2005-11-03 18:28:10

DOM ROMERO MORREU POR TER DEFENDIDO OS DIREITOS EM NOME DA FÉ


Roma, 03 nov (RV) - Dom Romero "foi assassinado por ter defendido, em nome da fé, os direitos humanos que a Igreja proclama hoje, como seu "primeiro e fundamental caminho"". É o que sublinha a revista "La Civiltà Cattolica", dos jesuítas italianos, em um artigo de aprofundamento dedicado ao Arcebispo salvadorenho, "objeto de profunda veneração, mas também de acirradas críticas" e "personagem do qual tentaram "se apoderar"".

Dom Oscar Arnulfo Romero foi assassinado no dia 24 de março de 1980 quando celebrava a missa. Sua causa de beatificação, segundo alguns, caminha muito lentamente.

A revista dos jesuítas italianos estabelece uma significativa comparação entre Dom Romero e Thomas Becket "assassinado em 1170, na Catedral de Cantuária, por iniciativa dos "poderosos" de seu tempo, e depois santificado pela Igreja".

"Thomas Becket, cujas anotações pessoais estão sendo revistas pela Secretaria de Estado do Vaticano, foi assassinado, porém _ insiste a revista _ por ter defendido os legítimos direitos da Igreja, que o rei da Inglaterra queria transformar em instrumento do próprio poder, enquanto Dom Romero foi sumariamente executado por ter defendido, em nome da fé, os direitos humanos, que a Igreja proclama hoje, como "primeiro e fundamental caminho" da Igreja."

"Becket _ continua a revista _ foi assassinado na Catedral, símbolo da grandeza e da majestade de Deus, que o homem é chamado a adorar; Dom Romero foi assassinado na pequena capela de um hospital, sinal visível da Igreja que se coloca ao lado do homem sofredor."

O artigo, firmado pelo jesuíta P. Gian Paolo Salvini, é uma reconstrução atenta do contexto histórico e eclesial no qual Dom Romero atuou e foi assassinado, e das relações do Arcebispo com o Vaticano. Dentre os elementos examinados, está o papel de Dom Romero em defesa dos pobres, sua tentativa de "manter o difícil equilíbrio entre a mensagem evangélica e o compromisso político-social, sem fazer coincidir o primeiro com o segundo", o que o levou a ser "definido reacionário".

O artigo descreve também sua relação com os jesuítas salvadorenhos, com os membros do Opus Dei e com outros bispos, tentando trazer à luz, a natureza das críticas dirigidas contra Dom Romero, algumas das quais interferindo nas relações com o Vaticano.

"Seu prestígio e a sua fama _ observa a "La Civiltà Cattolica" _ acabaram atraindo a hostilidade de muitos de seus irmãos no episcopado." A revista analisa também o desentendimento entre Dom Romero e o então Núncio Apostólico em El Salvador, Dom Emanuele Gerada, que "acabou colocando-o em desacordo com Roma e fazendo-o sentir-se ainda mais sozinho".

Após a eleição de João Paulo II, reconstrói P. Salvini, foi enviado a San Salvador um Visitador Apostólico, com a proposta de nomear um Administrador Apostólico que substituísse, em tudo ou em parte, Dom Romero. Quando, em 1980, Dom Romero passou por Roma, foi à Audiência Geral, foi reconhecido pelo Papa que quis se encontrar com ele privadamente, mesmo não tendo sido previamente agendado um encontro.

"Poucas semanas após _ revela a revista _ Dom Romero foi assassinado covardemente, numa ação claramente decidida depois da constatação de que Roma não o teria substituído nem afastado do governo pastoral da Arquidiocese."

João Paulo II definiu-o como um dos "novos mártires" do século XX.

"Será necessário muito tempo _ conclui P. Salvini em seu artigo _ para fazer um juízo sereno sobre sua personalidade, tão controvertida, mas, ao mesmo tempo, tão significativa e exemplar para a Igreja dos nossos dias." (MZ)







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