DIVORCIADOS RECASADOS: PROBLEMA PUNGENTE QUE TODO BISPO CONHECE, E O PAPA TAMBÉM,
AFIRMA CARDEAL KASPER
Cidade do Vaticano, 25 out (RV) - A proibição de dar a comunhão aos divorciados
recasados continua sendo uma "ferida" para a Igreja, não obstante o Sínodo dos Bispos
tenha discutido sobre a questão. É o que pensa _ e o que disse hoje, sem meios termos
_ o Cardeal Walter Kasper, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade
dos Cristãos, que esteve, em 1995, entre os bispos alemães que promoveram a iniciativa
de se encontrar uma solução para os fiéis excluídos da comunhão.
O Cardeal
Kasper, então Bispo de Rottenburg-Stuttgart, firmou, com Dom Oskar Saier, então Arcebispo
de Friburgo, e o Cardeal Karl Lehmann, Bispo de Mainz e Presidente da Conferência
Episcopal Alemã, uma declaração na qual se sugeria a possibilidade de dar a comunhão
aos divorciados, após um adequado percurso pastoral e penitencial. A declaração foi
contestada pela Congregação para a Doutrina da Fé, então guiada pelo Cardeal Joseph
Ratzinger, hoje Papa Bento XVI.
A exclusão da comunhão, dos divorciados recasados
_ argumentou o Cardeal Kasper, numa coletiva de imprensa realizada ontem, por ocasião
da apresentação do ato comemorativo que se realizará em Roma, na próxima quinta-feira,
27 de outubro, pelos 40 anos de promulgação da declaração conciliar "Nostra Aetate
_ continua sendo um "doloroso problema pastoral" que "todo bispo" conhece e sobre
o qual deve "refletir para encontrar uma resposta".
O Cardeal Kasper acrescentou
que "todo pastor sabe de casos em que seria oportuno encontrar soluções, e o próprio
Papa, durante suas férias em Vale d'Aosta, convidou a refletir sobre tais casos. Esta
é também a minha posição" _ disse o Cardeal.
As "proposições" elaboradas pelo
Sínodo não modificaram em nada a posição da Igreja sobre os divorciados recasados:
eles não devem sentir-se excluídos da Igreja, são convidados a participar da missa,
mas não podem participar da comunhão porque não respeitaram a indissolubilidade do
matrimônio.
"Não posso imaginar _ disse o Cardeal Kasper, comentando os trabalhos
do Sínodo _ que essa seja uma discussão fechada. É uma situação de fato e se deve
refletir para encontrar uma resposta.
No discurso aos párocos de Vale d'Aosta,
durante suas férias, Bento XVI falou do "sofrimento" dos divorciados recasados, explicando
que a Congregação para a Doutrina da Fé havia recebido numerosos dossiers, enviados
pelas conferências episcopais, sobre o problema.
Em particular, o Papa falou
da situação daquelas pessoas casadas com rito religioso, mas apenas por convenção
cultural; depois se separaram e, tendo chegado a uma fé consciente, iniciam uma nova
união. Nesses casos, a única saída seria a declaração de nulidade do primeiro casamento
enquanto "sacramento celebrado sem fé", dando, assim, a possibilidade de um segundo
casamento na Igreja, com readmissão à plena comunhão e aos sacramentos.
Uma
solução pastoral para todos os divorciados recasados _ e não somente para quem pode
pedir a nulidade matrimonial _ não muito diversa da proposta feita pelos bispos alemães
em 1995, foi pedida ao Sínodo, pelo Presidente do Episcopado da Nova Zelândia, Dom
John Atcherley Dew, Arcebispo de Wellington, que chamou a atenção de muitos bispos,
de vários países do mundo, entre eles, o Cardeal Carlo Maria Martini, Arcebispo emérito
de Milão. (MZ)