2005-11-09 17:11:38

TRABALHO ESCRAVO EM AUMENTO NA AMÉRICA DO SUL, AFIRMAM ESPECIALISTAS


Rio de Janeiro, 09 nov (RV) - As modernas formas de escravidão aumentaram em vários países da América do Sul, com maior evidência no Brasil, Paraguai e Bolívia. A afirmação foi feita ontem, por especialistas no assunto, no curso de seminário que está se realizando no Rio de Janeiro.

"Pior que não conseguir trabalho é não conseguir sair dele" _ diz um documento do "Seminário Internacional Trabalho Escravo por Dívida e Direitos Humanos", patrocinado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Na América Latina, calcula-se que haja 1,2 milhões de pessoas submetidas a diferentes formas de trabalho forçado, declarou à agência de notícias espanhola EFE, Eduardo Bedoya, investigador da OIT. Essa escravidão moderna se diferencia da clássica, na qual o escravizador não é dono da pessoa, mas de seu tempo. "A servidão por dívida é um caso típico, que ocorre nas sociedades rurais latino-americanas" _ explicou o antropólogo Bedoya.

Na região, há um destaque para a Bolívia, com casos "perversos" no corte de madeira, extração de castanhas e na safra de cana-de-açúcar. Nesse país, ademais, há "comunidades cativas" no Chaco, com cerca de 12 mil pessoas confinadas em fazendas, pagando dívidas que não são próprias, com uma jornada de trabalho superior a 12h/dia, informou Bedoya. "São dívidas pagas por pais, mães e filhos, às vezes herdadas, e as pessoas ainda são castigadas com chicotadas", acrescentou.

No vizinho Peru, a OIT calcula que, aproximadamente, 16 mil pessoas são escravizadas na exploração da madeira de lei, e no Chaco paraguaio há milhares de pessoas em fazendas de gado. "O trabalho forçado e exploração extrema como relações trabalhistas foram novamente ativados", afirmou o investigador.

No Brasil, a Pastoral do Migrante, da Igreja Católica, calcula que aproximadamente 12 mil bolivianos em situação irregular poderiam estar trabalhando em fábricas em São Paulo, afirmou o sacerdote francês P. Xavier Jean Marie Plassat, coordenador de uma campanha contra o trabalho escravo no campo, no âmbito da Pastoral da Terra, em andamento em vários estados brasileiros.

Segundo o governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que mantém uma campanha nacional contra esta exploração, no meio rural brasileiro há pelo menos 25 mil escravos modernos. P. Plassat confirma essa cifra, mas assinala que esse conceito de escravidão reserva aos casos de trabalho degradante "com alguma forma de cerceamento da liberdade".

"É evidente que o trabalho escravo não será erradicado até o final de 2006", como prometeu Lula quando assumiu a presidência do Brasil, mas se avançou no reconhecimento do problema, acrescentou P. Plassat. 70% dos escravos rurais estão nas fazendas de gado e no desmatamento da selva amazônica. Também há escravos na indústria agrícola do algodão, do café, da cana-de-açúcar, do feijão e do tomate, explicou o sacerdote.

Para o investigador Ricardo Rezende, coordenador do Grupo de Pesquisas do Trabalho Escravo Contemporâneo, da UFRJ, esse é um problema internacional que afeta países ricos e pobres. No Brasil há ainda escravos africanos e asiáticos, sobretudo em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, segundo os investigadores. (MZ)







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