18% da população adulta mundial não sabe ler nem escrever
"Saber ler e escrever, de forma compreensível, uma frase simples sobre o seu quotidiano",
o requisito mínimo para que possa considerar-se um indivíduo "literado", é um desafio
fora do alcance de quase um quinto (18%) da população adulta mundial. A constatação
é feita pela UNESCO, no relatório "Education for All - Literacy for Life" (Educação
para Todos - Literacia para a Vida), divulgado ontem no Reino Unido.
O estudo, encomendado por esta agência das Nações Unidas, aponta várias causas e soluções
para o problema, mas destaca duas frentes essenciais, onde os desníveis são mais gritantes
por um lado, há um grupo de apenas 12 países, onde vivem 75% dos 771 milhões de pessoas
maiores de 15 anos que não possuem competências básicas a este nível. Só na Índia,
vivem 34,6% desse total. Por outro, subsistem as disparidades entre géneros no acesso
à educação, que levam a que 64% dos adultos iliterados continuem a ser mulheres. Por
cada 100 homens adultos que sabem ler e escrever, apenas 88 mulheres têm as mesmas
habilitações.
Reduzir em 50% o número de iliterados até 2015 foi um dos cinco compromissos relacionados
com a Educação e assumidos na cimeira dos "Objectivos do Milénio" (Dacar, 2000) das
Nações Unidas. Mas, para os autores deste estudo da UNESCO, esse tem sido o mais ignorado
dos desafios, apesar da sua comprovada relação de causa/efeito com outros temas como
o combate à pobreza , a higiene, o planeamento familiar e a prevenção de doenças como
o HIV.
A educação continua a não ser prioritária para os doadores, sobretudo nos níveis de
escolaridade mais básicos, que recebem apenas 2,6% do total da Ajuda Oficial ao Desenvolvimento.
Em 2003, foram atribuídos 5,7 mil milhões de euros à educação. Deste valor, 60% foi
destinado ao ensino pós-secundário - apesar de 100 milhões de crianças continuarem
por matricular em escolas primárias e de as verbas destinadas a programas de literacia
de adultos serem consideradas "minúsculas". Além disso, verifica-se uma distribuição
"desproporcional" dos recursos, com alguns países com melhores indicadores a receberem
mais do que outros mais carenciados.
Em termos relativos , as populações iliteradas concentram-se sobretudo na África Subsariana,
Sul e Este da Ásia, Ásia Oriental e Pacífico, mas as realidades destas regiões são
muito distintas. Entre 1990 e 2004, a China reduziu o número de iliterados em 94 milhões,
contribuindo decisivamente para a recuperação mundial (100 milhões no mesmo período).
Mas em países como o Bangladesh, Etiópia, Marrocos e Paquistão, os indicadores continuam
a piorar.