Arcebispo de Paris defende novas mediações para a sociedade em crise
O Arcebispo de Paris, D. André Vingt-Trois, disse esta quinta feira em Lisboa que
a sociedade francesa deve suscitar “novas mediações” para fazer face à onda de violência
que rebentou no país durante as últimas semanas.
“Não estamos perante acontecimentos que sejam imputáveis a uma categoria de pessoas,
não podemos encontrar representantes de determinados grupos para nos sentarmos e discutir
a situação”, frisou, em conferência de imprensa à margem do ICNE.
Esta falta de interlocutores interpela os responsáveis a “suscitar mediações”, defendeu
o prelado, lembrando que essa “não é uma tarefa da polícia”, mas de elementos intermediários
que existem “nas Igrejas, associações e nas obras sociais”.
“Quando somos obrigados a decretar um recolher obrigatório para que as nossas crianças
não estejam na rua, isso significa que alguém não fez bem o seu trabalho”, acrescentou.
As falhas do sistema escolar e a crise da instituição familiar foram algumas das preocupações
apresentadas pelo Arcebispo, que criticou duramente as “organizações que instrumentalizam”
esta crise.
Quarta feira, a Conferência Episcopal Francesa encerrou os trabalhos da sua assembleia
plenária com duras críticas ao recurso à violência por parte dos jovens nos subúrbios
das cidades francesas e um apelo ao restabelecimento da ordem, sublinhando que “a
repressão, só por si, e a incitação ao medo colectivo não são uma resposta à altura
das tensões dramáticas da nossa sociedade”. Religião no espaço público
D. André Vingt-Trois fez ainda eco das conclusões da assembleia plenária no que se
refere à defesa de uma “laicidade de participação”, ou seja, uma concepção da laicidade
que não promova a “ignorância recíproca” entre Religião e Estado, mas sim o diálogo.
O Arcebispo lamentou a tentação do poder de negar “espaço público ao Cristianismo”
para não ter de ceder esse mesmo espaço ao Islão. “Não posso admitir a visão sociológica
que fala num choque de civilizações”, disse, sustentando que cristãos e muçulmanos
sãos as duas forças capazes de “promover uma mudança”.
No contexto do Congresso Internacional para a Nova Evangelização, D. Vingt-Trois sublinhou
a colaboração “discreta e eficaz” entre a Câmara Municipal de Lisboa e a organização
do ICNE, referindo que a mesma seria quase impossível na sua cidade.
Sobre a experiência do Congresso, o prelado contesta a ideia de que “nada muda”, tomando
como referência a sessão de Paris (2004) para vincar que “nas paróquias começou a
surgir algo de novo” após as iniciativas promovidas por ocasião do ICNE.
Mais do que as conferências e os ateliers, a Diocese ficou marcada pelo trabalho feito
ao nível paroquial, que se estende até hoje, pelo “testemunho público de ser cristãos”
e pela consciência de “pertencer a uma Igreja, com algo a fazer”.
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