A onda de violência que abala a França e se começa a estender a outros países europeus
não pode ser atribuída a comunidades de imigrantes. Quem o diz é José Coutinho da
Silva, um português que assume a direcção do Serviço da Pastoral das Migrações da
Conferência Episcopal Francesa.
“Tem-se feito muita confusão entre imigrantes e os jovens dos bairros, que não são
imigrantes. A grande maioria destes jovens são franceses, seja qual for a cor da pele
ou as origens culturais das suas famílias”, referiu à Agência ECCLESIA.
“É demasiado fácil dizer que tudo isto é um problema de imigração, mas a sociedade
francesa tem de perceber que este é um problema de integração de gente que foi colocada
em guetos”, acrescentou.
A marginalização, a enorme taxa de desemprego, a perda da autoridade parental são
alguns dos factos apontados por José da Silva para melhor entender esta crise de violência,
apesar de vincar que “nada a pode justificar”. “Há jovens, em certos bairros, que
nunca viram o pai trabalhar”, ilustra.
“À força de serem marginalizados, de perderem empregos por não terem um nome tipicamente
gaulês, os jovens são encurralados numa identidade que não é a deles e isso pode levar
a uma revolta”, prossegue.
Mais de 6.000 veículos foram incendiados em toda a França desde que começaram os distúrbios,
a 27 de Outubro, assim como dezenas de autocarros e de edifícios públicos.
ODirector do Serviço da Pastoral das Migrações na Igreja francesa
sublinha que a Igreja foi alertando, “mais por actos do que por palavras”, para a
necessidade de olhar com atenção para a vida dos bairros mais problemáticos. Uma situação
precária que foi agravada pelos “cortes nos subsídios às associações que lá trabalhavam”,
por parte dos dois últimos governos.
“Os católicos estão muito presentes na animação dos bairros, junto dos jovens e dos
desempregados. Praticamente não há associações onde os cristãos não estejam presentes,
junto de gente de todas as origens”, assegura.
Falando numa “auto-flagelação” e de “suicídio” destes bairros problemáticos, José
da Silva adianta que muitos jovens tentam fugir do destino que tinha sido reservado
aos seus pais. “Atendendo aos estudos que fizeram, os filhos dos pedreiros não querem
ser pedreiros e as filhas das empregadas domésticas não querem a mesma profissão”,
exemplifica.