BENTO XVI DEDICA O ANGELUS AO SIGNIFICADO QUE O CONCÍLIO VATICANO ALCANÇOU COM A "DEI
VERBUM"
Cidade do Vaticano, 06 nov (RV) - Quarenta anos atrás, a Igreja redescobria,
sob uma nova luz, a essência da Revelação de Jesus, graça à constituição dogmática
"Dei Verbum", do Concílio Vaticano II.
Na alocução que habitualmente precede
a oração mariana do Angelus, Bento XVI se deteve, neste domingo, falando aos fiéis
e peregrinos reunidos na Praça São Pedro, a comentar a atualidade desse documento
conciliar, reiterando a centralidade do Evangelho na vida da Igreja e a responsabilidade
dos bispos em transmitir na íntegra a sua mensagem.
Uma Palavra de Deus lida
pessoalmente numerosas vezes, meditada com o intelecto e com o coração, quase que
"ruminada", para colher internamente a essência da Revelação de Jesus, assim como
a Igreja, desde seu nascimento, recebe vida e orientação do Evangelho, transmitido
ao longo dos séculos pelos bispos.
Da janela de seus aposentos, na residência
apostólica vaticana, Bento XVI dedicou o Angelus deste domingo ao significado que
o Concílio Vaticano II alcançou, com a aprovação, no dia 18 de novembro de 1965, da
constituição dogmática "Dei Verbum" _ um documento que o próprio Papa definiu como
"uma das colunas de todo o edifício conciliar".
Sob um céu encoberto e uma
chuva persistente, milhares de fiéis e peregrinos desafiaram o tempo inclemente e
se reuniram para ouvir a reflexão do Pontífice, que participou do Concílio, sobre
a importância da Dei Verbum, dedicada _ explicou Bento XVI _ à Revelação de Deus,
feita por Cristo, com a sua vida terrena; à transmissão desse mistério; e à interpretação
da Sagrada Escritura _ todos elementos fundamentais da vida e do ensinamento que,
há dois mil anos, a Igreja testemunha e difunde no mundo.
"Os apóstolos e seus
sucessores, os bispos, são os depositários da mensagem que Cristo confiou à sua Igreja,
a fim de que fosse transmitida, na íntegra, a todas as gerações. A Sagrada Escritura
do Antigo e do Novo Testamentos e a sagrada Tradição contêm tal mensagem, cuja compreensão
progride na Igreja, sob a assistência do Espírito Santo. Essa mesma Tradição faz conhecer
o cânon integral dos Livros sagrados e os torna retamente compreensíveis e operantes,
de modo que Deus, que falou aos Patriarcas e aos Profetas, não cessa de falar à Igreja
e, por meio dela, ao mundo."
Bento XVI reafirmou uma verdade evidente aos olhos
da fé: a Igreja, disse, "não vive de si mesma, mas do Evangelho; e do Evangelho sempre
adquire orientação para o seu caminho". Graças à "Dei Verbum", um novo e "forte impulso"
foi dado "à valorização da Palavra de Deus". E o demonstram 40 anos de teologia, de
catequese, de ecumenismo florescidos do Concílio Vaticano II.
"Entre os múltiplos
frutos dessa primavera bíblica, gosto de mencionar _ enfatizou o Papa _ a difusão
da antiga prática da "lectio divina" ou "leitura espiritual" da Sagrada escritura.
Ela consiste em permanecer longamente num texto bíblico, lendo-o e relendo-o, quase
"ruminando-o", como dizem os Padres, e experimentando, por assim dizer, toda a "substância",
a fim de que nutra a meditação e a contemplação e chegue a irrigar _ como linfa _
a vida concreta."
Ao concluir sua alocução, antes da recitação do Angelus,
o Papa recordou que a atitude de Maria, que acolhe o Arcanjo Gabriel lendo as Escrituras
é uma metáfora da própria Igreja que _ como o Concílio Vaticano escreveu na "Dei Verbum",
permanece em "religiosa escuta da Palavra de Deus":
"Rezemos a fim de que,
como Maria, a Igreja seja dócil serva da Palavra divina e a proclame sempre com firme
confiança, de modo que "o mundo inteiro escutando, creia; crendo, espere; e esperando,
ame"." (RL)