Brasília, 29 set (RV) - Fr. Luís Flávio Cappio, Bispo diocesano de Barra (BA),
entra hoje no seu quinto dia de greve de fome, em Cabrobó, Pernambuco, região onde
o governo pretende construir uma das tomadas de água para a transposição do Rio São
Francisco. Com esse gesto, o Bispo pretende convencer o governo federal a rever a
decisão de implantar o projeto de transposição.
A decisão de Dom Luis de
fazer a grave foi anunciada no dia de Páscoa deste ano, com a declaração "Uma vida
pela vida". Nela, o Bispo dizia: "De livre e espontânea vontade, assumo o propósito
de entregar minha vida pela vida do rio São Francisco e de seu povo, contra o Projeto
de Transposição, a favor do Projeto de Revitalização. Permanecerei em "greve de fome"
até à morte, caso não haja uma reversão da decisão do Projeto de Transposição."
"A
greve de fome _ escreveu o Bispo _ só será suspensa mediante documento assinado pelo
Exmo. Sr. Presidente da República, revogando e arquivando o Projeto de Transposição.
"Quando a razão se extingue, a loucura é o caminho" _ concluía Dom Luis em sua carta.
Por
sua vez, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) enviou ontem uma carta
ao Bispo. Eis o texto da mesma...
"No momento em que você toma uma decisão
de extrema importância em sua vida, queremos assegurar-lhe a presença fraterna de
seus irmãos, bispos da Presidência e do Conselho Episcopal de Pastoral da CNBB" _
afirma o texto.
A mensagem assinada pela presidência da CNBB, pede também
"que Deus ilumine igualmente nosso governo e nossa sociedade, no encaminhamento de
uma solução mais partilhada e convergente, com relação às águas do rio São Francisco
e dos pobres do Nordeste".
Os bispos dizem ainda a Dom Luís Cappio que
"nossa oração é também para que você se mantenha aberto e disponível a novos dados
que possam sobrevir do Espírito e da comunidade eclesial, em vista de um constante
discernimento".
Dom Cappio, franciscano de 58 anos, está isolado na pequena
capela erguida na zona rural de Cabrobó.
Mas o que quer o governo com
o Projeto de Transposição?
Bombear parte da água do rio São Francisco _ cerca
de 1% da água que ele joga no mar _ para beneficiar moradores do semi-árido dos estados
de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, onde vivem 12 milhões de pessoas.
A obra vai custar R$ 4,5 bilhões.
O São Francisco é considerado o terceiro
maior rio do Brasil: possui 3.163 km de extensão e sua bacia possui 640 mil km2
de área, o que equivale a sete vezes o território de Portugal. (CM)