SOLENE CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA PRESIDIDA POR BENTO XVI INAUGURA TRABALHOS DA ASSEMBLÉIA
SINODAL
Cidade do Vaticano, 02 out (RV) - A solene concelebração eucarística presidida
por Bento XVI, na Basílica de São Pedro, esta manhã, abriu oficialmente, os trabalhos
da XI Assembléia Geral do Sínodo dos Bispos, inteiramente dedicada à Eucaristia. Concelebraram
com o Pontífice cerca de 320 cardeais, patriarcas e prelados.
Durante a liturgia
e depois, no Angelus, o Papa pediu a Deus e à Virgem Maria que assistam de modo especial,
a Igreja empenhada nessa reflexão colegial, para alcançar, afirmou ele, "uma consciência
cada vez mais clara da própria missão a serviço do Redentor realmente presente no
sacramento da Eucaristia".
O "vinho" da alegria e da presença amorosa de Deus,
pago a caro preço com a morte de seu Filho e deixado como dom "indestrutível" à humanidade
_ através d'Ele _ na Eucaristia, ao invés do vinagre da auto-suficiência, do conflito
e da indiferença de quem é tentado a reduzir Deus a "uma simples frase devota".
A
partir de amanhã e durante três semanas, 256 cardeais e bispos estarão refletindo
sobre o mistério central da vida cristã. O convite do Papa é um verdadeiro "programa
de trabalho": Que a dar valor a esse encontro não sejam somente "palavras bonitas"
que os padres sinodais saberão dedicar à Eucaristia, mas a experiência de força que
brota desse Sacramento que fala de sacrifício e de amor, de morte e de vida.
A
homilia de Bento XVI na missa inaugural do Sínodo foi uma progressão de reflexões
que se iniciaram pela constatação: Deus cria o homem à Sua imagem, e, portanto no
homem "brilha" um pouco do amor divino. Mas o homem tem consciência disso? Responde
a esse amor, se pergunta o Papa...
"Deus nos espera. Ele quer ser amado por
nós: um análogo apelo não deveria, certamente, tocar o nosso coração? Justamente nesta
hora em que celebramos a Eucaristia, em que inauguramos o Sínodo sobre a Eucaristia,
Ele vem ao nosso encontro, vem ao meu encontro. Encontrará uma resposta? Ou acontece
conosco como com a vinha da qual Deus diz a Isaías: "Ele contava com uma colheita
de uvas, mas ela só produziu uvas verdes?" A nossa vida cristã não é muitas vezes
muito mais vinagre do que vinho? Autocomiseração, conflito, indiferença?"
O
contraste entre as duas uvas _ a uva boa símbolo de justiça e a uva verde, emblema
da violência _ se faz mais estridente no Evangelho. Embora ali, a uva seja boa, são
os vinheiros que são injustos e cruéis, pretendendo ficar com o fruto da colheita.
Uma imagem grave, explicou Bento XVI: é o próprio Deus a ser desprezado, um pouco
como muitas vezes acontece no mundo de hoje...
"Nós homens, aos quais, por
assim dizer, é confiada a administração da criação, a usurpamos. Queremos ser os donos
em primeira pessoa e sozinhos. Queremos possuir o mundo e a nossa própria vida de
modo ilimitado. Deus se nos apresenta como um obstáculo. Ou se faz d'Ele uma simples
frase devota ou Ele é totalmente negado, banido da vida pública, de modo a perder
todo e qualquer significado. A tolerância, que admite Deus como opinião privada, mas
lhe rejeita o domínio público, a realidade do mundo e da nossa vida, não é tolerância,
mas hipocrisia. Onde o homem se faz único dono do mundo e proprietário de si mesmo,
não pode existir a justiça. Aí pode dominar somente o arbítrio do poder e dos interesses."
O
Deus das Escrituras, que submete a "vinha infiel" a um rigoroso julgamento, prosseguiu
o Papa, é o mesmo que anunciou a destruição histórica de Jerusalém no ano 70 d.C..
Nesse ponto o Santo Padre fez aí uma observação...
"A ameaça de juízo concerne
também a nós, à Igreja na Europa, à Europa e ao Ocidente em geral. Com esse Evangelho
o Senhor grita em nossos ouvidos as palavras que no Apocalipse dirigiu à Igreja de
Éfeso. "Arrepende-te, e retorna às tuas primeiras obras. Senão, virei a ti, e removerei
o teu candelabro do seu lugar, caso não te arrependas." Também a nós pode ser tirada
a luz, e fazemos bem se deixamos ressoar essa advertência em toda a sua seriedade
em nossa alma, gritando ao mesmo tempo ao Senhor: "Ajuda-nos a converter-nos! Doa
a todos nós a graça de uma verdadeira renovação!"."
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No
Angelus, após o término da santa missa, o Papa se dirigiu à multidão reunida na Praça
São Pedro, para explicar porque se quis dedicar um Sínodo a um tema "aparentemente
óbvio" como a Eucaristia. Porque, explicou ele, a doutrina católica que diz respeito
a tal mistério "requer que ele seja recebido, vivido e transmitido pela comunidade
eclesial de modo sempre novo e adequado aos tempos".
"A Eucaristia poderia
ser considerada também como uma "lente" através da qual se deve verificar continuamente
o rosto e o caminho da Igreja."
O Papa citou São Francisco Xavier e Santa Teresa
de Lisieux como exemplos de santos que, plasmados pela Eucaristia, testemunharam o
Evangelho tanto nos confins da terra como na clausura de um convento...
"Invoquemos
a proteção deles sobre os trabalhos sinodais, bem como a proteção dos Anjos da Guarda,
que hoje recordamos. Rezemos com confiança, sobretudo, à Bem-aventurada Virgem Maria
que, no próximo dia 7 veneraremos sob o título de Nossa Senhora do Rosário (...) Essa
antiga oração está tendo, graças a Deus, um providencial reflorescimento, graças também
ao exemplo e ao ensinamento do amado Papa João Paulo II. Convido vocês a relerem a
sua carta apostólica "Rosarium Virginis Mariae" e a colocarem em prática as indicações
em nível pessoal, familiar e comunitário." (RL)