele unificando toda a nossa vida, tornando-nos
homens e mulheres integrais. Não há separação entre a vida concreta, feita de trabalho
e de relações, e o caminho espiritual. Possamos nós viver como Jesus em Nazareth e
descobrir o seu rosto na Eucaristia e nos pobres. Nisto nos precede Carlos de Foucauld,
como também no indicar-nos o diálogo e o respeito pelas culturas e pelas religiões,
numa época em que se propagandeia o confronto de civilizações.”