DOM ROMERO MORREU POR TER DEFENDIDO OS DIREITOS EM NOME DA FÉ
Roma, 03 nov (RV) - Dom Romero "foi assassinado por ter defendido, em nome
da fé, os direitos humanos que a Igreja proclama hoje, como seu "primeiro e fundamental
caminho"". É o que sublinha a revista "La Civiltà Cattolica", dos jesuítas italianos,
em um artigo de aprofundamento dedicado ao Arcebispo salvadorenho, "objeto de profunda
veneração, mas também de acirradas críticas" e "personagem do qual tentaram "se apoderar"".
Dom
Oscar Arnulfo Romero foi assassinado no dia 24 de março de 1980 quando celebrava a
missa. Sua causa de beatificação, segundo alguns, caminha muito lentamente.
A
revista dos jesuítas italianos estabelece uma significativa comparação entre Dom Romero
e Thomas Becket "assassinado em 1170, na Catedral de Cantuária, por iniciativa dos
"poderosos" de seu tempo, e depois santificado pela Igreja".
"Thomas Becket,
cujas anotações pessoais estão sendo revistas pela Secretaria de Estado do Vaticano,
foi assassinado, porém _ insiste a revista _ por ter defendido os legítimos direitos
da Igreja, que o rei da Inglaterra queria transformar em instrumento do próprio poder,
enquanto Dom Romero foi sumariamente executado por ter defendido, em nome da fé, os
direitos humanos, que a Igreja proclama hoje, como "primeiro e fundamental caminho"
da Igreja."
"Becket _ continua a revista _ foi assassinado na Catedral, símbolo
da grandeza e da majestade de Deus, que o homem é chamado a adorar; Dom Romero foi
assassinado na pequena capela de um hospital, sinal visível da Igreja que se coloca
ao lado do homem sofredor."
O artigo, firmado pelo jesuíta P. Gian Paolo Salvini,
é uma reconstrução atenta do contexto histórico e eclesial no qual Dom Romero atuou
e foi assassinado, e das relações do Arcebispo com o Vaticano. Dentre os elementos
examinados, está o papel de Dom Romero em defesa dos pobres, sua tentativa de "manter
o difícil equilíbrio entre a mensagem evangélica e o compromisso político-social,
sem fazer coincidir o primeiro com o segundo", o que o levou a ser "definido reacionário".
O
artigo descreve também sua relação com os jesuítas salvadorenhos, com os membros do
Opus Dei e com outros bispos, tentando trazer à luz, a natureza das críticas dirigidas
contra Dom Romero, algumas das quais interferindo nas relações com o Vaticano.
"Seu
prestígio e a sua fama _ observa a "La Civiltà Cattolica" _ acabaram atraindo a hostilidade
de muitos de seus irmãos no episcopado." A revista analisa também o desentendimento
entre Dom Romero e o então Núncio Apostólico em El Salvador, Dom Emanuele Gerada,
que "acabou colocando-o em desacordo com Roma e fazendo-o sentir-se ainda mais sozinho".
Após a eleição de João Paulo II, reconstrói P. Salvini, foi enviado a San
Salvador um Visitador Apostólico, com a proposta de nomear um Administrador Apostólico
que substituísse, em tudo ou em parte, Dom Romero. Quando, em 1980, Dom Romero passou
por Roma, foi à Audiência Geral, foi reconhecido pelo Papa que quis se encontrar com
ele privadamente, mesmo não tendo sido previamente agendado um encontro.
"Poucas
semanas após _ revela a revista _ Dom Romero foi assassinado covardemente, numa ação
claramente decidida depois da constatação de que Roma não o teria substituído nem
afastado do governo pastoral da Arquidiocese."
João Paulo II definiu-o como
um dos "novos mártires" do século XX.
"Será necessário muito tempo _ conclui
P. Salvini em seu artigo _ para fazer um juízo sereno sobre sua personalidade, tão
controvertida, mas, ao mesmo tempo, tão significativa e exemplar para a Igreja dos
nossos dias." (MZ)