Comissões Justiça e Paz da Europa pedem melhores politicas de migração
A Conferência das Comissões Justiça e Paz da Europa (CCJPE) está em Portugal para
promover uma sessão de estudos dedicada ao tema “Trabalhadores Imigrantes à procura
de trabalho num mundo globalizado”.
A intenção é “pressionar os poderes políticos” da Europa a procurarem respostas para
a situação dos mais de 56 milhões de imigrantes que se encontram no Velho Continente.
A ratificação da Convenção Internacional para a Protecção dos Direitos dos Imigrantes
e das suas Famílias é o instrumento formal escolhido para levar por diante esta intenção.
O novo presidente da Conferência, D. Reinhard Marx, referiu este Domingo num encontro
com jornalistas que o compromisso das 29 comissões pela Justiça e a Paz passa, nos
próximos tempos, pelo “problema da migração, dos refugiados e dos requerentes de asilo”,
todos os que são obrigados a viver fora das suas fronteiras. O responsável alertou
que a organização católica “não é política, mas gostaria de influenciar os nossos
políticos para melhores decisões”.
Josef Bieger-Hänggi, antigo presidente da Conferência, referiu o problema das migrações
se relaciona com o da justiça social, sublinhando que o objectivo das 29 comissões
europeias é o de “criar a paz nas diversas situações de migração”. Nesse sentido,
cada uma das comissões nacionais é desafiada a envolver-se na acção pela defesa dos
direitos dos migrantes.
Para este responsável, os imigrantes são hoje confrontados com “mentalidades nacionalistas,
fundamentalismos, xenofobia e racismo”, o que exige um compromisso da Igreja na defesa
dos seus direitos e na mudança de comportamentos.
Cristina Sassaki, secretária da CCJPE, testemunhou esta situação com vivências pessoais
na Suíça. Esta norte-americana de origem asiática falou na “discriminação a partir
de uma base de privilégios e não-privilégios”, subordinada ao país de origem do migrante,
mesmo no caso das segundas e terceiras gerações.
De acordo com este testemunho, ainda choca que “uma pessoa de raça negra domine perfeitamente
o dialecto local”, como se a mentalidade secular fosse desafiada por quem acaba de
chegar.
Josef Bieger-Hänggi referiu que Portugal foi escolhido para acolher esta sessão de
estudos por ser um local privilegiado, onde ainda se vivem os fluxos de e para o resto
da Europa. “Este é um sítio onde se pode sentir o problema, onde ele vive de difíceis
e diferentes maneiras”, indicou.
Todos os anos as comissões do continente europeu reúnem-se em Assembleia-Geral e realizam
a sua Sessão de Estudos sobre um tema particularmente significativo no contexto da
justiça e da paz.
Este ano, o encontro terá lugar no Seminário da Torre da Aguilha, em Carcavelos, onde,
com a participação de diversos especialistas, as comissões europeias vão debater as
complexas relações entre imigração, trabalho e globalização. No final da Sessão de
Estudos, a Conferência definirá uma agenda para o trabalho local das comissões de
roda destas questões e votará o apelo à ratificação da Convenção Internacional para
a Protecção dos Direitos dos Imigrantes e das suas Famílias.
No seminário da Torre da Aguilha marca presença o novo Alto-Comissário para as Migrações
e Minorias Étnicas, Rui Marques, que com outros especialistas, partilhará perspectivas
sobre os efeitos da globalização em Portugal. Os migrantes em situação irregular,
o tráfico de seres humanos, a acção da Igreja em matéria de migrações e as perspectivas
de cada região da Europa estarão em cima da mesa, com o objectivo de coordenar acções
baseadas na legislação nacional e em convenções internacionais, como a Convenção Internacional
para a Protecção dos Direitos dos Imigrantes e das suas Famílias.
Pelos direitos dos migrantes
Sobre a importância da Convenção Internacional, o secretário-geral da Conferência,
Jorg Luer, frisou que é fundamental, num momento de crise na ONU; que se multipliquem
os esforços que visam trazer à vida internacional mais direitos.
O trabalho da CCJPE e das várias comissões nacionais será o de “colocar pressão” no
debate político relativo a este tema, nos vários países, denunciando as contradições
entre o discurso e a acção dos governantes.
Com o objectivo de fornecer orientações para uma resposta internacional para as complexas
situações envolvendo a imigração, a Convenção Internacional para a Protecção dos Direitos
dos Imigrantes e das suas Famílias foi proposta em 1990, para ter efeito em Julho
de 2003. Ela apela à prevenção e eliminação do abuso e da exploração dos trabalhadores
imigrantes, ao mesmo tempo que procura pôr termo ao problema da imigração clandestina.
Até hoje apenas 46 Estados ratificaram a Convenção. Destes, apenas três se podem considerar
integrados nas regiões do mundo que os imigrantes procuram como destino. A Europa
e a América do Norte estão, de modo indesculpável, ausentes da lista dos afirmam a
sua vontade de apoiar e proteger os trabalhadores imigrantes e as sua famílias.
A CCJPE quer comprometer a sua rede europeia no sentido de influenciar os líderes
europeus para que encarem seriamente a situação dos trabalhadores imigrantes e das
suas famílias, em consonância com os critérios internacionais propostos pela Nações
Unidas.
À presidência alemã, que agora assume a responsabilidade de animar a rede europeia
da Justiça e Paz caberá a tarefa de promover as questões da imigração na Europa, através
desta mesma rede das Comissões Nacionais Justiça e Paz.